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A chance de Haddad contra Bolsonaro no segundo turno

Para vencer, Bolsonaro só precisa continuar não sendo Bolsonaro. Para Haddad, é necessário deixar de ser Haddad

HADDAD VOTA EM SÃO PAULO: perder agora para construir uma possível vitória lá na frente é mais lucrativo do que vencer sem levar os frutos da vitória (Ueslei Marcelino/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2018 às 17h17.

Última atualização em 8 de outubro de 2018 às 19h10.

Não é que a eleição esteja decidida. Mas o que Jair Bolsonaro precisa fazer, para confirmar sua vitória no segundo turno, é o mínimo, enquanto Fernando Haddad precisaria fazer mais do que o máximo.

Não é que o mínimo seja assim tão fácil. Bolsonaro venceu, em grande parte, por tudo o que ele não é. Não é o PT, principalmente. Mas também não é político (ou pelo menos assim foi percebido, apesar de uma carreira de três décadas no Congresso), não é da elite, não tem opiniões sobre economia.

Conseguiu viver, até agora, no campo dos mitos. Alheio, alienado, além da realidade. Não lhe será tão fácil manter-se assim. Certamente não conseguirá fazê-lo por quatro anos. Mas não precisa aguentar ser mito por quatro anos, bastam-lhe 20 dias.

Para Haddad, o máximo seria açambarcar todos os votos contra Bolsonaro. Supor que a rejeição ao rival seja maior que a ele. Seria unir as forças “democráticas”, fazendo-as apoiar um projeto que não é assim tão democrático (entre o desejo de convocar uma Constituinte sem os atuais eleitos ou simplesmente tomar o poder, à moda preconizada por José Dirceu).

Mesmo isso não lhe garantiria os votos simpatizantes dos gigantes nanificados e dos nanicos que cresceram: os eleitores de Marina Silva, Geraldo Alckmin, João Amoêdo, Álvaro Dias. Haddad precisaria fazer mais do que o máximo.

Precisaria convencer a população não apenas que seu opositor representa um atraso maior que ele. Precisaria tornar-se um símbolo convincente da democracia. Como fazer isso, com um discurso que solapa a solidez das instituições democráticas (a imprensa tendenciosa, a Justiça enviesada)?

Para construir de verdade um arco de alianças, para mudar a eleição do patamar de plebiscito sobre o PT para o patamar de plebiscito sobre o ex-capitão Bolsonaro, Haddad precisaria tomar algumas atitudes drásticas:

– refazer uma carta aos brasileiros, colocando o PT de volta no rumo da moderação;

– propor um governo de coalizão, não apenas um endosso ao PT;

– para dar credibilidade ao seu governo de coalizão, teria de anunciar uma ampla distribuição de cargos a seus rivais, acatando teses do amplo arco de partidos que pretende atrair;

– fazer um mea culpa das posições intransigentes de seu partido, que ajudaram a levar o país ao atual estágio de polarização política;

Em resumo, para ter mais chances de vitória Haddad teria que deixar de ser Haddad; o PT, deixar de ser PT. Este é o verdadeiro significado de uma fusão de ideias. Seria uma espécie de aceitação da morte, para poder viver.

A melhor chance de evitar um governo Bolsonaro seria abdicar de um governo Haddad.

Este cenário, obviamente, não vai acontecer. Para o PT, é melhor manter sua identidade e esperar por uma reviravolta que lhe traga ventos novamente favoráveis, no futuro. Perder agora para construir uma possível vitória lá na frente é mais lucrativo do que vencer sem levar os frutos da vitória.

E isso sem considerar que, para os demais, aliar-se ao PT é um jogo igualmente perigoso. Arriscam não ter discurso para as futuras disputas.

Segundos turnos costumam levar os contendores a buscar o centro, a moderar-se. Mas Bolsonaro não precisa fazê-lo; e, para Haddad, a tarefa é hercúlea.

*David Cohen é editor-executivo de EXAME

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Não é que a eleição esteja decidida. Mas o que Jair Bolsonaro precisa fazer, para confirmar sua vitória no segundo turno, é o mínimo, enquanto Fernando Haddad precisaria fazer mais do que o máximo.

Não é que o mínimo seja assim tão fácil. Bolsonaro venceu, em grande parte, por tudo o que ele não é. Não é o PT, principalmente. Mas também não é político (ou pelo menos assim foi percebido, apesar de uma carreira de três décadas no Congresso), não é da elite, não tem opiniões sobre economia.

Conseguiu viver, até agora, no campo dos mitos. Alheio, alienado, além da realidade. Não lhe será tão fácil manter-se assim. Certamente não conseguirá fazê-lo por quatro anos. Mas não precisa aguentar ser mito por quatro anos, bastam-lhe 20 dias.

Para Haddad, o máximo seria açambarcar todos os votos contra Bolsonaro. Supor que a rejeição ao rival seja maior que a ele. Seria unir as forças “democráticas”, fazendo-as apoiar um projeto que não é assim tão democrático (entre o desejo de convocar uma Constituinte sem os atuais eleitos ou simplesmente tomar o poder, à moda preconizada por José Dirceu).

Mesmo isso não lhe garantiria os votos simpatizantes dos gigantes nanificados e dos nanicos que cresceram: os eleitores de Marina Silva, Geraldo Alckmin, João Amoêdo, Álvaro Dias. Haddad precisaria fazer mais do que o máximo.

Precisaria convencer a população não apenas que seu opositor representa um atraso maior que ele. Precisaria tornar-se um símbolo convincente da democracia. Como fazer isso, com um discurso que solapa a solidez das instituições democráticas (a imprensa tendenciosa, a Justiça enviesada)?

Para construir de verdade um arco de alianças, para mudar a eleição do patamar de plebiscito sobre o PT para o patamar de plebiscito sobre o ex-capitão Bolsonaro, Haddad precisaria tomar algumas atitudes drásticas:

– refazer uma carta aos brasileiros, colocando o PT de volta no rumo da moderação;

– propor um governo de coalizão, não apenas um endosso ao PT;

– para dar credibilidade ao seu governo de coalizão, teria de anunciar uma ampla distribuição de cargos a seus rivais, acatando teses do amplo arco de partidos que pretende atrair;

– fazer um mea culpa das posições intransigentes de seu partido, que ajudaram a levar o país ao atual estágio de polarização política;

Em resumo, para ter mais chances de vitória Haddad teria que deixar de ser Haddad; o PT, deixar de ser PT. Este é o verdadeiro significado de uma fusão de ideias. Seria uma espécie de aceitação da morte, para poder viver.

A melhor chance de evitar um governo Bolsonaro seria abdicar de um governo Haddad.

Este cenário, obviamente, não vai acontecer. Para o PT, é melhor manter sua identidade e esperar por uma reviravolta que lhe traga ventos novamente favoráveis, no futuro. Perder agora para construir uma possível vitória lá na frente é mais lucrativo do que vencer sem levar os frutos da vitória.

E isso sem considerar que, para os demais, aliar-se ao PT é um jogo igualmente perigoso. Arriscam não ter discurso para as futuras disputas.

Segundos turnos costumam levar os contendores a buscar o centro, a moderar-se. Mas Bolsonaro não precisa fazê-lo; e, para Haddad, a tarefa é hercúlea.

*David Cohen é editor-executivo de EXAME

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