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As novas tendências em blockchain e criptoativos para 2021

2021 será um ano repleto de desafios, mas o mercado de cripto e blockchain tem um excepcional potencial de crescimento; confira sete previsões para o setor

 (Westend61/Getty Images)
(Westend61/Getty Images)
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Alex Nascimento

Publicado em 26 de janeiro de 2021 às, 16h52.

O potencial da tecnologia blockchain e de criptoativos como o bitcoin, para disruptar grandes setores da indústria, foi previsto há mais de 10 anos. A adoção da tecnologia por diversos setores, o desenvolvimento de novos produtos financeiros e novas regulamentações vêm contribuindo para sua expansão nos mercados nacional e internacional.

O ano de 2020 foi marcado por uma crise econômica mundial, causada pela pandemia do coronavírus. Entretanto, a tecnologia blockchain e os criptoativos avançaram muito neste período, impulsionando novas atividades e mostrando que empresas que adotaram essa nova tecnologia tiveram um expressivo aumento na receita e na redução de custos.

Dessa forma, apesar de 2021 ser um ano repleto de desafios para a economia mundial, o mercado de cripto e blockchain apresenta um excepcional potencial de crescimento, baseado nas sete seguintes previsões para o decorrer do ano.

1 - A adesão absoluta do blockchain

Com o aumento e a transformação digital do mercado financeiro, impulsionado pela pandemia do coronavírus, a tecnologia blockchain tem tomado um espaço de grande importância.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Deutsche Bank entre os players do setor financeiro, a tecnologia blockchain pode ser a principal ferramenta para a solução para falhas de sistemas e interrupções do mercado financeiro mundial.

Já de acordo com um estudo elaborado pelo Banco Santander, a tecnologia blockchain pode reduzir os custos operacionais em até 20 bilhões de dólares anuais, até 2022. Esta dedução está diretamente associada à redução de custos associados a pagamentos internacionais, negociação de títulos e processos regulatórios, da seguinte forma:

  • Pagamentos internacionais: com o advento da tecnologia de base de dados decentralizada, bancos e usuários finais serão capazes reduzir os altos custos e a morosidade, durante as transações entre redes de pagamentos e remessas internacionais.
  • Negociação de títulos: contratos inteligentes (softwares) desenvolvidos em blockchain, poderão automatizar pagamentos e execução automatizada de cláusulas contratuais relativas a negociação de títulos, empréstimos, financiamentos, swaps e derivativos.
  • Conformidade regulatória: a melhor qualidade de dados otimizados e controles internos trás redução de custos em aproximadamente 70%, a maior transparência e auditabilidade das operações de compliance reduz custos de 30% à 50%, e processos de Know-Your-Customer (KYC) com identidades digitais pode reduzir custos em até 50% de acordo com a consultoria multinacional Accenture.

A adoção em massa da tecnologia blockchain por instituições financeiras, além de simplificar remessas e transferências financeiras vai viabilizar de forma mais eficiente o gerenciamento e negociações de ativos a custos muito mais baixos.

2 - A evolução das grandes instituições financeiras

Grandes instituições financeiras vêm cada vez mais aderindo a ativos digitais criptografados. JPMorgan, Standard Chartered, Citi e Deutsche Bank têm desenvolvido ferramentas para oferecer soluções e produtos utilizando ativos digitais criptografados aos seus clientes institucionais e de alto poder aquisitivo, que têm buscado uma maior diversificação de investimentos através da inclusão de bitcoins aos seus portfólios.

Em 2016, o líder global em serviços financeiros, JPMorgan Chase, desenvolveu o blockchain Quorum, construído para administrar uma rede de pagamentos e informações interbancárias, formada por 300 bancos. Contudo, o Quorum foi vendido em 2020 para a startup ConsenSys, aceleradora e empresa de desenvolvimento de blockchain software.

O Quorum continuará sendo uma plataforma de código aberto, porém compatível com outros produtos ConsenSys, visando uma infraestrutura de redes blockchain para um setor financeiro mais robusto. Os valores de aquisição e investimentos não foram divulgados.

PayPal, outra líder no segmento de pagamentos online, está investindo massivamente em bitcoin. A empresa adquiriu 70% de todos os novos bitcoins gerados nos últimos meses de 2020. Em outubro de 2020, a empresa anunciou aos seus mais de 320 milhões de clientes que os mesmos poderão comprar, manter e vender bitcoin e outros criptoativos em sua plataforma.

Outro movimento institucional foi o da empresa de gestão de fundos VanEck, que efetuou solicitação à SEC para a aprovação de um ETF de bitcoin em dezembro de 2020, proporcionando a negociação dos ativos digitais em bolsas de valores.

