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E-commerce em transição, o varejo digital ainda não atingiu sua fase mais lucrativa

Enquanto o setor acelera, muitos ainda operam como se o jogo estivesse definido

 (pcess609/Getty Images)

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Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 21h01.

Thiago Franco - Empresário e CEO da ICOMM Escola de E-commerce

 

No final de 2025, em meio aos recordes de faturamento e crescimento da base digital de consumidores, um dado chama a atenção. Apenas cerca de 15% do varejo na América Latina é digital. Esse número contrasta fortemente com mercados mais maduros, como a China, onde o e-commerce representa cerca de 39% de todas as vendas do varejo.

A diferença não é apenas geográfica, é geracional. Um jovem de 15 anos hoje, daqui a dez anos, terá 25, com pleno poder de consumo e hábitos formados quase que exclusivamente no digital. Ele terá crescido usando marketplaces como fonte primária de compra, acostumado com frete rápido, interface intuitiva, reputação de vendedor e decisões orientadas por algoritmos. Este consumidor não vai aprender a comprar online, ele já nasceu digital.

E o mercado está se preparando para ele. Em 2025, o Mercado Livre anunciou R$ 34 bilhões em investimentos no Brasil. Parte desse valor está sendo direcionado para reforço logístico, com foco em entrega no mesmo dia em praticamente todo o território nacional. A expansão de hubs, a automação de centros de distribuição e a integração cada vez mais refinada com transportadoras locais mostram que a empresa não apenas domina a operação atual, como já está posicionada para o consumo futuro.

Esse nível de investimento deixa claro que o jogo não acabou, ele mal começou. E enquanto alguns empresários ainda operam com planilhas manuais e campanhas baseadas em tentativa e erro, os líderes do setor estão moldando um ecossistema altamente profissionalizado, orientado por dados e preparado para escalar com eficiência.

A ilusão de maturidade criada nos últimos anos, impulsionada por crescimentos rápidos durante a pandemia, fez com que muitos acreditassem que o e-commerce já estava consolidado. No entanto, os dados mostram o contrário. O setor ainda é uma fatia minoritária do varejo como um todo, e a evolução dos marketplaces indica que a curva de crescimento ainda tem muito espaço para subir.

Ignorar os marketplaces neste cenário é deixar de estar onde o consumidor já está. Plataformas como Mercado Livre, Amazon, Shopee e Magalu não são apenas canais de venda, mas ecossistemas digitais com tráfego massivo, sistemas de reputação, ferramentas de análise e infraestrutura logística própria. Elas concentram o comportamento de compra de milhões de brasileiros e são hoje, para muitos varejistas, o principal ponto de contato com o cliente final.

Além disso, vender nesses ambientes significa competir com algoritmos, e não apenas com preços. A lógica da performance exige atenção à reputação da loja, tempo de entrega, nível de cancelamento, taxa de conversão e, principalmente, eficiência operacional. As marcas que souberem trabalhar esses indicadores estarão na vitrine digital mais movimentada do país.

Portanto, não se trata mais de discutir se vale ou não a pena estar no digital. O ponto agora é como fazer isso com inteligência, escala e sustentabilidade financeira. Em um ambiente de alta competição, margens apertadas e consumidor cada vez mais exigente, o amadorismo tem vida curta.

A revolução do varejo digital está apenas no início, e os sinais estão por toda parte. Quem entender isso antes, terá vantagem. Quem continuar operando como se o mercado já estivesse estável, pode não ter tempo de reagir quando o novo consumidor chegar com força total.