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Qual é o crescimento potencial da economia brasileira?

O professor Delfim Netto gosta de dizer que o crescimento econômico é um estado de espírito. Em boa medida é isso mesmo. O crescimento é fruto de decisões de investimento que, por serem arriscadas, ocorrem apenas se houver confiança. Mas será que basta uma palestra motivacional em horário nobre para o país crescer? Infelizmente não. […]

MENDONÇA FILHO, MINISTRO DA EDUCAÇÃO: não adianta baixar o juro ou o custo da energia na marra; é preciso focar o investimento em educação  / Marcelo Camargo / Agência Brasil
MENDONÇA FILHO, MINISTRO DA EDUCAÇÃO: não adianta baixar o juro ou o custo da energia na marra; é preciso focar o investimento em educação / Marcelo Camargo / Agência Brasil
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Celso Toledo

Publicado em 13 de junho de 2016 às, 11h56.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h32.

O professor Delfim Netto gosta de dizer que o crescimento econômico é um estado de espírito. Em boa medida é isso mesmo. O crescimento é fruto de decisões de investimento que, por serem arriscadas, ocorrem apenas se houver confiança. Mas será que basta uma palestra motivacional em horário nobre para o país crescer? Infelizmente não.

Há três elementos que estimulam o empresário. Primeiro, é preciso que o investimento gere um excedente que remunere o risco – ele tem que ser produtivo. Segundo, é necessário haver garantia de que não haverá expropriação quando tudo der certo. Finalmente, é preciso haver fontes de financiamento a um custo viável.

A questão da confiança está presente nos três requisitos. No entanto, o retorno esperado de um projeto depende também de aspectos materiais que, por sua vez, determinam as condições de financiamento disponíveis. As oscilações de humor ou do “estado de espírito” podem atrasar ou adiantar investimentos que, se fizerem sentido, ocorrerão de qualquer modo.

Este esquema pode ser usado para entender o crescimento dos países. Basta tratar a economia como uma empresa que precisa combinar da melhor forma possível seu estoque de capital humano e físico (terras, edifícios, infraestrutura, máquinas) para produzir o PIB. Esse enfoque permite contabilizar os aspectos objetivos e subjetivos cruciais para o crescimento.

Atualmente, há um relativo consenso de que o segredo do sucesso não está na abundância de gente ou de capital. Quando os dados de diversos países são destrinchados, descobre-se que o pulo do gato está na expressão “melhor forma possível” do parágrafo anterior. Há países que usam seus recursos de forma bem mais eficiente do que outros. Duas nações com estoques de capital e população semelhantes podem ter desempenhos bastante diferentes.

Uma parte da diferença pode ser explicada mais objetivamente. Educação de melhor qualidade, por exemplo, é capaz de alavancar a efetividade da força de trabalho. Outro exemplo é o grau de intromissão do governo na economia. Governos grandes distorcem o preço do capital, impedindo que ele seja alocado da forma mais produtiva, afetando negativamente o crescimento.

Há também uma parte da diferença entre países que não está associada a aspectos específicos. Apesar disso, é possível identificar por meio de análises comparativas um conjunto de características típicas das nações que dão certo.

A evidência sugere que os países mais produtivos e dinâmicos possuem regras que incentivam os agentes privados a correr riscos, gerando prosperidade para a sociedade. Nesses países, é relativamente simples abrir e fechar uma empresa, pagar impostos, estabelecer contratos mutuamente vantajosos, dirimir controvérsias, evitar abusos e por aí vai.

Dito isso, qual é o crescimento potencial do Brasil? A resposta depende de vários fatores que estão dados no curto prazo, mas que, no longo prazo, não estão escritos na pedra.

Seja um cenário com as seguintes premissas: (i) continuidade da tendência de evolução atual da escolaridade média da população e (ii) equacionamento do problema fiscal de modo a evitar o descontrole da dívida pública, mas sem resolver o déficit estrutural de poupança.

Neste cenário a confiança retornará, mas provavelmente persistirão as distorções que tornam o capital mais caro por aqui, limitando o retorno de investimentos e, por consequência, o crescimento. Se a parcela que depende dos aspectos qualitativos mencionados acima continuar avançando como nos últimos 25 anos, dá para mostrar que o crescimento potencial girará entre 2% e 2,5% ao ano. Talvez dê para crescer um pouco mais no curto prazo enquanto o país preenche as ociosidades criadas pela “Nova Matriz”.

Trata-se de potencial baixo para um país relativamente pobre. Para crescer mais, é preciso atacar na origem os fatores que tornam o Brasil um lugar onde o capital é caro, e no qual é difícil fazer negócios. Não adianta baixar o juro ou o custo da energia na marra. É preciso estimular a poupança diminuindo o tamanho do Estado, focar o investimento público em educação e criar um ambiente favorável para melhorar a infraestrutura.

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