Esta é a área do cérebro que pode estar associada à psicopatia
A atividade mental pode variar de acordo com nossas escolhas morais
Ariane Alves
Publicado em 3 de dezembro de 2018 às 05h55.
Última atualização em 3 de dezembro de 2018 às 05h55.
São Paulo - Um dos grandes focos da neurociência atualmente é compreender como se formam os julgamentos morais no cérebro humano. Os cientistas apostam que, ao descobrir exatamente como o cérebro se comporta diante de situações de escolha, ficará mais fácil antecipar tendências de desvios psicológicos , como a psicopatia, por exemplo. Um novo estudo indica que existe uma relação entre as atitudes associadas a psicopatas com a região lateral esquerda do córtex pré-frontal (a parte do cérebro envolvida na tomada de decisões e na aprendizagem)–ainda que a peça não seja conclusiva.
Para investigar o tema, os pesquisadores do Departamento de Saúde dos Estados Unidos realizaram dois estudos diferentes. O primeiro, feito com 33 participantes, envolvia duas versões do famoso “Dilema do Bonde”, questionamento de caráter moral feito para analisar as escolhas das pessoas envolvidas. Durante o estudo, a atividade cerebral dos participantes era medida com a técnica da espectroscopia de infravermelho, a fim de saber quais áreas do cérebro eram mais ativadas durante as escolhas.
Matar uma pessoa ou deixar que cinco morram?
O Dilema do Bonde foi exposto aos participantes em duas versões. A primeira narrava uma situação em que um bonde desgovernado está prestes a matar cinco pessoas, mas há a possibilidade de empurrar uma outra pessoa de uma passarela para pará-lo. Nessa versão, conhecida como “abordagem pessoal”, a maioria dos participantes escolhe não empurrar a pessoa e deixar o trem agir sozinho, matando as outras cinco.
Já a “abordagem impessoal” é a versão clássica do dilema: o participante deve escolher se um bonde desgovernado seguirá por um trilho onde está apenas uma pessoa ou por outro onde se encontram cinco pessoas. Neste caso, a opção que causa uma morte só é a mais escolhida.
Os resultados do primeiro estudo, publicado no periódico Brain and Behaviour, revelaram que, de fato, partes diferentes do cérebro são ativadas em cada situação. Mais notadamente, a opção de não empurrar a pessoa para parar o trem no primeiro cenário provocou uma resposta particular na região lateral esquerda do córtex pré-frontal (a parte do cérebro envolvida na tomada de decisões e na aprendizagem).
Atividade cerebral varia com o caráter das escolhas feitas
O segundo estudo, feito com 37 pessoas que responderam a um questionário com perguntas de julgamento moral, pretendia medir a relação entre a atividade do cérebro nessas situações e a identificação de traços de psicopatia.
Os pesquisadores descobriram que, nos dilemas pessoais apresentados, os traços psicopáticos clássicos, como a frieza e a falta de preocupação, estavam associados à atividade nas regiões laterais esquerdas do córtex pré-frontal. Já nos dilemas impessoais, era o córtex pré-frontal lateral direito que se ativava durante as questões que testavam o egocentrismo maquiavélico, a inconformidade rebelde, a frieza e a falta de preocupação.
A equipe indica que os resultados marcam apenas o início de uma série de pesquisas futuras para estabelecer a relação completa entre as tomadas de decisão de caráter moral e a atividade do cérebro. “Nosso estudo apresenta dados e resultados que esclarecem como a atividade neural funcional e o comportamento podem estar vinculados. Esperamos que a espectroscopia de infravermelho possa eventualmente ser usada para avaliar distúrbios que se manifestam em comportamentos que refletem traços psicopáticos, como transtorno de personalidade antissocial, transtorno de conduta etc ”, disse Amir Gandjbakhche, coordenador do estudo, ao site PsyPost.
“Esse projeto potencialmente ajudará na criação de uma ferramenta que permita a detecção precoce de traços psicopáticos, o que pode levar a melhores diagnósticos, tratamentos e resultados preferenciais para os pacientes e a sociedade”, completou o pesquisador.