Relacionamentos saudáveis no mundo do trabalho híbrido
A realidade desafiadora da mulher na pandemia torna mais necessário um olhar às suas relações afetivas, fundamental para a segurança, saúde e produtividade
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2021 às 09h00.
Última atualização em 15 de junho de 2021 às 17h24.
Por Daniela Grelin
Ainda é cedo no Brasil para fazermos previsões mais precisas sobre o ambiente de trabalho pós-pandêmico. Mas para aqueles países que já avançaram na superação da COVID-19 , percebemos que o retorno ao trabalho presencial, embora uma possibilidade cada vez mais segura, dá lugar à transição para o mundo do trabalho híbrido.
Um crescente conjunto de pesquisas [1] , em especial um estudo citado no relatório especial da The Economist ‘The Rise of Working from Home’, revela que milhares de americanos entrevistados preferem trabalhar de casa, pelo menos 50% do tempo. Ainda que os empregadores sejam mais resistentes à tendência, a experiência pandêmica mostrou que, na maioria dos casos, os colaboradores trabalham mais horas e preferem fazê-lo remotamente, pelo menos em uma boa parte da semana. O mundo do trabalho híbrido, ao que tudo indica, veio para ficar. O ambiente doméstico, tornou-se cada vez mais o ambiente de trabalho. Em outras palavras, a casa e os relacionamentos familiares, com seus muitos desafios, tornaram-se, inevitavelmente, alvo de atenção das empresas, amenizando a tendência de esquecimento do óbvio: que os profissionais são, antes de tudo, pessoas.
Para muitas mulheres, esta nova realidade vem acompanhada de desafios adicionais. A sobrecarga física e mental parece ser uma condição crônica feminina, em que elas são responsáveis por diversas tarefas “invisíveis” nos ambientes familiares e profissionais. Na pandemia, com o isolamento social e o fechamento de escolas, por exemplo, o agravamento desse quadro é bastante relevante. Portanto, muito poderia ser dito sobre a economia do cuidado, sobre as dificuldades de conciliação das responsabilidades com os filhos e as demandas profissionais, mas neste mês dos namorados quero me aprofundar em um aspecto crítico: como os relacionamentos saudáveis são fundamentais para a segurança física, a saúde emocional e a produtividade das pessoas e das empresas. Para compreender melhor esta correlação, aprofundemos o nosso olhar sobre o mesmo espaço em que se conduz o trabalho e se convive com os íntimos: a casa. Deliberadamente escolho a palavra ‘casa’ e não ‘lar’, pois sabemos que metade (48,8%) [2] das violências sofridas pelas mulheres em 2020, ocorreu exatamente ali, naquele espaço físico em que deveriam sentir-se mais seguras. O mesmo estudo aponta que 44,4% das mulheres entrevistadas viveram momentos de mais estresse em casa durante a crise pandêmica, período em que a cada minuto, oito mulheres foram vítimas de violência física no Brasil, sendo que as mulheres mais jovens, justamente em idade economicamente ativa, são mais duramente atingidas. Neste contexto, não são só as separações geográficas que foram perdendo a nitidez. As separações de responsabilidades entre empregadores e empregados na promoção de um ambiente de trabalho híbrido seguro também foram progressivamente se justapondo.
Este fenômeno que ainda deverá suscitar revisões e ajustes na legislação trabalhista, já convoca os gestores a alçar um novo patamar em termos de comunicação, cuidado com as pessoas e promoção de relacionamentos saudáveis, na esfera profissional e familiar. Diante disso, quais os recursos à disposição dos líderes de pessoas? Arranjos inovadores, no Brasil e na Europa, têm endereçado este desafio. No Brasil, a Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas [3] , liderada pelo Instituto Avon, ONU Mulheres e Fundação Dom Cabral, congrega 133 empresas signatárias para acelerar o aprendizado, intensificar a troca de experiências e compartilhar recursos pela promoção do ambiente de trabalho livre de violência contra mulheres, pelo acolhimento e encaminhamento das colaboradoras vítimas de violência e mobilização das respectivas cadeias de valor para fazerem o mesmo. A agenda da coalizão compreende uma jornada de capacitação de líderes, plantões para troca de experiências e esclarecimentos de dúvidas. Na Europa, a Kering Foundation, iniciativa fundada por François-Henri Pinault, também dedicada ao enfrentamento da violência contra mulheres, desenvolve iniciativas de fomento a parcerias, sistematização e troca de práticas eficazes para o mesmo fim. Fundada em 2018, a ‘One In Three Women’ [4] , encoraja outras empresas europeias a atuarem como um espaço de apoio para a colaboradora em situação de violência por meio da troca de experiências, material de promoção de conscientização, treinamentos, políticas corporativas e aprendizado online.
Estamos inseridos nesse contexto e não podemos nos furtar da responsabilidade que esse momento histórico nos impõe enquanto profissionais e, sobretudo, cidadãos. Somos co-arquitetos deste novo mundo do trabalho híbrido. Implicar as lideranças e as empresas na priorização das necessidades prementes de 50% do pool de talentos, do mercado consumidor e de 100% das famílias demandadas na tarefa de gerar valor compartilhado é uma oportunidade. A falha em reconhecê-la não passaria impune na construção de capital reputacional sólido e longevo.
