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Renovação política sem fronteiras

Outros países querem saber como fizemos o Renova. Estamos prontos para compartilhar nossa experiência

PEC dos benefícios: medida reduzirá arrecadação dos municípios. (Ueslei Marcelino/Reuters)
PEC dos benefícios: medida reduzirá arrecadação dos municípios. (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Eduardo Mufarej

Publicado em 4 de dezembro de 2021 às, 14h34.

Por Irina Bullara e Eduardo Mufarej

Há quatro anos, quando o RenovaBR surgiu, buscávamos oferecer alternativas para o cenário brasileiro, e já era um desafio e tanto. Organizamos uma escola de política que procurava suprir as carências que enxergávamos: falta de representatividade (muitos políticos vinham de dinastias há muito desvinculadas dos melhores interesses do país), de transparência, de decisões baseadas em evidências e dados. O tempo nos mostrou que esses estavam longe de ser problemas apenas brasileiros. E que o Renova podia ter um papel muito além das nossas fronteiras.

Esse movimento começou meio timidamente, quando setores da sociedade civil de alguns países emergentes bateram na nossa porta. A princípio, representantes da Colômbia e do Paraguai quiseram saber como fazíamos: qual era o nosso critério para seleção? Como nos mantínhamos? Como definíamos o que ensinar em uma escola de política?

Explicamos nosso caráter de escola suprapartidária, pronta para acolher gente de todos os matizes ideológicos. Falamos do nosso objetivo de democratizar o conhecimento e qualificar de forma técnica e objetiva as lideranças. Falamos também do nosso propósito de contribuir para melhorar a representatividade na política, aumentando a participação de mulheres e negros nas turmas; no grupo de alunos selecionados para o biênio 2021/22, 44% são mulheres e 36% pretos ou pardos. Expusemos nossos resultados e nossas expectativas. Muitos se surpreendiam quando falávamos do salto que demos entre as eleições de 2018 e 2020 – na primeira, 18 ex-alunos se elegeram, e na segunda, 154, um aumento notável.

Tantas consultas nos mostraram que o Renova tinha muito a dizer. Que, se há tantas realidades quanto países, algumas dores são idênticas. Nossas soluções podem ser adaptadas e devolver esperança a lugares onde a política, como no Brasil, tinha virado um desapontamento, um setor da vida nacional do qual só se podia esperar cinismo e corrupção.

No último ano, compartilhamos nossa expertise com grupos da Nicarágua, México, França, Portugal, Quênia e Vaticano. Vaticano? Sim, emissários do Papa Francisco procuraram a equipe do Renova quando decidiram criar uma escola de liderança e democracia na cidade-Estado. “Conhecemos o RenovaBR graças à notoriedade que ganhou na imprensa internacional nos últimos tempos”, nos disse Juan Maquieyra, diretor da escola Fratelli Tutti, no Vaticano. “Ficamos profundamente emocionados com o impacto que está tendo na renovação política no Brasil.”

Fazia alguns anos que nós, brasileiros, não exportávamos bons exemplos. Na política, isso era ainda menos imaginável. As manchetes sobre o país que dominavam o noticiário internacional mencionavam desmatamento, corrupção, desequilíbrio fiscal afetando a nossa reputação e a atração de investimentos. Por outro lado, entendemos que o Brasil é muito mais do que isso e pode ser sim um hub de inovação e soluções para o mundo.  Temos muito orgulho de que o Renova contribua para transmitir uma mensagem positiva de quem somos e do que conseguimos realizar.

Podemos “exportar” a ideia de uma rede que dissemine valores tão em falta na política: um diálogo que se afaste da polarização e se desloque na direção de objetivos comuns. A atitude ética que promove a redução da desigualdade. O império dos dados e das evidências norteando as decisões da política. Há um provérbio africano que resume nossa jornada improvável, à qual, agora, outros estão se juntando: “Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo”.