(NatalyaBurova/Getty Images)
CTO e VP de Soluções Digitais da Falconi
Publicado em 19 de dezembro de 2025 às 14h18.
O ano de 2025 marcou uma inflexão decisiva no setor de tecnologia. Foi um período em que expectativas superlativas se chocaram com a realidade operacional, evidenciando que, mesmo em um ambiente de inovação acelerada, a euforia não substitui a estratégia.
A inteligência artificial generativa (GenAI) alcançou visibilidade global, impulsionando investimentos trilionários em infraestrutura, ampliando a concorrência entre hyperscalers e alimentando narrativas de transformação irreversível. Ainda assim, líderes atentos perceberam que o entusiasmo com a IA convivia com sinais claros de que a disciplina econômica voltaria a ditar as regras do jogo.
O alerta foi bem resumido pelo CEO da IBM, Arvind Krishna, ao afirmar recentemente que empresas como Google e Amazon podem levar muitos anos para obter retorno sobre os vultosos aportes em data centers. Não se trata de questionar a relevância da tecnologia, mas de reconhecer um fato incontornável: nenhuma inovação é capaz de escapar das leis da matemática financeira.
Essa constatação dialoga com o histórico das grandes crises passadas. Em 2025, a corrida pela IA reeditou fenômenos conhecidos: avaliações infladas, expectativas irreais e a crença de que investimentos acelerados trariam retornos igualmente rápidos. A realidade, entretanto, mostrou-se mais complexa. Um relatório do HSBC Global Investment Research sobre a OpenAI estimou que a empresa pode não lucrar antes de 2030 e que ainda precisaria levantar mais de US$ 200 bilhões para sustentar sua trajetória. Até mesmo organizações inovadoras e revolucionárias precisam enfrentar a mesma equação que define o destino de qualquer negócio: receita, custo, risco e tempo.
Sob essa ótica, 2025 pode ser interpretado como o ano em que o setor atingiu o teto da euforia e reencontrou o chão da racionalidade estratégica. As empresas mais resilientes não foram as que apostaram na expansão desenfreada, mas as que mantiveram uma visão pragmática, calibraram seus portfólios e priorizaram iniciativas com retorno concreto.
A eficiência operacional voltou ao centro das agendas executivas, agora impulsionada pela IA, mas guiada por métricas claras de produtividade, redução de custos e otimização de margens. O discurso da inovação descolada da sustentabilidade econômica perdeu força. Ganhou protagonismo a inovação que fecha a conta.
Com essa reorganização do mercado, 2026 se anuncia como o ano em que a estratégia retomará seu papel central. A próxima onda de crescimento não será determinada por quem fizer mais anúncios, mas por quem tomar decisões mais racionais.
Infraestruturas tecnológicas, antes vistas como ativos ilimitados, passam a ser avaliadas pela ótica da eficiência: modelos mais especializados, arquiteturas híbridas, uso inteligente da capacidade computacional e redução de desperdícios energéticos. Paralelamente, a governança da IA, que inclui regulação, auditoria, diretrizes éticas e controle de riscos, se tornará um fator estratégico, distinguindo empresas maduras daquelas que ainda operam por impulso.
Para os líderes empresariais, os aprendizados de 2025 oferecem um mapa claro para 2026. O primeiro passo é recalibrar a tese estratégica de cada unidade de negócio com base em dados e matemática, não em expectativas subjetivas. Iniciativas que não demonstram retorno econômico positivo devem ser revistas ou despriorizadas. Ou seja, a gestão se concentrará em negócios que geram caixa e ampliam margens, reduzindo apostas em modelos dependentes de liquidez abundante. Além disso, organizações bem-sucedidas adotarão estruturas mais enxutas e orientadas a foco. A multiplicidade de iniciativas simultâneas, típica de períodos de capital farto, dará lugar a escolhas estruturantes e renúncias conscientes.
Outro elemento essencial será a criação de uma cultura em que a IA fortaleça a competitividade, não apenas a narrativa. Empresas vencedoras serão as que conseguirem converter IA em produtividade mensurável, seja na operação, na cadeia de suprimentos, no atendimento ao cliente ou no desenvolvimento de produtos.
No campo da concorrência, 2026 tende a ser um ano de forte consolidação: companhias com liquidez e estratégia clara adquirirão ativos fragilizados, integrarão soluções e reforçarão seus portfólios. O ambiente será de seleção natural: sobreviverá quem melhor souber calcular os riscos.
Se 2025 expôs o limite das apostas irracionais, 2026 exigirá que as empresas retomem a disciplina estratégica como fundamento da criação de valor. A lição é inequívoca: planos sustentados pela euforia não têm espaço em um mercado mais maduro, seletivo e exigente. À medida que a tecnologia avança, a vantagem competitiva migrará para as organizações capazes de transformar complexidade em clareza, incerteza em cálculo e ambição em execução disciplinada.
Em última instância, a próxima década pertencerá às empresas que compreenderem que, por trás de toda grande visão, deve existir uma equação sólida, porque somente estratégias que fecham a conta sustentam crescimento real e duradouro.