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Pausa nos testes não é fim da linha para vacina de Oxford contra covid-19

Infectologistas ouvidos por EXAME acreditam que o acontecimento não deve afetar o avanço de outras vacinas, embora não deixe de ser preocupante

Coronavírus: pausa nos testes é comum em pesquisas científicas (Reuters/Reuters)

Tamires Vitorio

Publicado em 9 de setembro de 2020 às 09h50.

Última atualização em 9 de setembro de 2020 às 09h53.

Na noite desta terça-feira, 8, os testes clínicos da vacina da universidade britânica de Oxford em parceria com a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca contra o novo coronavírus foram pausados após um voluntário apresentar efeitos colaterais graves. Segundo o jornal americano The New York Times , o indivíduo teve mielite transversa, doença causada por um processo inflamatório na medula espinhal, comumente causado por infecções virais.

A pausa nos testes, no entanto, não significa que os demais voluntários deixarão de fazer parte da pesquisa. O que isso significa é que, a partir de agora, a universidade e a farmacêutica não aceitarão mais novos voluntários e que os demais continuarão a ser monitorados de perto por equipes médicas, a fim de identificar se novos efeitos adversos irão ocorrer. Um processo comum durante o período de testes de uma vacina.

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Um porta-voz da AstraZeneca descreveu a pausa ao site de notícias de saúde StatNews como "uma ação de rotina que deve acontecer sempre que houver uma doença potencialmente inexplicada em um dos testes, enquanto ela é investigada, garantindo a manutenção da integridade dos resultados".

Agora, o comitê de monitoramento de segurança do estudo irá analisar se o caso tem ou não relação com a vacina.

Os testes devem ser retomados assim que eles tiverem uma explicação maior sobre as causas da doença, que ainda não teve a causa confirmada. "Isso mostra uma responsabilidade da empresa. Agora será investigado se a doença é ou não efeito colateral da vacina, uma vez que pode ser patológico do paciente", explica a Dra. Jane de Oliveira Gonzaga Teixeira, infectologista e gerente médica de produtos clínicos na Sharecare. Caso a vacina seja realmente apontada como a causadora da doença no paciente, para Teixeira, a ideia é identificar qual componente causou a reação e modificá-lo o mais rápido possível.

Em nota enviada à EXAME , a Universidade Federal de São Paulo - Unifesp (uma das responsáveis pelos testes da vacina da universidade britânica do Brasil) afirmou que, por aqui, "o estudo envolve cinco mil voluntários e avança como o esperado". "Muitos já receberam a segunda dose e até o momento não houve registro de intercorrências graves de saúde", afirmou a universidade.

Chamada de ChAdOx1 (AZD1222), a proteção de Oxford e da AstraZeneca é baseada no adenovírus (grupo de vírus que causam problemas respiratórios, como resfriados) enfraquecido de um chimpazé. A vacina do Instituto de Biotecnologia de Pequim em parceria com a empresa chinesa CanSino também é feita com base no adenovírus, que não é um processo totalmente desconhecido pelos cientistas.

A opção também contém a sequência genética das espículas do SARS-CoV-2. “Quando a vacina entra nas células dentro do corpo, ela usa o código genético para produzir as espículas de proteínas do vírus. Isso induz a uma resposta imune, o que prepara o sistema imunológico para atacar a doença se ela infectar o corpo”, explica a universidade britânica em um comunicado publicado em seu site oficial.

Para o médico Jorge Elias Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração, em São Paulo, a pausa nos testes é "preocupante", apesar de ser comum. "Essa é a vacina que estaria mais adiantada e, com isso, talvez atrase um pouco", afirmou Kalil em entrevista por telefone. "Um ensaio clínico desse tamanho sempre pode trazer essas surpresas."

Kalil também acredita que o acontecimento não deve afetar o avanço de outras vacinas. "Isso sempre atrapalha um pouco o recrutamento de voluntários, mas não deve impactar outros testes, eles irão continuar acontecendo da mesma forma", disse.

O doutor em microbiologia e divulgador científico, Atila Iamarino, publicou em seu perfil no Twitter que "é nessa fase que se detectam reações mais raras" de uma proteção contra uma determinada doença. "Isso é sinal de um teste clínico sendo feito. É comum ter reações não relacionadas", disse.

A vacina de Oxford está atualmente na fase 2/3 de testes na Inglaterra e na Índia e na fase 3 no Brasil, na África do Sul e em mais de 60 locais nos Estados Unidos --- onde a vacina seria testada em 30 mil pessoas. É também considera a opção mais avançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

As decisões, assim que tomadas, poderão alterar o curso dessa vacina --- mas outras também estão avançando aos poucos.

Segundo o último relatório da OMS, publicado na terça, 34 candidatas estão na fase de testes clínicos, sendo que 8 estão na última fase. São elas: a chinesa da Sinovac Biotech (também testada no Brasil); a da também chinesa Sinopharm; a própria proteção de Oxford; a americana Moderna; a da Pfizer e BioNTech; a russa do Instituto Gamaleya e, por fim, a chinesa CanSino.

A corrida pela cura

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola , considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.

Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.

Quais são as fases de uma vacina?

Para uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz, sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e tenta demonstrar a eficácia da droga.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população.

Com isso, as medidas de proteção, como o uso de máscaras, e o distanciamento social ainda precisam ser mantidas. A verdadeira comemoração sobre a criação de uma vacina deve ficar para o futuro, quando soubermos que a imunidade protetora realmente é desenvolvida após a aplicação de uma vacina. Até o momento, nenhuma situação do tipo aconteceu.

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