45% dos brasileiros acreditam ser preciso controlar o parceiro
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Quantas - para divulgar o filme Amor e Dor, primeiro longa de ficção de Gustavo Rosa de Moura
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de outubro de 2016 às 15h57.
Última atualização em 15 de junho de 2020 às 14h59.
São Paulo - Quase metade (45%) daqueles que vivem um relacionamento acreditam que há necessidade de controlar o parceiro, três quartos dizem já terem sofrido controle e 67% admitem já terem exercido controle.
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Quantas - para divulgar o filme Amor e Dor, primeiro longa de ficção de Gustavo Rosa de Moura, com estreia prevista para o próximo dia 3.
Foram ouvidas 802 pessoas maiores de 16 anos, das classes A, B e C, moradoras das nove principais regiões metropolitanas do País.
A produtora cultural Fernanda (nome fictício), de 23 anos, sabe bem o que é viver um relacionamento complicado. Ela morava com o namorado, com quem tinha um relacionamento há três anos.
Um dia, quando chegou em casa, ficou chocada: ele havia entrado em seu computador e transferido todos os e-mails e mensagens de redes sociais da conta dela para a dele.
"Ficou com todas as minhas conversas de anos e anos na íntegra. Ele disse que iria 'estudar' as mensagens para saber se em algum momento eu entrasse em contradição", conta.
Não satisfeito, o então namorado apagou um amigo da agenda de contatos de Fernanda. "E o bloqueou de todas as minhas redes sociais. Antes, mandou uma mensagem para ele de meu perfil, dizendo que não poderíamos mais conversar", recorda-se.
A situação ficou insustentável. Mas a gota d'água ocorreu semanas depois desse episódio traumático, quando ao flagrá-la em uma troca de mensagens de WhatsApp com um amigo, arrancou o celular de sua mão e quebrou o aparelho. Fernanda foi embora de casa.
"Deixei tudo o que havíamos comprado juntos para trás. Fiquei só com a câmera fotográfica, o computador e uma mala de roupas", diz.
Separação
O rompimento, como o de Fernanda, é difícil para a maior parte das pessoas. De acordo com a pesquisa, 63% das pessoas já insistiram em um relacionamento mesmo sem estarem felizes.
Na distribuição de motivações (quando o entrevistado podia responder mais de um afirmação), 54% diziam que assim agiam porque ainda acreditavam em algum envolvimento afetivo, 24% pela segurança social (família e amigos do parceiro), 22% pela segurança econômica, 37% por causa de filhos, 20% por acomodação, 16% pelo sexo e 15% pelo medo de ficar sozinho.
"A grande surpresa da pesquisa é que apesar de 45% dos entrevistados dizerem que é preciso controlar o parceiro, a grande maioria das pessoas, 79%, dizem confiar no parceiro", afirma Karla Mendes, diretora do Instituto Quantas.
Para ela, a tecnologia contemporânea "favorece o desejo de controle", em casos em que "essa semente já existia". "Por um lado, a tecnologia favorece a facilidade do acesso ao outro. Por outro lado, ajuda que o controle seja exercido", diz Karla. "É como se você invadisse o espaço dos outros com menos medo."
A apresentadora, cineasta e atriz Marina Person, de 47 anos, que encarna a protagonista do filme Amor e Dor, já viveu situações de controle em relacionamentos na vida real.
"Tive um namorado que chegou a ler meu diário. Perdi a confiança totalmente", conta. "Mas não foi o único: houve um outro que queria saber tudo o que estava acontecendo, com quem eu estava falando, sobre meus relacionamentos antigos, tudo o que já tinha acontecido."
Apesar de seus casos "problema" terem ocorrido bem antes do advento das redes sociais, ela acredita que a tecnologia propicia um maior afloramento dessas tendências.
"Facilita a vida do paranoico. As redes sociais são infernais nesse sentido. É um horror isso", define.