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Dia dos Pais sem patriarcado

É no mundo real que as marcas e consumidores existem e que o Dia dos Pais – embora seja uma data do calendário comercial – pauta o diálogo das famílias

Barbie (Margot Robbie) e Ken (Ryan Gosling) no filme de sucesso da diretora Greta Gerwig (Warner Bros./ Barbie/Divulgação)
Barbie (Margot Robbie) e Ken (Ryan Gosling) no filme de sucesso da diretora Greta Gerwig (Warner Bros./ Barbie/Divulgação)

Nesta primeira semana do volta às aulas no Brasil, depois que o ousado filme Barbie abanou a brasa sobre a ideologia patriarcal na sociedade, vou falar sobre como as marcas (de todos os portes) podem fazer a sua parte nas suas campanhas de comunicação para a próxima data do calendário comercial: o Dia dos Pais. 

Não existem consumidores em Barbieland 

Na Barbieland as mulheres podem escolher suas profissões, ganhar prêmios e ser felizes do jeito que escolherem e quiserem. Mas, poucos minutos no mundo real foram suficientes para a Barbie ser assediada enquanto patinava, e para Ken descobrir a ideologia patriarcal presente em uma sociedade que privilegia os homens. 

É no mundo real que as marcas e consumidores existem e que o Dia dos Pais – embora seja uma data do calendário comercial – pauta o diálogo das famílias, sejam elas tradicionais, homoafetivas, monoparentais etc.  

A família patriarcal 

Presente desde o período Colonial até boa parte do século XX, é caracterizada pelo pátrio poder exercido pelo marido sobre a esposa e os filhos. Nesse modelo, o patriarca, ou "pai", desempenha o papel central como líder do clã, responsável pela gestão econômica e influência social da família. 

No Brasil, o pátrio poder deixou de existir com a Constituição Federal de 1988 (§ 5º do art. 226: Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.) 

Todos os pais são pais de verdade 

Não perca de vista que as crianças também estão sendo criadas por pais separados, gays e também pelas mães e lésbicas. Que tal a sua marca não falar apenas daquele pai cisgênero, biológico e mostrar a paternidade nos tempos atuais? Não se esqueça que a linguagem inclusiva conecta a sua marca com todos os seus clientes – inclusive com o pai cisgênero que certamente está antenado. Uma boa ideia é focar no encontro dos filhos com os pais e todos aqueles que ocupam essa posição. 

Dia dos Pais sem patriarcado 

Os estereótipos sobre aquelas atividades masculinas que os pais supostamente costumam realizar: fazer churrasco, pescar, utilizar ferramentas para reparos domésticos, assistir ao futebol e beber cerveja podem não refletir todas as oportunidades que a data comercial reserva. Significa dizer que esta temática pode excluir muitos pais verdadeiros do mundo real. 

O problema é quando tais estereótipos reafirmam uma posição diferenciada dos homens na família, no casamento e, por consequência, na sociedade. Homenagear (aliás, há uma polêmica com a palavra homenagem que não vou trazer pra cá) os pais reafirmando estereótipos masculinos (tóxicos) é um desserviço muito grande. Afinal, não é apenas em Barbieland que mulheres podem fazer todas as mesmas atividades que os homens, não é mesmo? 

Cada um presenteia o pai que tem 

Celebrar o encontro, o reencontro, o amor, o exemplo de vida e todos os sentimentos associados. Cada filho quer reviver algo com seu pai. Do seu jeito. 

As marcas que investirem no que os conecta (e não nos modelos de pai) e nas emoções que filhos e pais querem experimentar no Dia dos Pais, conseguirão se aproximar de todos os (tipos de) pais e filhos.  

Muita pesquisa nesta hora  

Como são os pais e filhos que consomem a sua marca? Quais são os valores, interesses, opiniões e atitudes deles? E como eles esperam que a sua marca se comunique com eles no Dia dos Pais? 

As pesquisas qualitativas costumam ser terreno fértil para testar conceitos publicitários e gerar insights valiosos para campanhas de sucesso no Dia dos Pais. 

O marketing nosso de cada semana 

Dito tudo isto, o que muda no marketing desta semana? 

Agora que você lembrou que reproduzir estereótipos pode ser um desserviço, deixará de abordar o Dia dos Pais pelo viés de gênero e posição na família e vai focar no que mais importa: naquilo que conecta pais e filhos. 

Para o coffee break da reunião com o time de marketing 

Para quem já assistiu ao filme Barbie e gostou da temática da posição da mulher na socidade, que tal ler o livro “Men Who Hate Women” da Laura Bates? 

E você, está pensando em se conectar com aquilo que conecta seus consumidores no Dia dos Pais ou vai apostar nos estereótipos do patriarcado?