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QUAL A ESCOLA QUE QUEREMOS?

Grande ironia, foi justamente a Internet a principal arma utilizada pelos jovens para planejar, comunicar, engajar e disseminar as ordens que partiam dos líderes do movimento No último dia 6, após 55 dias desde o início do movimento, os estudantes da Escola Estadual Fernão Dias, de São Paulo, encerraram a ocupação que tinha como principal bandeira convencer a Secretaria de Educação a voltar atrás na decisão de transferir milhares de […] Leia mais

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Crescer em Rede

Publicado em 11 de janeiro de 2016 às, 10h22.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h48.

Grande ironia, foi justamente a Internet a principal
arma utilizada pelos jovens para planejar, comunicar, engajar
e disseminar as ordens que partiam dos líderes do movimento

No último dia 6, após 55 dias desde o início do movimento, os estudantes da Escola Estadual Fernão Dias, de São Paulo, encerraram a ocupação que tinha como principal bandeira convencer a Secretaria de Educação a voltar atrás na decisão de transferir milhares de alunos e fechar escolas. Primeira das 196 escolas que foram tomadas, a Fernão Dias virou símbolo da luta dos alunos por uma educação de qualidade e revelou uma capacidade de mobilização com a qual certamente o Governo não contava.

Sem entrar no mérito da questão e na estratégia de guerrilha adotada, que em alguns casos gerou atos condenáveis de vandalismo, a vitória conquistada até aqui foi grandiosa e merece aplausos. Afinal, é digna de reconhecimento qualquer manifestação que busque a melhoria do ensino e da estrutura educacional. Em defesa da educação, os estudantes fizeram sacrifícios, foram resistentes, organizados e chegaram a passar o Natal e o réveillon longe de casa.

A descoberta de que, juntos, conseguem influenciar decisões de gestão pública com as quais discordam trouxe, é claro, um grande aprendizado político aos estudantes. E foi um forte tapa na cara dos que acusam ser esta a geração nem-nem (nem estuda e nem trabalha), uma moçada alienada formada por adolescentes incapazes de caminhar com as próprias pernas e que não sabem fazer outra coisa a não ser ficar grudados nos smartphones e nas redes sociais.

Pois é. Grande ironia, foi justamente a Internet a principal arma utilizada pelos jovens para planejar, comunicar, engajar e disseminar as ordens que partiam dos líderes do movimento e que rapidamente viralizavam entre os manifestantes através das páginas do Facebook e de apps como o WhatsApp. Enquanto o Governo tentava desocupar as escolas com o uso da força, os estudantes fizeram dos celulares uma arma poderosa para vencer a principal batalha: a da informação.

Em um dos vídeos, os manifestantes fizeram um tutorial de como gravar as manifestações e evitar a abordagem policial usando o celular para se defender. Pelas redes sociais, distribuíram um manual de ocupação com instruções de como organizar as comissões responsáveis pela operação do movimento.

Com quase 160 mil seguidores, a página no Facebook “Não Fechem Minha Escola”, continua ativa e agora convoca os estudantes a gritarem contra o aumento das tarifas do transporte público, uma prova de que continuarão não dando descanso aos governantes nas redes sociais e nas ruas.

Em muitos momentos na história do Brasil e de vários outros países os estudantes tiveram papel fundamental na transformação social e no comando de revoluções que resultaram no florescer da democracia. Mas nunca uma geração esteve tão bem armada para lutar por seus direitos. Não com armas de fogo, mas com recursos tecnológicos que, ironicamente, muitos educadores ainda não sabem muito bem como lidar e chegam até mesmo a proibir a utilização com fins pedagógicos.

Após a desocupação, os estudantes têm declarado que os professores estão mais abertos ao diálogo e criaram espaços para discussões de como melhorar o ensino. As carteiras foram organizadas em círculos, e não em fileiras, possibilitando uma maior aproximação com os alunos e tornando a relação mais humana. Com o trabalho feito pelos alunos durante a ocupação na Fernão Dias, agora as salas de aula, banheiros, cozinha e biblioteca estão limpos e em melhores condições. Um mural foi instalado para que os alunos possam afixar sugestões.

Em entrevista ao UOL, a estudante Marcela Nogueira diz que para o futuro do movimento “agora a ideia é articular as pautas entre os secundaristas, buscando a melhoria da educação como um todo” e reforça qual a pergunta fundamental: “Qual a escola que nós queremos?”. “A gente quer sentar em roda ou enfileirado como num quartel?”

Se havia alguma dúvida da capacidade desta galera fazer e acontecer aparelhada pela tecnologia, as manifestações em São Paulo desvendaram o que já era óbvio, mas ainda ignorado pelos que insistem em manter a escola no mesmo formato arcaico e com uma estrutura inapropriada para jovens prontos para mudar o mundo sem precisar apertar o gatilho, mas disparando um certeiro zapzap.