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Ferrari dos livros

A arte de produzir obras à altura dos carros que homenageiam

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)
GD

Guilherme Dearo

Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 10h20.

Última atualização em 16 de janeiro de 2020 às 10h26.

Entrei em uma livraria em um shopping de luxo, em São Paulo, e perguntei pelo livro Ferrari , editado pela Taschen, que eu jávira em outra ocasião exposto ali bem no hall de entrada, chamando a atenção atéde quem não o procurava, com sua capa de couro vermelha, acomodado em uma nada convencional caixa inspirada em motor de alumínio—projeto do designer Marc Newson.

“Vendeu”, respondeu o atendente, informando, aliás, que os cerca de dez exemplares que estavam disponíveis tiveram o mesmo destino. Parece pouco, em se tratando de um“mero”livro. Seria um caso clássico de fracasso editorial, não fosse um detalhe: cada unidade custa, pelo que via no site da editora, R$ 27 mil…Mas esse valor jáchegou a R$ 35 mil, dizem outros livreiros.

Boa parte dos felizes compradores, me informou outro vendedor,écomposta por felizes proprietários de…Ferrari—alguns de mais de uma. Háatéquem fez questão de deixar as Ferrari, o carro e o livro, no mesmo ambiente: no caso, na sala de casa, que faz o papel de garagem.

E eu, inocente, achando que o livro fosse um prêmio de consolação para quem não podia ter o carro…

Aproveitei um almoço que teria com Julius Wiedemann, editor sênior da Taschen, uma das mais célebres editora de livros de arte do mundo, para conversar sobre este espetacular mundo dos livros de mesa—ou, válá, coffee table books, como são conhecidos mundo afora—, plataforma feita na medida para exibir em grande estilo e tamanho temas que envolvam cultura e consumo de luxo—carros incluídos, com louvor.

Julius Wiedemann, editor da Taschen (Taschen/Divulgação)

Car & Fun: Qual o segrego para o leitor perceber valor em livros comoFerrarie não titubear em pagar um preço nada convidativo pela obra?

Julius Wiedemann : Trabalhamos com uma criação de valor queéprontamente identificável. Os livros são grandes, diria queéa maior tela de alta resolução que existe; trazem acabamento com materiais nobres, como o couro da capa, queéo mesmo dosassentos dos carros; são produzidos pelos mais renomados profissionais da arte, caso do encadernador, que presta serviços para o Vaticano; são impressos em máquina deúltima geração, geralmente na Itália, que, hoje, estána vanguarda nesse quesito; e, porúltimo, mas não menos importante, são assinados por renomados especialistas.

No caso deFerrari,grosso modo, seria como se o livro tivesse a pretensão de mostrar o valor do carro. Não se trata de uma marca comum, portanto, a obra também não pode ser comum.

C&F: Como são definidos os títulos?

JW : A premissa básicaéque os temas tenham relevância cultural, não importa aárea. A Ferrari, no caso,émuito mais que um automóvel, ela“fala”atéa quem nãoéaficionado por carros.

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)

C&F: Quanto tempo foi preciso para produzirFerrari?

JW : Cerca de três anos.Ébastante, mas háprojetos que demoram ainda mais, cinco, oito anos até. Tudo depende da complexidade e do nível de detalhamento da obra. Precisamos oferecer uma informação especial para o leitor, de preferência algo que nunca foi publicado antes. E esse levantamento de coisas inéditasétrabalhoso.

C&F: A função desses livrosépromover a editora, basicamente, ou eles conseguem ser rentáveis?

JW : Alguns podem não ser, mas no caso deFerrari,é!. Na apresentação do livro na Feira de Frankfurt, em 2018, um distribuidor da marca em Hong Kong comprou trinta exemplares de uma vez, apenas para presentear seus clientes. Em casa, o orgulho em mostrar o carro adquirido rivaliza com o de apresentar o livro.Éo perfil de cliente que paga por um objeto sem pensar duas vezes.

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)

E esses livros, depois de um tempo, passam a valer mais, feito um objeto de arte. Pode ser visto com um investimento mesmo!

