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Quais são os principais desafios da descarbonização na aviação? Estudo da Bain & Company explica

O setor está unido na busca pela redução de emissões, mas são necessários cronogramas e metas mais realistas, alerta a consultoria

(Waitforlight/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 6 de março de 2023 às 08h00.

A urgência na redução das emissões já é consenso na indústria e para alcançar a descarbonização. Em 2022, os 193 países membros da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) se comprometeram a atingir a neutralidade das emissões líquidas de carbono até 2050, um compromisso alinhado com os limites propostos pelo Acordo de Paris para conter o aquecimento global em, no máximo, 2ºC neste século.

Porém, um novo estudo da Bain & Company sobre o tema mostra que, apesar da melhora a eficiência da queima de combustível ser a abordagem mais eficaz para reduzir as emissões, grandes desafios tornam improvável o cumprimento das metas do setor.

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A pesquisa da consultoria alerta, por exemplo, que um investimento cumulativo de US$ 1,3 trilhão na produção de combustível sustentável seria suficiente apenas para cerca de 20% da demanda prevista para o setor em 2050.

Redução das emissões de carbono

É provável que os progressos tecnológicos desenvolvidos nos próximos anos contribuam para a redução de emissões, mas, ainda assim, de acordo com o estudo, serão necessários grandes avanços científicos. O setor precisará fazer escolhas e estender seu cronograma para atingir suas metas, especialmente se o tráfego aéreo continuar a crescer. Além disso, essas ações devem impactar no aumento do custo da aviação.

Atualmente, as três principais tecnologias para reduzir as emissões – combustível de aviação sustentável (SAF), hidrogênio e propulsão totalmente elétrica – têm obstáculos imensos. “Todas as três alternativas de combustível exigiriam trilhões de dólares em investimentos coordenados em P&D e fontes de energia renováveis”, afirma André Castellini, sócio sênior da Bain & Companhia, especialista no setor de aviação.

“A menos que haja subsídios governamentais sem precedentes, não teremos oferta de combustíveis alternativos e o investimento irá aumentar o custo de voar. Além disso, explorar todas as três alternativas pode diluir o investimento e retardar o progresso”, afima

Para Daniela Carbinato, sócia da Bain and Company e líder de ESG para a América Latina, a indústria da aviação também está competindo com outras indústrias por fontes de energia renováveis, que são limitadas. “À medida que o mundo procura reduzir as emissões, aumenta a necessidade de infraestrutura significativa e surgem problemas consistentes com oferta e demanda. Essa competição provavelmente também vai afetar o custo das viagens, as empresas precisam ser estratégicas se quiserem vencer a corrida”, alerta.

Mas, apesar da competição por recursos, também há colaboração e benefícios que a aviação pode alavancar em outros setores, especialmente o automobilístico. É o caso dos avanços nas baterias de veículos elétricos que, devido à grande eficiência energética, são uma solução interessante para descarbonizar a aviação no longo prazo, após 2050.

A recarga destas baterias, no entanto, traz alguns desafios e vai exigir investimentos significativos em novas infraestruturas aeroportuárias e afetar o tempo das aeronaves em solo. Voos com propulsão totalmente elétrica também serão possíveis, mas dificilmente atenderão ao cronograma de 2050.

O estudo mostra claramente os limites, desafios e custos de escalar a produção do SAF para substituir totalmente o querosene de aviação. Da mesma forma, é improvável que o hidrogênio consiga compensar grande parte das emissões da aviação até 2050, seja devido ao seu alto custo de produção ou aos desafios de abastecimento e economia do operador. Como o hidrogênio requer uma nova arquitetura de aeronave para acomodar tanques maiores – devido a sua baixa densidade volumétrica de energia –, as companhias aéreas teriam de escolher entre perder alcance de voo ou capacidade de passageiros.

Investimentos elevados

O estudo da Bain mostra que, para gerar 9 milhões de toneladas métricas de hidrogênio verde até 2050, seriam necessários entre US$ 250 bilhões e US$ 400 bilhões, e esse volume cobriria, no máximo, apenas 5% da projeção de RPKs (métrica calculada a partir da multiplicação do número de passageiros pagantes pelos quilômetros voados, usada para avaliar a demanda no setor).

A estratégia mais eficiente para descarbonização da aviação até 2050 deve combinar melhorias imediatas na eficiência de combustível com a renovação acelerada da frota, o uso máximo de SAF e aeronaves híbridas-elétricas.

Para a década de 2030, é esperada uma nova geração de aeronaves de corredor único projetadas para maior eficiência a partir de avanços na evolução dos motores. Além disso, com a capacidade de recarregar baterias durante o voo, não haveria a necessidade imediata da infraestrutura de carregamento em solo.

As estratégias a seguir

Apesar da quase impossibilidade da indústria em atingir a emissão zero até 2050, a pressão irá continuar e as empresas precisam escolher quais medidas tomar para atender às demandas que surgirão.

O setor de aviação deve abraçar essa incerteza, definir quais são suas escolhas, opções e aposta, avaliando de forma contínua o cenário e reconsiderando suas decisões.  O estudo daBain & Company indica os elementos iniciais dessas estratégias nos principais subsetores da indústria:

Fabricantes de aeronaves comerciais

Companhias aéreas

Governos

Fornecedores de combustível

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