O resultado da avaliação do pedido para o primeiro ETF de bitcoin nos Estados Unidos deverá ser divulgado no final de 2021, mas, por outro lado, a empresa 3iQ já oferece o ativo digital na Bolsa de Valores de Toronto e atingiu cerca de 1 bilhão de dólares, por meio de um ETF de bitcoin. E, devido a popularidade do produto, a empresa já constituiu um outro ETF, conhecido como “The Ether Fund”.

3 - O Fim do 'inverno cripto'

A desaceleração econômica de 2020, levou investidores a buscarem mais opções de investimentos e consequentemente, se interessarem mais por Bitcoins e outras criptomoedas.

Em 2020, contratos futuros de bitcoin listados na Chicago Mercantile Exchange (CME) atingiram 1 bilhão de dólares em posições abertas pela primeira vez. Esse aumento nos investimentos em contratos de futuros de bitcoin, que deve perdurar por 2021, foi resultante da entrada de novos participantes no mercado.

Projetos e produtos DeFi desenvolvidos no blockchain Ethereum também foram responsáveis pelo aumento de investimentos em criptoativos e pelo fim do "inverno cripto". Com a popularização do DeFi em 2020, que atingiu mais de 15 bilhões de dólares investidos no setor, o ether disparou seu valor em 300%. Com este aumento no valor do ativo e o crescimento do mercado de futuros de bitcoin, a CME lançará contratos futuros de ether em 2021, visando proteger a moeda do risco de volatilidade do preço e aumento da adoção do ETH.

Outro grande impacto no setor para 2021, será o lançamento de serviços de indexação para mais de 550 moedas digitais pela S&P Dow Jones. Esses serviços proporcionarão aos investidores a possibilidade de criar índices personalizados e instrumentos de benchmarking, para fornecer “dados confiáveis de preços” para diversas criptomoedas.

Para o mercado corporativo, grandes empresas têm começado a conservar seus balanços patrimoniais em bitcoin, como forma de proteger contra inflação e desvalorização de moedas governamentais.

A MicroStrategy, empresa de aplicativos de business intelligence (BI) listada na Nasdaq, têm investido em bitcoin. Atualmente, a empresa possui 70.470 BTCs, adquiridos pelo valor total de aproximadamente, 1,125 bilhão de dólare. O grande volume de bitcoins adquiridos até o momento pela empresa se reflete na possibilidade de preservar o valor do capital a longo prazo. A MicroStrategy está disponibilizando aos investidores qualificados 550 milhões de dólares em convertible notes (títulos de dívida conversíveis em participação societária), incluído o gigante Morgan Stanley, que hoje detêm 11% da empresa e se beneficiou da valorização das ações da empresa, que passaram de 130 para 600 dólares.

Em linha com essa estratégia, Elon Musk, proprietário da montadora de veículos Tesla, trocou mensagens no Twitter com o CEO da Microstrategy, especulando sobre a possibilidade da Tesla também adicionar bitcoin em seu balanço patrimonial, o que também afetou positivamente o valor do ativo criptografado no mês de dezembro.

Já no Brasil, o Ministério da Economia autorizou o uso de bitcoin para investimentos em empresas. O ofício esclarece que criptoativos podem ser utilizados como parte do capital social de uma empresa e para realização de operações societárias (processos de fusão e incorporação). Esse pode ser o começo de uma tendência em 2021 de mais empresas utilizarem criptomoedas em seu balanço, aumentando a adoção dessa classe de ativo em diversas industrias.

4 – O Novo Mundo das CBDCs

Vimos, em 2020, diversos países explorando a possibilidade de emitir sua própria moeda digital, principalmente voltadad para o mercado de varejo. As CBDCs (sigla para "central bank digital currencies") de varejo prometem ser a versão digital do dinheiro em papel emitido pelos bancos centrais e disponíveis para o grande público.

O destaque desse mercado é o governo chinês, que tem explorado fortemente a tecnologia de CBDCs. Durante sua última fase de testes, foram realizadas mais de 4 milhões de transações em "yuan digital", atingindo a soma de cerca de 2 bilhões de yuans (306 milhões de dólares). Este projeto desponta a China no mercado global de CBDCs, buscando seu pioneirismo e status como moeda digital, e inovando a frente do dólar.

Outro país que se prepara para lançar uma CBDC em 2021 é o Líbano. A criação de uma moeda digital pretende combater a crise financeira do país, fortalecer a confiança no sistema bancário e otimizar o fluxo de dinheiro local e internacional, uma vez que os libaneses têm armazenado mais de 10 bilhões de dólares em suas casas e colchões.

