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O alfabeto do futuro do trabalho: conheça a geração T

Está na hora de se reciclar, ou você ficará na geração U, de ultrapassado

Futuro do trabalho e IA (Autor - Imagem gerada por IA/Exame)

Futuro do trabalho e IA (Autor - Imagem gerada por IA/Exame)

Adriano Lima
Adriano Lima

Autor do livro "Você em Ação"

Publicado em 12 de março de 2025 às 19h05.

Independentemente do seu ano de nascimento, a questão que se coloca agora é: em qual geração você se encontra, considerando o cenário atual e o futuro do trabalho? Mais do que apenas pensar em X, Y, Z e outras denominações, a nova equação geracional introduz uma variável fundamental: T. Seria essa letra representativa do "tempo", capaz de englobar todas as demais?

Em certa medida, sim, pois o tempo é incessantemente dinâmico. Por essa razão, talvez "transformação" seja um termo mais preciso para definir essa nova geração à qual todos nós pertencemos, embora muitos ainda não tenham se dado conta disso.

Se você ainda não se sente parte desse grupo, esteja atento para não se encontrar na geração U, que, apesar de vir depois do T na ordem alfabética, simboliza os ultrapassados.

Uma pesquisa da McKinsey revelou que 40% dos trabalhadores em todo o mundo consideram mudar de área nos próximos anos, impulsionados pela necessidade de se adaptar a um mercado em constante metamorfose.

Essa tendência não surge isoladamente, mas ecoa as ideias do sociólogo Zygmunt Bauman sobre a modernidade líquida, onde a efemeridade reina e tudo está em fluxo contínuo. Podemos ampliar essa visão, incorporando um toque de arte ao tema: assim como o Cubismo fragmentou a realidade em múltiplas perspectivas e o jazz revolucionou a música por meio da improvisação, a geração T está desconstruindo a noção tradicional de carreira para construir algo mais dinâmico, fluido e repleto de possibilidades.

A única certeza é a incerteza

A pandemia acelerou esse processo, mas suas raízes são profundas. Avanços tecnológicos, novos modelos de trabalho e a busca por propósito estão remodelando o significado de ter uma carreira ou pertencer a uma geração específica.

Os profissionais não são mais definidos por um único emprego ou área de atuação, mas pela capacidade de aprender, desaprender e reaprender de forma contínua. E aqui reside o ponto crucial: todos nós já fazemos parte da geração T, quer tenhamos percebido ou não. Seja você um executivo experiente, um jovem empreendedor ou alguém em transição de carreira, a habilidade de transitar entre projetos e se reinventar é o novo padrão.

O futuro do trabalho não é estático e, como diria Bauman, a única certeza é a incerteza. A pergunta é: você está preparado para abraçar essa revolução? Negar essa revolução é ignorar as transformações que estamos presenciando e que impactam cada vez mais o futuro do trabalho. Vejamos alguns exemplos:

Trabalho híbrido

Embora muitas empresas estejam incentivando o retorno aos escritórios, o modelo híbrido deixará um legado duradouro, não apenas como uma mudança logística, mas como uma transformação cultural que redefine a forma como nos conectamos e colaboramos. Nos novos ambientes de trabalho, essa tendência reflete a modernidade líquida de Bauman, onde estruturas rígidas cedem lugar a arranjos flexíveis e adaptáveis.

Além disso, assim como o Cubismo fragmentou a realidade em múltiplas perspectivas, o trabalho remoto permitiu que os profissionais vissem suas carreiras sob diferentes ângulos: em casa, no escritório ou em qualquer lugar do mundo.

A liberdade geográfica e temporal abriu caminho para uma nova forma de produtividade, onde a criatividade e a autonomia são tão valorizadas quanto a presença física. E, como no jazz, onde a improvisação e a colaboração acontecem em tempo real, o trabalho híbrido exige que os profissionais se adaptem e se conectem de forma ágil e eficiente. Isso é a geração T!

Economia de projetos e Gig Economy

A ascensão da Gig Economy e da economia de projetos está redefinindo o conceito de emprego. Retomamos Bauman com sua ideia de "individualização", na qual cada pessoa é responsável por construir sua própria trajetória, sem depender de estruturas rígidas.

Assim como os artistas cubistas combinavam diferentes materiais e técnicas em uma única obra, os profissionais da geração T integram múltiplos projetos e habilidades em suas carreiras.

No jazz, cada músico traz sua própria voz para criar uma harmonia única. Da mesma forma, a economia de projetos valoriza a diversidade de experiências e a capacidade de inovação. No entanto, essa liberdade exige autorresponsabilidade e uma gestão cuidadosa do tempo e dos recursos, um desafio para os "Ts".

Aprendizado contínuo

A necessidade de aprendizado contínuo é uma marca registrada da geração T. Um relatório do Fórum Econômico Mundial apontou que 50% dos trabalhadores precisarão de requalificação até este ano, e 40% das habilidades atuais se tornarão obsoletas em menos de cinco anos. Essa tendência reflete a modernidade líquida, a de que a única constante é a mudança.

E assim como os cubistas desafiaram as noções tradicionais de arte, os "Ts" desafiam as noções tradicionais de educação e carreira. E, como no jazz, no qual a improvisação exige domínio técnico e criatividade, o aprendizado contínuo requer disciplina e curiosidade. Profissionais que abraçam essa mentalidade estão mais preparados para navegar em um mercado em constante transformação.

