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Blockchain, sustentabilidade e a sua vida

Entenda o papel da tecnologia blockchain em um mundo que busca reduzir a emissão de CO2 e ter um desenvolvimento econômico mais sustentável

Webinar que aconteceu nesta quarta-feira debateu meios para combinar crescimento e preservação (Roman Synkevych/Divulgação)
LJ

Lucas Josa

Publicado em 7 de abril de 2021 às 17h30.

Quem poderá se salvar dos impactos negativos da mudança climática? Ninguém. Quem se deu conta do problema corre para tentar evitar esse que o Global Report Risk 2021 do World Economic Forum (WEF) classifica como um dos maiores riscos catastróficos que temos pela frente. E nessa corrida, as tecnologias 4.0, incluindo blockchain, são vistas como aliadas importantes para evitar o pior e colocar o planeta numa rota de crescimento sustentável.

Dois dos entusiastas do uso de tecnologias 4.0 para a sustentabilidade são os irmãos ambientalistas, pesquisadores e brasileiros Carlos Nobre e Ismael Nobre. Em 2020, quando a Amazônia ardia e batia o desesperador recorde de queimadas, Carlos voltou a lembrar que a blockchain poderia evitar a destruição da floresta. Sua proposta é a seguinte: temos de nos tornar uma bioeconomia “ aliando o conhecimento de nossa biodiversidade às possibilidades da indústria 4.0 ”. Como o setor industrial está cada vez mais interessado no que a Amazônia tem a oferecer para sua produção – como matérias-primas para medicamentos e cosméticos -, então é hora de aproveitar isso da forma correta e com ganhos para as comunidades da região.

Por isso, os Nobre criaram o projeto Amazônia 4.0 que, dentre várias ações, inclui o biobanco da Amazônia. O biobanco usará blockchain e deve entrar em operação em 2022. Nele, ficará armazenado o sequenciamento genômico de espécies da floresta, ou o DNA. Tudo ficará registrado e guardado nos blocos. Assim, será possível ter um registro permanente e seguro e um controle de onde vêm e para onde vão as informações, garantindo a propriedade intelectual dos dados. Assim, também ajudará a resolver outro problema, o da biopirataria.

O Brasil tem tudo para fazer isso e se tornar um exemplo global de economia que alia, de forma amigável, negócios, tecnologia e meio ambiente. Mas para ser o primeiro, precisa correr. Isso porque a União Europeia (EU) também está indo por esse caminho da bioeconomia. O bloco lançou o European Green Deal (Acordo Verde Europeu) no final de 2019. “É, por um lado, sobre reduzir emissões (de CO2), mas por outro, é sobre gerar empregos e dar impulso às inovações", disse a presidente da UE, Ursula von der Leyen.

E para que a UE atinja suas metas, que inclui ser neutra em emissão de gases de efeito estufa até 2050, uma saída é usar blockchain para fazer um inventário de tudo o que há nos 182 milhões de hectares de florestas do bloco e registrá-lo em blockchain permissionada, diz Louisa Bartosek, diretora de comunicação do 2030 Group. O grupo vende soluções em blockchain. A sugestão pode até ser uma propaganda de sua empresa, mas Louisa tem um ponto importante: “os países poderão medir os resultados de diversos experimentos, inovações e políticas. Poderão compartilhar conhecimento sem precisar pedir e esperar pelos relatórios individuais dos países. Isso trará uma economia de tempo e dinheiro”. E como a rede é descentralizada, os dados não ficarão na sede da UE em Bruxelas, mas com os donos das florestas, que dariam autorização para outros verem as informações.

Isso tudo pode desembocar na chamada bioindústria e na inovação que vem da floresta sem destruí-la, mas preservando-a. Claramente não temos nem ideia de todo o potencial das florestas pelo mundo. Se conseguimos ter vacinas contra o coronavírus em menos de um ano de pesquisa, em parte isso aconteceu porque houve uma troca frenética de conhecimento entre os cientistas. Então, imagine só como mudará a visão que os desmatadores e indiferentes terão sobre a floresta quando forem vistas como locais de inovação e de se fazer dinheiro, desde que as árvores existam em pé.

E olha que se há um momento na história do mundo em que pode haver dinheiro para isso é bem agora. Os investidores estão cada vez mais aceitando aplicar em preservação e em uso sustentável das florestas. Com a adoção de ESG (Environment, Social and Governance) – ou ASG em português -, o setor financeiro topa colocar parte de seus recursos em investimentos que pagam rendimentos menores, desde que sejam aplicados em causas relacionadas a ESG. Como isso não é uma moda, mas algo que veio para ficar, estão dadas as chances de criar oportunidades de investimentos baseados em blockchain para dar maior transparência e segurança ao investidor.