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)


Chico Barbosaéjornalista, escritor e editor daCBNEWS. Instagram:@chico.barbosa

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Entrei em uma livraria em um shopping de luxo, em São Paulo, e perguntei pelo livro Ferrari , editado pela Taschen, que eu jávira em outra ocasião exposto ali bem no hall de entrada, chamando a atenção atéde quem não o procurava, com sua capa de couro vermelha, acomodado em uma nada convencional caixa inspirada em motor de alumínio—projeto do designer Marc Newson.

“Vendeu”, respondeu o atendente, informando, aliás, que os cerca de dez exemplares que estavam disponíveis tiveram o mesmo destino. Parece pouco, em se tratando de um“mero”livro. Seria um caso clássico de fracasso editorial, não fosse um detalhe: cada unidade custa, pelo que via no site da editora, R$ 27 mil…Mas esse valor jáchegou a R$ 35 mil, dizem outros livreiros.

Boa parte dos felizes compradores, me informou outro vendedor,écomposta por felizes proprietários de…Ferrari—alguns de mais de uma. Háatéquem fez questão de deixar as Ferrari, o carro e o livro, no mesmo ambiente: no caso, na sala de casa, que faz o papel de garagem.

E eu, inocente, achando que o livro fosse um prêmio de consolação para quem não podia ter o carro…

Aproveitei um almoço que teria com Julius Wiedemann, editor sênior da Taschen, uma das mais célebres editora de livros de arte do mundo, para conversar sobre este espetacular mundo dos livros de mesa—ou, válá, coffee table books, como são conhecidos mundo afora—, plataforma feita na medida para exibir em grande estilo e tamanho temas que envolvam cultura e consumo de luxo—carros incluídos, com louvor.

Julius Wiedemann, editor da Taschen (Taschen/Divulgação)

Car & Fun: Qual o segrego para o leitor perceber valor em livros comoFerrarie não titubear em pagar um preço nada convidativo pela obra?

Julius Wiedemann : Trabalhamos com uma criação de valor queéprontamente identificável. Os livros são grandes, diria queéa maior tela de alta resolução que existe; trazem acabamento com materiais nobres, como o couro da capa, queéo mesmo dosassentos dos carros; são produzidos pelos mais renomados profissionais da arte, caso do encadernador, que presta serviços para o Vaticano; são impressos em máquina deúltima geração, geralmente na Itália, que, hoje, estána vanguarda nesse quesito; e, porúltimo, mas não menos importante, são assinados por renomados especialistas.

No caso deFerrari,grosso modo, seria como se o livro tivesse a pretensão de mostrar o valor do carro. Não se trata de uma marca comum, portanto, a obra também não pode ser comum.

C&F: Como são definidos os títulos?

JW : A premissa básicaéque os temas tenham relevância cultural, não importa aárea. A Ferrari, no caso,émuito mais que um automóvel, ela“fala”atéa quem nãoéaficionado por carros.

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)

C&F: Quanto tempo foi preciso para produzirFerrari?

JW : Cerca de três anos.Ébastante, mas háprojetos que demoram ainda mais, cinco, oito anos até. Tudo depende da complexidade e do nível de detalhamento da obra. Precisamos oferecer uma informação especial para o leitor, de preferência algo que nunca foi publicado antes. E esse levantamento de coisas inéditasétrabalhoso.

C&F: A função desses livrosépromover a editora, basicamente, ou eles conseguem ser rentáveis?

JW : Alguns podem não ser, mas no caso deFerrari,é!. Na apresentação do livro na Feira de Frankfurt, em 2018, um distribuidor da marca em Hong Kong comprou trinta exemplares de uma vez, apenas para presentear seus clientes. Em casa, o orgulho em mostrar o carro adquirido rivaliza com o de apresentar o livro.Éo perfil de cliente que paga por um objeto sem pensar duas vezes.

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)

E esses livros, depois de um tempo, passam a valer mais, feito um objeto de arte. Pode ser visto com um investimento mesmo!

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)

Livro Ferrari, da Taschen (Taschen/Divulgação)


Chico Barbosaéjornalista, escritor e editor daCBNEWS. Instagram:@chico.barbosa

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