Automação e inteligência artificial

A automação e a IA estão transformando setores inteiros, mas também criando novas oportunidades. Segundo a PwC, até 30% dos empregos atuais podem ser automatizados até 2030, mas novas funções surgirão em áreas como análise de dados e gestão de sistemas inteligentes.

Assim como o Cubismo reinterpretava a realidade a partir de formas geométricas, a tecnologia permite que novas formas e modelos de trabalho sejam escritos em linhas de programação, em termos de eficiência e inovação. E, como a tecnologia amplificou as possibilidades sonoras no jazz, a IA amplifica as capacidades humanas, exigindo que os profissionais desenvolvam habilidades complementares, como pensamento crítico e criatividade.

Soft skills em alta

Habilidades como comunicação, empatia e resiliência estão se tornando tão importantes quanto as competências técnicas. Na modernidade líquida, isso se traduz na capacidade de se relacionar e colaborar, pontos cruciais em um mundo volátil.

No Cubismo, a valorização da expressão individual dentro de uma obra coletiva era possível por meio do relacionamento em equipes diversas e multiculturais. E, no jazz, a conexão entre os músicos é fundamental para a harmonia. A capacidade de se comunicar e colaborar é crucial para o sucesso na geração T.

Diversidade e inclusão

Apesar de alguns movimentos de empresas fora do Brasil sobre esse tema, a diversidade não é apenas uma questão social, mas um imperativo de negócios. Segundo a McKinsey, empresas com equipes diversas têm 35% mais chances de superar seus concorrentes.

Essa tendência reflete a pluralidade de perspectivas da modernidade líquida, essencial para a inovação. Assim como o Cubismo combinava influências de diferentes culturas, a diversidade no trabalho enriquece as organizações com novas ideias e abordagens. E, como no jazz, onde a fusão de estilos cria novas sonoridades, a inclusão de diferentes vozes e experiências gera soluções mais criativas e eficazes.

Propósito e bem-estar

A busca por propósito no trabalho e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional estão no topo das prioridades dos profissionais. Essa tendência reflete a modernidade líquida, na qual a realização pessoal é tão importante quanto o sucesso financeiro.

Assim como os artistas cubistas buscavam expressar novas visões de mundo, os profissionais da geração T buscam projetos que tenham significado e impacto. E, como a liberdade artística é essencial para a expressão no jazz, o bem-estar e o propósito são fundamentais para a motivação e a produtividade.

Sustentabilidade e impacto social

A preocupação com a agenda ESG está moldando as decisões de carreira. Na modernidade líquida, a responsabilidade individual e coletiva é essenciais para o futuro. Assim como o Cubismo desafiou as convenções artísticas, a sustentabilidade desafia as práticas tradicionais de negócios. E, como a improvisação no jazz abre novas possibilidades, a inovação sustentável abre caminhos para um futuro mais equilibrado.

Experimente e aprenda sempre

Gerenciar uma carreira na geração T exige mais do que habilidades técnicas ou um currículo impressionante. É preciso adotar uma mentalidade de aprendizado contínuo, adaptabilidade e autogestão. O primeiro passo é mapear suas habilidades e identificar lacunas. Ferramentas como avaliações de competências e feedbacks de colegas podem ajudar a entender onde você está e para onde quer ir.

Outro aspecto crucial é construir uma rede de contatos estratégica e diversificada. Muitas oportunidades de trabalho surgem de conexões pessoais. Mas não se trata apenas de colecionar contatos, mas de criar relações significativas e colaborativas.

Participe de eventos do setor, engaje-se em comunidades online e busque mentores que possam oferecer insights valiosos. Lembre-se do jazz, onde a improvisação só funciona quando os músicos estão em em sintonia. Da mesma forma, sua rede de contatos deve ser uma fonte de inspiração e apoio mútuo, ajudando você a transitar entre projetos e oportunidades com mais confiança.

Por fim, invista em aprendizado contínuo e experimentação. Um relatório do Fórum Econômico Mundial aponta que 94% dos líderes empresariais esperam que seus colaboradores adquiram novas habilidades no trabalho. Não tenha medo de experimentar projetos paralelos ou áreas diferentes da sua expertise.

Como no Cubismo, no qual a justaposição de elementos díspares cria novas formas de arte, a combinação de experiências diversas pode levar a carreiras únicas e inovadoras. Comece pequeno, teste novas ideias e esteja aberto a ajustar o curso conforme necessário.

Tome nota! 

Abrace a geração T

A geração T não é uma questão de idade, mas de mentalidade. É a capacidade de se adaptar, aprender e inovar em um mundo em constante mudança. É abraçar a incerteza e transformar desafios em oportunidades. Para prosperar nesse novo cenário, é essencial:

  • cultivar a adaptabilidade: esteja aberto a mudanças e disposto a aprender novas habilidades.
  • investir em aprendizado contínuo: mantenha-se atualizado com as tendências do mercado e busque novas formas de conhecimento.
  • construir uma rede de contatos diversificada: conecte-se com pessoas de diferentes áreas e gerações.
  • desenvolver habilidades interpessoais: a comunicação, a empatia e a colaboração são essenciais para o sucesso.
  • buscar propósito e bem-estar: encontre um trabalho que tenha significado e que proporcione equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
  • se atentar a sustentabilidade e responsabilidade social: busque trabalhos e empresas que tenham responsabilidade com o futuro.

Lembre-se: o futuro do trabalho não é estático. A geração T está redefinindo o conceito de carreira, transformando o trabalho em uma jornada de aprendizado contínuo e inovação. Esteja pronto para abraçar essa revolução e construir uma carreira de sucesso no novo cenário profissional.

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