Já no Brasil, o sistema Pix é considerado um grande passo para a criação de um CBDC nacional. Desde 2017, o país vem debatendo a viabilidade para o desenvolvimento de uma moeda digital própria, mas segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, a possibilidade da criação de um real digital poderá ser alcançada até 2022.

A tendência de lançamento de CBDCs pelo mundo vai beneficiar países através da criação de sistemas monetários mais eficientes, mas também vai expandir a adoção do conceito de dinheiro digital pela população em massa.

5- A Revolução DeFi

O mercado descentralizado vem crescendo, repleto de regulamentações e tributações, impostos por governos para principalmente, proteger as já existentes instituições financeiras tradicionais, que estão perdendo mercado com o advento das Finanças Descentralizadas.

A revolução da Finanças Descentralizadas (DeFi) foi um dos maiores impactos no mercado financeiro e de criptoativos em 2020. Com o valor total de investimentos atingindo mais de 24 bilhões de dólares em poucos meses, é de se esperar que serviços e produtos DeFi tomarão grandes proporções em 2021, principalmente por viabilizarem projetos que proporcionem aos investidores seu domínio econômico e sua independência de instituições financeiras tradicionais e centralizadas e de conceitos financeiros revolucionários como os segunites:

  • Uniswap: é uma exchange decentralizada (DEX) que permite a qualquer pessoa criar e listar um token sem que seja preciso pagar taxas de listagens. O protocolo foi capaz de acumular bilhões em liquidez, atingindo um pico de 1 bilhão de dólares em volume durante seus primeiros meses de existência.
  • Yearn.finance: a plataforma fornece serviços automatizados de “agricultura produtiva” ou “cultivo de rendimentos”, oferecendo um ecossistema combinando características de contratos inteligentes e sistemas financeiros tradicionais. O que criou uma comunidade de profissionais, desenvolvedores e usuários capazes de desenvolver produtos inovadores de maneira impetuosa. O token começou a ser negociado por 790 dólares e em seis meses viu seu preço ultrapassar os 43 mil dólares.
  • Aave: anteriormente chamada de ETHLend, o protocolo permitia emprestar e solicitar empréstimos em moeda criptográfica. O token Lend era negociado à 0,02 dólar, com volume de negociação diária de 10,6 milhões de dólares, entretanto, em menos de um ano, os valores atingiram picos de 95 dólares no valor do token e de 222 milhões de dólares em volume de negociação, em 24 horas.
  • Lightning Network: protocolo de segunda camada que possibilita ao usuário realizar transações de bitcoin entre duas pessoas de maneira instantânea, com taxas baixas ou inexistêntes, maior privacidade e interoperabilidade. Entretanto, a rede não se limita apenas ao bitcoin, e pode ser usada por projetos como Litecoin, Decred, Zcash e Tether.

Diante de todos este projetos bem-sucedidos, em 2021 o segmento DeFi ainda deverá apresentar melhores práticas de KYC/AML para realizar conformidade regulamentar local e internacional, a fim de proporcionar ainda mais confiança e ampliação do setor de serviços financeiros decentralizados.

6- A Estabilidade das Stablecoins

O ano de 2020 foi especialmente importante para as stablecoins, que ganharam 20 bilhões de dólares em valor de mercado no período. Isso indica, claro, que esse tipo de ativo continuará a prosperar em 2021.

O avanço do setor se deve principalmente à necessidade de uma solução para a alta volatilidade e falta de lastro da maioria dos criptoativos, e ao sucesso da stabelcoin Tether (USDT), que proporciona um ativo digital equivalente ao dólar.

Aproveitando essa oportunidade e necessidade de mercado, a gigante Goldman Sachs, em parceria com a Circle, empresa financeira de criptoativos, lançaram a segunda maior stablecoin indexada ao dólar, o USD Coin (USDC). A conversão do token é gratuita, mas será cobrado 0,1% para seu regaste. Por ser desenvolvido com um código aberto, qualquer desenvolvedor ou instituição poderá implementá-lo.

Outra inovação do setor é o lançamento, previsto para acontecer ainda em 2021, da Diem (antiga Libra), a stablecoin desenvolvida pelo Facebook. Criada inicialmente para ser lastreada por diversas moedas internacionais, a Diem deve começar com reservas apenas em dólar, mas, com o grande número de usuários do Facebook, tem potencial para logo se tornar uma das mais importantes do mundo.

