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Alô, professor, sua aula é muito importante para nós

Em meu último post analisei os resultados de uma pesquisa que conduzi para avaliar como os conceitos de BYOD (Bring Your Own Device) e Cloud Computing estão impactando modelos educacionais e como as escolas estão inserindo as novas tecnologias em processos de aprendizagem colaborativa. O texto gerou bastante polêmica e comentários de gestores e professores nas redes sociais, em sua grande maioria favoráveis, e alguns contrários, à adoção de equipamentos […] Leia mais

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Crescer em Rede

Publicado em 15 de junho de 2015 às, 15h59.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h01.

Em meu último post analisei os resultados de uma pesquisa que conduzi para avaliar como os conceitos de BYOD (Bring Your Own Device) e Cloud Computing estão impactando modelos educacionais e como as escolas estão inserindo as novas tecnologias em processos de aprendizagem colaborativa.

O texto gerou bastante polêmica e comentários de gestores e professores nas redes sociais, em sua grande maioria favoráveis, e alguns contrários, à adoção de equipamentos como smartphones e tablets no dia a dia da sala de aula.

Um estudo realizado pela London School of Economics divulgado em maio e que teve repercussão na mídia no Brasil na semana passada ajudou a intensificar o debate ao concluir que alunos das escolas britânicas que proibiram o uso de celulares alcançaram notas até 14% melhores nas provas, especialmente entre aqueles estudantes com conceitos mais baixos.

Intitulado “Tecnologia, distração e desempenho de estudantes”, entre outros dados o estudo indicou que o banimento dos celulares resultou em avaliações melhores principalmente entre os estudantes na faixa etária de 7 a 11 anos com aproveitamento inferior a 60% nas provas, mas para os demais, vale ressaltar, não promoveu nenhuma mudança.

Mas será que o problema da distração dos alunos está relacionado à disponibilidade do celular ou à estratégia de ensino que não os engaja mais na aprendizagem? Simplesmente ignorar que as novas tecnologias estão aí e são parte da vida dos estudantes desde a primeira infância é o melhor caminho?

Não seria mais alinhado com os novos tempos definir estratégias de aprendizagem capazes de motivar e envolver os alunos ao invés de coibi-los de usar ferramentas que oferecem inúmeros recursos pedagógicos? Se nas aulas de Ciências no laboratório os alunos podem usar o microscópio para ver uma célula, qual o motivo de proibir que usem o celular na aula de Geografia para ver mapas, na aula de História para ver vídeos ou na de Inglês para checar a pronúncia e a grafia de uma palavra?

Para quem não está mergulhado no universo escolar e ainda não despertou para o nascimento de uma nova geração de estudantes, proibir parece ser a decisão mais fácil. Mas não necessariamente a mais sábia. Está tramitando na Câmara dos Deputados um projeto de lei que poderá vetar o uso de celulares nas salas de aula das escolas brasileiras. O autor do projeto, deputado Alceu Moreira, argumenta que “permitir que os alunos tenham contato com o celular durante a explicação é como deixá-los conversar livremente”.

Este parece ser mesmo o maior pavor dos educadores: dar autonomia aos alunos para que deixem de ser passivos e submissos para passarem a buscar o próprio aprendizado, o que, dentro de uma visão deturpada, significaria tirar totalmente a autoridade do professor, até aqui o único detentor do conhecimento.

Sim, professores e professoras. Os senhores e senhoras não são mais os donos da bola. Se quiserem ganhar este jogo terão que se despir das vestes de mestres para assumir o papel de moderadores, participar e orientar seus alunos em uma jornada de aprendizagem na qual o celular, o tablet, o laptop, softwares e apps serão tão somente um recurso à disposição como já são, há muito tempo, os livros didáticos, o globo terrestre, os vídeos educacionais, o microscópio ou a argila nas aulas de artes.

Se os celulares estivem disponíveis para que sejam utilizados livremente, sem nenhuma orientação ou regra, a distração certamente tomará conta da aula e os alunos perderão o foco do aprendizado. Agora, se por outro lado os estudantes forem estimulados a transformar seus próprios celulares em aliados do ensino, com normas claras de como serão aplicados nos estudos, certamente suas performances poderão alcançar resultados positivos, o que não se avalia simplesmente aplicando provas a cada bimestre, mas acompanhando de forma contínua e personalizada a evolução de cada aluno.

Para quem insiste em achar que esta ainda é uma realidade distante e que o celular será um inimigo do aprendizado, deixando os alunos mais distraídos e desconectados da sala de aula, sugiro que vasculhem os milhares de aplicativos já disponíveis para Windows Phone, Android e iOs.

Seja qual for a disciplina, há muito o que explorar, como jogos, editores de texto, ferramentas para produção de áudio e vídeo, objetos de aprendizagem em 3D, livros digitais, dicionários e muitos outros recursos para tornar as aulas mais divertidas e convidativas. Ou então não reclame quando tentar dialogar com seus alunos e só der sinal de ocupado.