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A fábula da carta branca no governo

A situação dos ministros Moro e Guedes lembra a história do sapo

Paulo Guedes e Sérgio Moro (Montagem de EXAME com fotos de Sérgio Moraes e Rodolfo Buhrer/Reuters)
Paulo Guedes e Sérgio Moro (Montagem de EXAME com fotos de Sérgio Moraes e Rodolfo Buhrer/Reuters)
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David Cohen

Publicado em 4 de março de 2019 às, 11h23.

Estava o sapo na beira do lago, observando a paisagem, mas preso por uma corda ao seu canto. Então chegou o escorpião, e lhe disse: “sapo, eu vou cortar essa corda, você me leva até o outro lado do lago?”. E o sapo respondeu: “você acha que eu sou bobo, escorpião? Assim que eu deixar você subir em mim, vou levar uma ferroada.”

E o escorpião então disse que isso era uma bobagem, que ele não era bobo, que sabia que sem o sapo não conseguiria fazer a travessia. E que, se o picasse, morreriam os dois. Para tranquilizá-lo ainda mais, disse: “olha, sapo, tem um outro sapo ali naquele outro canto do lago, amarrado a outra corda; vou fazer o seguinte, liberto os dois, e sigo a travessia com quatro patas nas costas de um, quatro patas nas costas do outro”.

Os dois sapos toparam. Na verdade, um dos sapos estava havia tanto tempo preso em sua corda que foi ele quem propôs ao escorpião a sociedade. Mas isso importa pouco agora. A essa altura da história, o escorpião está já em cima dos dois sapos, ora com o peso nas costas de um, ora com o peso nas costas de outro. Estão ainda no começo da travessia. No entanto, o escorpião já deu várias alisadas nas peles dos dois sapos – como se estivesse experimentando, ainda sem coragem de cometer a picada suicida, mas cada vez mais tentado. Afinal, é da sua natureza.

E nós aqui, torcendo pelos sapos.