A demanda por pagamentos mais eficientes e baratos impulsionou o Gabinete de Controladoria da Moeda (OCC) do EUA a permitir que bancos nacionais e associações de poupança federais utilizem stablecoins para a transação de pagamentos. Em uma Carta Interpretativa, o escritório independente constituído dentro do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos permite às instituições o uso de stablecoins, desde que os pagamentos sejam realizados de forma segura e de acordo com a legislação vigente.

7- Bitcoin a caminho da lua

Durante o início da pandemia da covid-19, o bitcoin alcançou um de seus maiores declínios, atingindo cerca de 3.600 dólares em março de 2020. Entretanto, os investidores viram este valor quintuplicar ao final do ano, devido a investimentos de influenciadores e instituições financeiras, como PayPal e MicroStrategy, já mencionados anteriormente.

Alguns experts do mercado estão confiantes quanto ao aumento do valor do bitcoin ao longo de 2021, especulando-se que se aproxime de 170 mil dólares até o final do ano.

De acordo com analistas da Bloomberg, o valor do Bitcoin pode atingir 50 mil dólares, com capitalização de mercado de 1 trilhão de dólares, ainda em 2021, em consequência da alta demanda, adoção, interesse de instituições e redução no volume de mineração do bitcoin.

Para Alex Mashinsky, fundador da Celsius Network, este valor é devido a transição de tipos de investirores que possuem bitcoin, de especuladores de curto para compradores corporativos de longo prazo. Além disso, este vê o bitcoin como uma moeda de proteção contra a desvalorização do dólar, fonte de rendimento e meio seguro contra a impressão contínua de dinheiro.

Já para especialistas do Citibank, o Bitcoin pode atingir 318 mil dólares, devido a mudança na política monetária do Federal Reserve dos Estados Unidos durante a pandemia do coronavírus. Hoje o BTC representa 7% do mercado de ouro e, com o pacote de incentivos de Joe Biden, de 1.9 trilhão de dólares, analistas prevêem um crescimento ainda maior da demanda por bitcoin.

Entretanto, para os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, que fundaram a bolsa Gemini, o valor do bitcoin poderá alcançar, aproximadamente, 45 vezes o valor atual, atingindo 500 mil dólares. Para os irmãos, o motivo de tamanha valorização está relacionada a moeda ser a única forma atual de proteção de longo prazo contra a inflação.

A tendência e aceitação de ativos digitais é notável e está em constante ascensão, principalmente, em um mercado mundial economicamente instável. A capitalização de mercado do bitcoin já atingiu mais 1 trilhão de dólares neste começo de 2021. Para tal, bolsas têm adquirido novos investidores constantemente, expressado pela quantidade de pessoas que possuem cripto ativos (aproximadamente 100 milhões de pessoas) e na quantidade de carteiras criadas em 2020 (cerca de 17 milhões).

A possibilidade de instituições financeiras fornecerem serviços de emissão, negociação, liquidação, transferência e custódia para pagamentos em ativos digitais, eliminando volatilidades e ampliando sua adoção é crescente, uma vez que em princípio, qualquer ativo pode ser tokenizado.

Essa tokenização de ativos seria capaz de oferecer ao mercado de capitais maior transparência, economia de custos e acessibilidade, permitindo maiores investimentos e inovações. Diante deste cenário, espera-se que os ativos tokenizados substituam diversos produtos financeiros tradicionais, com uma grande perspectiva já para o mercado de dívidas, ações e imóveis.

  • No mercado de dívidas mundial apenas 106 trilhões de 258 trilhões de dólares são negociados como títulos em mercados de capitais públicos, entretanto, a tokenização deste mercado poderá proporcionar taxas baixas, liquidações mais rápidas em um mercado global.
  • A digitalização de ações permitirá a abertura de um mercado secundário, viabilizando uma administração mais eficiente de ativos entre os investidores.
  • No setor imobiliário apenas 3,1% de um mercado de 258 trilhões de dólares é negociado em um mercado imobiliário público. Ao tokenizar imóveis, estes também poderiam ser negociados a partir de fundos, proporcionando uma base mais expressiva de investidores.

Isso demonstra que ativos tokenizados e a digitalização do mercado financeiro como um todo, aperfeiçoará serviços atualmente ineficientes e com falhas de desempenho, proporcionando maior transparência e distribuição de informação, liquidez e automação de dados financeiros.

Dessa forma, podemos observar que a tecnologia blockchain e criptomoedas se tornaram instrumentos permanentes e fundamentais no mercado de capitais. Portanto, bancos, bolsas e instituições financeiras deverão se posicionar e se preparar para participar deste mercado digital extremamente lucrativo, que a cada dia cria novas soluções, produtos inovadores e infraestruturas de mercado extraordinárias.