Na outra ponta, a da floresta, pense no dono de uma área que descobre que ganha mais vendendo árvore certificada e rastreada com blockchain, ou ainda, que pode gerar uma renda sustentável por meio de tokens só porque tem árvores. Será que ele não vai pensar duas vezes antes de desmatar tudo e criar gado ou cana? A junção de ESG e dos criptoativos, embaladas em blockchain, podem dar uma grande resposta à mazela ambiental em que vivemos.

É por isso tudo que já temos visto surgir instrumentos como o token MCO2, da Moss, que digitaliza crédito de carbono de 1 milhão de hectares de floresta amazônica. A empresa pega o dinheiro e investe em projetos sustentáveis na região, que por sua vez compensam carbono e assim, geram o token, que é o que você “leva para casa”, ou melhor, para sua carteira digital. Assim, cria-se um cinturão anti-desmatamento, diz o criador do token, Luiz Felipe Adaime. Quem compra o token tem a certeza, diz ele, que comprou mesmo o crédito de carbono e que o dinheiro vai para o projeto, porque blockchain dá uma transparência desses dados. São projetos que vêm na esteira de outros do mercado financeiro tradicional como os títulos verdes emitidos por empresas e que só crescem no mundo e aqui.

Um outro projeto brasileiro é o da Amazonascoin, uma criptomoeda utilizada para arrecadar recursos a serem usados em projetos na Amazônia. A moeda faz parte de um projeto do Instituto Nacional de Excelência em Políticas Públicas (INEPP) para preservação da Amazônia, e que inclui, por exemplo, o lançamento de um token, o ZCO2.

Porém, se a questão é proteger o meio-ambiente e criar uma economia sustentável, temos de nos lembrar de outras ações com blockchain, como as que buscam garantir o descarte correto de produtos. A startup brasileira Eureciclo é uma das que trabalha com a tecnologia em logística reversa.

Mas nem tudo são flores no mundo blockchain. É bom lembrar que há cada vez mais críticas ao alto uso de energia na mineração de criptomoedas e na criação dos token não fungíveis, os NFTs. Convenhamos, isso é mesmo uma contradição no segmento. Se a ideia é gerar algo mais rápido, mais barato e sem intermediários, como é que a gente pode ignorar que isso tudo acontece? É fato que economia de energia ou uso de energias limpas são também algo que vieram para ficar. Tanto que ninguém menos que o co-fundador da Apple, Steve Wozniak, o Woz, é um dos sócios da Effort, empresa que emite os tokens Wozx, A venda dos tokens levanta recursos que serão aplicados em projetos de ganho de eficiência energética e de redução de emissão de carbono.

Com os NFTs, que apareceram até no Fantástico, o Show da Vida (em 21 de março passado), a pressão cresce ainda mais. O próprio Mike Winkelmann, o Beeple, que vendeu uma criptoarte por US$ 69 milhões, se comprometeu a compensar o carbono emitido para fazer seus desenhos. De acordo om o site CryptoArt.wtf, que calculava o uso de energia e o impacto ambiental de criptoarte e outras NFTs, a peça “Space Cat,” um Gif de um gato num foguete indo para a Lua, teria consumido o equivalente a dois meses de uso de eletricidade por um cidadão da UE.

Essa informação está no The Verge e há mais como acessá-la diretamente no CryptoArt.wtf, que foi retirado do ar por uso dos dados para assédio – detalhe: foi lançado em dezembro do ano passado. Um dos motivos de tanto uso de energia nesse segmento é o uso de ethereum e seu mecanismo de consenso proof-of-work, ou prova de trabalho, o mesmo do bitcoin.

Há também críticas sobre o quanto se joga fora de equipamentos, porque como fica cada vez mais difícil minerar em redes públicas, é preciso ter computadores sempre mais modernos e robustos para fazer esse trabalho. Portanto, sem uma solução mais eficiente em termos de energia, aqueles investidores que seguem o conceito ESG podem desistir de olhar para criptoativos, em especial para os projetos que nem se dão ao trabalho de compensar o CO2 que emitem.

Já que blockchain é coisa nova, é 4.0, tanto no uso em empresas, como em criptoativos que se propõem a mudar o mundo para melhor, não há porque deixar de aproveitar as chances que a tecnologia oferece para fincarmos os pés na sustentabilidade. No entanto, é preciso também incluir em qualquer projeto do ecossistema a compensação pela poluição que causa. Afinal, blockchain precisa ornar, de ponta a ponta, com sustentabilidade.

