Inteligência artificial e liderança: a dor de cabeça que pode surgir na falta de bom alicerce
Na revolução célere que a IA traz, é crucial ter rapidez para superar obstáculos e evitar a temida “bola de neve” gerencial
Publicado em 25 de abril de 2024 às, 16h19.
Última atualização em 25 de abril de 2024 às, 16h56.
Protagonista dos nossos tempos, a inteligência artificial (IA) é uma das tecnologias mais revolucionárias, com potencial para transformar radicalmente diversos setores e processos de negócios. Seja em dispositivos celulares, semáforos inteligentes, consultórios odontológicos ou até em eletrodomésticos, hoje já é difícil imaginar um mundo sem IA.
Seu uso vem evoluindo a passos tão largos que pressiona mais e mais os CIOs, ou diretores de tecnologia com papel fundamental na sua adoção e gestão, a garantir o alinhamento com os objetivos do negócio, certificando o equilíbrio na equação que reúne estratégias, investimentos, expectativas e resultados
Acompanhar a velocidade dessa transformação vem se tornando um grande obstáculo para os líderes de tecnologia de empresas de diversos tamanhos, nascidas, ou não, na era da transformação digital. De acordo com o mais recente relatório CIO Report, da Logicalis, a maioria dos CIOs expressa preocupações sobre o quanto o uso da IA pode prejudicar estratégias comerciais ou trazer desafios de regulação. Por um lado, o estudo mostra que 86% começaram a trabalhar em políticas formais do uso dessa solução. Por outro, sublinha que, ao colocar em prática as suas estratégias, as lideranças em tecnologia já enfrentam a perspectiva de grandes "nós" a médio e longo prazo, como a escassez de talentos e de competências em IA, tanto nas equipes de desenvolvimento e operação, quanto nas áreas de negócios.
Outra pesquisa, esta da International Data Corporation (IDC), também ressaltou o pesadelo do "apagão" de talentos, que pode estar espreitando na próxima esquina. Segundo o relatório Future of Intelligence 2023, 82% dos executivos de TI já tinham dificuldades para contratar profissionais qualificados em IA. Outros 68% falaram da necessidade premente de treinar os funcionários atuais.
Outro ponto importantíssimo na agenda dos gestores de tecnologia: o cuidado quanto à conexão da IA com sistemas e infraestruturas legados, muitas vezes já sendo utilizados há anos pelas empresas. Eles necessitam de ajustes específicos no planejamento para que a adoção da nova solução seja natural, ajudando a melhorar de fato os resultados das organizações. Neste sentido, vale trazer, ainda, dados de um terceiro estudo, o AI Adoption Trends, da Forrester: mais da metade (54%) dos CIOs relatou que a integração de dados é o maior obstáculo para a implementação de soluções de Inteligência Artificial. Mais: 48% apontaram a complexidade da arquitetura de TI como um desafio.
Acrescentando complexidade ao cenário e tão importante quanto as questões operacionais, os desafios que pairam sobre a esfera da governança, como a ética e a segurança de dados e algoritmos de IA, também não podem ser deixados fora do radar. Somadas a eles, certas resistências culturais e a dificuldade de mensuração de retorno de investimento (ROI), o potencial de transformação da tecnologia pode acabar sendo limitado. Sobretudo quando se foca exclusivamente no lucro financeiro e se limita as escolhas aos caminhos mais seguros.
Mas a despeito das preocupações listadas, nada reduz a capacidade praticamente infinita da Inteligência Artificial de melhorar os negócios de forma inovadora. Por exemplo, é possível personalizar e aprimorar a satisfação dos clientes ao criar produtos e serviços que atendam suas necessidades. Fora isso, muito longe de termos “a máquina substituindo o humano”, caminhamos para uma união de capacidades, com a IA ajudando a melhorar as habilidades e o conhecimento das equipes de tecnologia, e melhorando a colaboração entre as áreas de TI e de negócio. Além de otimizar e automatizar processos internos e externos, e aumentar a eficiência e a produtividade, a IA pode, ainda, fortalecer a segurança e a resiliência dos sistemas e das redes, prevenindo e mitigando riscos e ameaças. Isto para não falar da geração de insights e conhecimento gerado a partir da análise de grandes volumes de dados, que melhoram a tomada de decisões e a capacidade de inovar.
Existem, sim, pontos de atenção. É preciso criar grupos de trabalho dedicados à IA. É preciso desenvolver habilidades mais fortes junto aos times. É preciso destinar orçamentos exclusivos para a criação e implementação de soluções inteligentes. As empresas também precisam estar atentas às regulamentações locais e aos desafios éticos relacionados ao uso da IA, adotando políticas formais para garantir seu uso responsável. São questões isoladas, mas pedem grande atenção. Por isso, os CIOs têm de agir rapidamente para que elas não cresçam nem se transformem em "bolas de neve".