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Viagem sem covid-19? Seja bem-vindo a bordo do luxuoso Trem Azul sul-africano

Com teste de covid-19 negativo, passageiros são autorizados a embarcar no Trem Azul e a percorrer mais de 1.600 km em dois dias de viagem de luxo pela África do Sul

Vista interior do Trem Azul, na estação de trens da Cidade do Cabo. (Marco Longari/AFP)
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Julia Storch

Publicado em 10 de março de 2021 às 13h10.

Última atualização em 10 de março de 2021 às 17h32.

Na estação, os primeiros autorizados tomam um drinque, onde garçons uniformizados distribuem tira-gostos em uma sala privativa, enquanto alguns grupos se deslocam em vans para um centro de testes rápidos anticovid.

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Em menos tempo do que a duração do almoço, dezenas de passageiros do Trem Azul, composto de 19 vagões onde reinam o cobre e a madeira, terão recebido o resultado negativo para a covid-19 e então poderão começar sua aventura.

Dois dias, 48 horas para não pensar em nada, permitir-se ser cuidado, brincar de serem príncipes e princesas. Atravessar a enorme África do Sul ao longo de 1.600 quilômetros a partir da Cidade do Cabo, extremo sul do país, até a capital, Pretória, entre campos e favelas, centros urbanos e paisagens de sonho.

Antes do coronavírus, "99% dos passageiros eram estrangeiros", como australianos, britânicos e principalmente japoneses. E o preço altíssimo era impossível para os nativos, mesmo para os que têm condições.

Após vários meses de desemprego, o prestigiado percurso, cuja linha está em operação há mais de 70 anos, retomou suas atividades em novembro com "99% dos passageiros sul-africanos", pela metade do preço.

"Eu sonhava com isso há muito tempo, mas não podia ter acesso antes", afirma Mashiko Setshedi, médico da Cidade do Cabo, acompanhado de sua mãe de 67 anos. A maioria dos outros viajantes são casais, brancos e idosos.

"Normalmente estaríamos nos Estados Unidos. Mas por causa da covid-19 agora exploramos o país. O Trem Azul era tentador para nós, meus avós o pegaram e me contavam", explica Bennie Christoff, consultor financeiro de 54 anos, acompanhado da esposa.

Mordomo do Trem Azul carrega a bagagem de passageiros na saída da estação ferroviária da Cidade do Cabo. (Marco Longari/AFP)

Luxo da morosidade

Mesmo com os preços baixos, a viagem custa no mínimo 1.300 euros por pessoa com pensão completa. Uma pequena fortuna neste país de grandes desigualdades.

"Os clientes só fazem a viagem uma vez na vida", conta Simon Moteka, barman de 43 anos, preocupado em fornecer um serviço "exemplar". Ele conversa de forma fluida, mas brinca apenas se o passageiro for brincalhão, porque acima de tudo está a discrição.

Na hora do jantar, os homens devem usar terno, as mulheres se apresentam da maneira "mais elegante possível", avisa o diretor do trem por meio de alto-falantes.Chinelos e shorts são proibidos. Os clientes, perfumados e arrumados, se cumprimentam no corredor estreito enquanto se dirigem ao vagão-restaurante, como em um filme de época.

O primeiro serviço aproveita a luz proveniente de Karoo, uma área semidesértica, dominada pelo ocre e povoada por ovelhas do mesmo tom. A paisagem passa, o sol se põe no horizonte.

O menu propõe diferentes opções, com taças de vinho para acompanhar cada prato. Na sobremesa, é servido um vinho doce sul-africano de Constantia, "o preferido de Mandela", conta Sydney, responsável pela sala, ou um conhaque de uva, antes de dirigirem-se à parte de trás do trem, onde ficam o vagão panorâmico, o clássico bar e a zona para fumantes.

Do café da manhã ao charuto noturno, tudo está incluído no preço. O dinheiro não circula, pois os passageiros guardaram suas carteiras desde o início da viagem para "curtir o luxo e a morosidade".

Esther Ndhlovu, chefe de cozinha a bordo do Trem Azul, fala com passageiros (Marco Longari/AFP)

Fadas invisíveis

Da leitura ao jogo de cartas, e até mesmo cochilos, cada um segue ali seu próprio ritmo. "As pessoas relaxam, apreciam a vista, não há nada para fazer", explica Babs Dutoit, que viaja com o marido, Piet, ferroviário aposentado.

O Trem Azul, joia da empresa pública Transnet, enfrenta um grande desafio, pois algumas estações ferroviárias foram roubadas durante o confinamento por pessoas em situação precária por causa da pandemia. Seu diretor, Sechan Pillay, não esconde o fato de que não sabe se o trem poderá ir a Pretória. Mas passa segurança aos passageiros. Se algo acontecer, eles serão levados a um bom lugar para desembarcar, de qualquer maneira.

Durante o jantar, as camareiras, como fadas invisíveis, transformam as cabines para a noite, fazendo as camas caírem de seus esconderijos na parede. Em instantes, surgem um colchão firme e um delicioso edredom. Ao amanhecer, depois de uma ducha quente ou de uma passagem na banheira nas cabines mais luxuosas, todos contam como passaram a noite.

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