No cursoDecifrando as Criptomoedas" da EXAME Academy, Nicholas Sacchi, head de criptoativos da EXAME, mergulha no universo de criptoativos, com o objetivo de desmistificar e trazer clareza sobre o funcionamento.Confira.

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Quem poderá se salvar dos impactos negativos da mudança climática? Ninguém. Quem se deu conta do problema corre para tentar evitar esse que o Global Report Risk 2021 do World Economic Forum (WEF) classifica como um dos maiores riscos catastróficos que temos pela frente. E nessa corrida, as tecnologias 4.0, incluindo blockchain, são vistas como aliadas importantes para evitar o pior e colocar o planeta numa rota de crescimento sustentável.

Dois dos entusiastas do uso de tecnologias 4.0 para a sustentabilidade são os irmãos ambientalistas, pesquisadores e brasileiros Carlos Nobre e Ismael Nobre. Em 2020, quando a Amazônia ardia e batia o desesperador recorde de queimadas, Carlos voltou a lembrar que a blockchain poderia evitar a destruição da floresta. Sua proposta é a seguinte: temos de nos tornar uma bioeconomia “ aliando o conhecimento de nossa biodiversidade às possibilidades da indústria 4.0 ”. Como o setor industrial está cada vez mais interessado no que a Amazônia tem a oferecer para sua produção – como matérias-primas para medicamentos e cosméticos -, então é hora de aproveitar isso da forma correta e com ganhos para as comunidades da região.

Por isso, os Nobre criaram o projeto Amazônia 4.0 que, dentre várias ações, inclui o biobanco da Amazônia. O biobanco usará blockchain e deve entrar em operação em 2022. Nele, ficará armazenado o sequenciamento genômico de espécies da floresta, ou o DNA. Tudo ficará registrado e guardado nos blocos. Assim, será possível ter um registro permanente e seguro e um controle de onde vêm e para onde vão as informações, garantindo a propriedade intelectual dos dados. Assim, também ajudará a resolver outro problema, o da biopirataria.

O Brasil tem tudo para fazer isso e se tornar um exemplo global de economia que alia, de forma amigável, negócios, tecnologia e meio ambiente. Mas para ser o primeiro, precisa correr. Isso porque a União Europeia (EU) também está indo por esse caminho da bioeconomia. O bloco lançou o European Green Deal (Acordo Verde Europeu) no final de 2019. “É, por um lado, sobre reduzir emissões (de CO2), mas por outro, é sobre gerar empregos e dar impulso às inovações", disse a presidente da UE, Ursula von der Leyen.

E para que a UE atinja suas metas, que inclui ser neutra em emissão de gases de efeito estufa até 2050, uma saída é usar blockchain para fazer um inventário de tudo o que há nos 182 milhões de hectares de florestas do bloco e registrá-lo em blockchain permissionada, diz Louisa Bartosek, diretora de comunicação do 2030 Group. O grupo vende soluções em blockchain. A sugestão pode até ser uma propaganda de sua empresa, mas Louisa tem um ponto importante: “os países poderão medir os resultados de diversos experimentos, inovações e políticas. Poderão compartilhar conhecimento sem precisar pedir e esperar pelos relatórios individuais dos países. Isso trará uma economia de tempo e dinheiro”. E como a rede é descentralizada, os dados não ficarão na sede da UE em Bruxelas, mas com os donos das florestas, que dariam autorização para outros verem as informações.

Isso tudo pode desembocar na chamada bioindústria e na inovação que vem da floresta sem destruí-la, mas preservando-a. Claramente não temos nem ideia de todo o potencial das florestas pelo mundo. Se conseguimos ter vacinas contra o coronavírus em menos de um ano de pesquisa, em parte isso aconteceu porque houve uma troca frenética de conhecimento entre os cientistas. Então, imagine só como mudará a visão que os desmatadores e indiferentes terão sobre a floresta quando forem vistas como locais de inovação e de se fazer dinheiro, desde que as árvores existam em pé.

E olha que se há um momento na história do mundo em que pode haver dinheiro para isso é bem agora. Os investidores estão cada vez mais aceitando aplicar em preservação e em uso sustentável das florestas. Com a adoção de ESG (Environment, Social and Governance) – ou ASG em português -, o setor financeiro topa colocar parte de seus recursos em investimentos que pagam rendimentos menores, desde que sejam aplicados em causas relacionadas a ESG. Como isso não é uma moda, mas algo que veio para ficar, estão dadas as chances de criar oportunidades de investimentos baseados em blockchain para dar maior transparência e segurança ao investidor.