Por Daniela Grelin
Ainda é cedo no Brasil para fazermos previsões mais precisas sobre o ambiente de trabalho pós-pandêmico. Mas para aqueles países que já avançaram na superação da COVID-19 , percebemos que o retorno ao trabalho presencial, embora uma possibilidade cada vez mais segura, dá lugar à transição para o mundo do trabalho híbrido.
Um crescente conjunto de pesquisas [1] , em especial um estudo citado no relatório especial da The Economist ‘The Rise of Working from Home’, revela que milhares de americanos entrevistados preferem trabalhar de casa, pelo menos 50% do tempo. Ainda que os empregadores sejam mais resistentes à tendência, a experiência pandêmica mostrou que, na maioria dos casos, os colaboradores trabalham mais horas e preferem fazê-lo remotamente, pelo menos em uma boa parte da semana. O mundo do trabalho híbrido, ao que tudo indica, veio para ficar. O ambiente doméstico, tornou-se cada vez mais o ambiente de trabalho. Em outras palavras, a casa e os relacionamentos familiares, com seus muitos desafios, tornaram-se, inevitavelmente, alvo de atenção das empresas, amenizando a tendência de esquecimento do óbvio: que os profissionais são, antes de tudo, pessoas.
Para muitas mulheres, esta nova realidade vem acompanhada de desafios adicionais. A sobrecarga física e mental parece ser uma condição crônica feminina, em que elas são responsáveis por diversas tarefas “invisíveis” nos ambientes familiares e profissionais. Na pandemia, com o isolamento social e o fechamento de escolas, por exemplo, o agravamento desse quadro é bastante relevante. Portanto, muito poderia ser dito sobre a economia do cuidado, sobre as dificuldades de conciliação das responsabilidades com os filhos e as demandas profissionais, mas neste mês dos namorados quero me aprofundar em um aspecto crítico: como os relacionamentos saudáveis são fundamentais para a segurança física, a saúde emocional e a produtividade das pessoas e das empresas. Para compreender melhor esta correlação, aprofundemos o nosso olhar sobre o mesmo espaço em que se conduz o trabalho e se convive com os íntimos: a casa. Deliberadamente escolho a palavra ‘casa’ e não ‘lar’, pois sabemos que metade (48,8%) [2] das violências sofridas pelas mulheres em 2020, ocorreu exatamente ali, naquele espaço físico em que deveriam sentir-se mais seguras. O mesmo estudo aponta que 44,4% das mulheres entrevistadas viveram momentos de mais estresse em casa durante a crise pandêmica, período em que a cada minuto, oito mulheres foram vítimas de violência física no Brasil, sendo que as mulheres mais jovens, justamente em idade economicamente ativa, são mais duramente atingidas. Neste contexto, não são só as separações geográficas que foram perdendo a nitidez. As separações de responsabilidades entre empregadores e empregados na promoção de um ambiente de trabalho híbrido seguro também foram progressivamente se justapondo.
Este fenômeno que ainda deverá suscitar revisões e ajustes na legislação trabalhista, já convoca os gestores a alçar um novo patamar em termos de comunicação, cuidado com as pessoas e promoção de relacionamentos saudáveis, na esfera profissional e familiar. Diante disso, quais os recursos à disposição dos líderes de pessoas? Arranjos inovadores, no Brasil e na Europa, têm endereçado este desafio. No Brasil, a Coalizão Empresarial pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas [3] , liderada pelo Instituto Avon, ONU Mulheres e Fundação Dom Cabral, congrega 133 empresas signatárias para acelerar o aprendizado, intensificar a troca de experiências e compartilhar recursos pela promoção do ambiente de trabalho livre de violência contra mulheres, pelo acolhimento e encaminhamento das colaboradoras vítimas de violência e mobilização das respectivas cadeias de valor para fazerem o mesmo. A agenda da coalizão compreende uma jornada de capacitação de líderes, plantões para troca de experiências e esclarecimentos de dúvidas. Na Europa, a Kering Foundation, iniciativa fundada por François-Henri Pinault, também dedicada ao enfrentamento da violência contra mulheres, desenvolve iniciativas de fomento a parcerias, sistematização e troca de práticas eficazes para o mesmo fim. Fundada em 2018, a ‘One In Three Women’ [4] , encoraja outras empresas europeias a atuarem como um espaço de apoio para a colaboradora em situação de violência por meio da troca de experiências, material de promoção de conscientização, treinamentos, políticas corporativas e aprendizado online.
Estamos inseridos nesse contexto e não podemos nos furtar da responsabilidade que esse momento histórico nos impõe enquanto profissionais e, sobretudo, cidadãos. Somos co-arquitetos deste novo mundo do trabalho híbrido. Implicar as lideranças e as empresas na priorização das necessidades prementes de 50% do pool de talentos, do mercado consumidor e de 100% das famílias demandadas na tarefa de gerar valor compartilhado é uma oportunidade. A falha em reconhecê-la não passaria impune na construção de capital reputacional sólido e longevo.