Na outra ponta, a da floresta, pense no dono de uma área que descobre que ganha mais vendendo árvore certificada e rastreada com blockchain, ou ainda, que pode gerar uma renda sustentável por meio de tokens só porque tem árvores. Será que ele não vai pensar duas vezes antes de desmatar tudo e criar gado ou cana? A junção de ESG e dos criptoativos, embaladas em blockchain, podem dar uma grande resposta à mazela ambiental em que vivemos.

É por isso tudo que já temos visto surgir instrumentos como o token MCO2, da Moss, que digitaliza crédito de carbono de 1 milhão de hectares de floresta amazônica. A empresa pega o dinheiro e investe em projetos sustentáveis na região, que por sua vez compensam carbono e assim, geram o token, que é o que você “leva para casa”, ou melhor, para sua carteira digital. Assim, cria-se um cinturão anti-desmatamento, diz o criador do token, Luiz Felipe Adaime. Quem compra o token tem a certeza, diz ele, que comprou mesmo o crédito de carbono e que o dinheiro vai para o projeto, porque blockchain dá uma transparência desses dados. São projetos que vêm na esteira de outros do mercado financeiro tradicional como os títulos verdes emitidos por empresas e que só crescem no mundo e aqui.

Um outro projeto brasileiro é o da Amazonascoin, uma criptomoeda utilizada para arrecadar recursos a serem usados em projetos na Amazônia. A moeda faz parte de um projeto do Instituto Nacional de Excelência em Políticas Públicas (INEPP) para preservação da Amazônia, e que inclui, por exemplo, o lançamento de um token, o ZCO2.

Porém, se a questão é proteger o meio-ambiente e criar uma economia sustentável, temos de nos lembrar de outras ações com blockchain, como as que buscam garantir o descarte correto de produtos. A startup brasileira Eureciclo é uma das que trabalha com a tecnologia em logística reversa.

Mas nem tudo são flores no mundo blockchain. É bom lembrar que há cada vez mais críticas ao alto uso de energia na mineração de criptomoedas e na criação dos token não fungíveis, os NFTs. Convenhamos, isso é mesmo uma contradição no segmento. Se a ideia é gerar algo mais rápido, mais barato e sem intermediários, como é que a gente pode ignorar que isso tudo acontece? É fato que economia de energia ou uso de energias limpas são também algo que vieram para ficar. Tanto que ninguém menos que o co-fundador da Apple, Steve Wozniak, o Woz, é um dos sócios da Effort, empresa que emite os tokens Wozx, A venda dos tokens levanta recursos que serão aplicados em projetos de ganho de eficiência energética e de redução de emissão de carbono.

Com os NFTs, que apareceram até no Fantástico, o Show da Vida (em 21 de março passado), a pressão cresce ainda mais. O próprio Mike Winkelmann, o Beeple, que vendeu uma criptoarte por US$ 69 milhões, se comprometeu a compensar o carbono emitido para fazer seus desenhos. De acordo om o site CryptoArt.wtf, que calculava o uso de energia e o impacto ambiental de criptoarte e outras NFTs, a peça “Space Cat,” um Gif de um gato num foguete indo para a Lua, teria consumido o equivalente a dois meses de uso de eletricidade por um cidadão da UE.

Essa informação está no The Verge e há mais como acessá-la diretamente no CryptoArt.wtf, que foi retirado do ar por uso dos dados para assédio – detalhe: foi lançado em dezembro do ano passado. Um dos motivos de tanto uso de energia nesse segmento é o uso de ethereum e seu mecanismo de consenso proof-of-work, ou prova de trabalho, o mesmo do bitcoin.

Há também críticas sobre o quanto se joga fora de equipamentos, porque como fica cada vez mais difícil minerar em redes públicas, é preciso ter computadores sempre mais modernos e robustos para fazer esse trabalho. Portanto, sem uma solução mais eficiente em termos de energia, aqueles investidores que seguem o conceito ESG podem desistir de olhar para criptoativos, em especial para os projetos que nem se dão ao trabalho de compensar o CO2 que emitem.

Já que blockchain é coisa nova, é 4.0, tanto no uso em empresas, como em criptoativos que se propõem a mudar o mundo para melhor, não há porque deixar de aproveitar as chances que a tecnologia oferece para fincarmos os pés na sustentabilidade. No entanto, é preciso também incluir em qualquer projeto do ecossistema a compensação pela poluição que causa. Afinal, blockchain precisa ornar, de ponta a ponta, com sustentabilidade.

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