São Paulo – Em meio à intensa competição trazida pela crise econômica, profissionais capazes de trazer soluções criativas para cortar custos e ampliar a receita são disputados a tapa pelas empresas.
O problema é que o foco da maioria dos empregadores está em contratar – e reter – funcionários que se destaquem por sua produtividade .
Há aí uma preocupante contradição, defende o psicólogo norte-americano Art Markman, professor na Universidade do Texas, em Austin.
Para ser produtivo, explica ele, um profissional precisa ser sistemático. Ele deverá organizar seu trabalho em etapas muito claras e definidas que levarão a um resultado previsível.
A criatividade funciona de forma antagônica. “Ela precisa de tempo e espaço para crescer”, escreve Markman em artigo para a Harvard Business Review. “Embora seja possível sistematizar algumas atividades ligadas à criatividade, é difícil sistematizá-la em si”.
Em termos práticos: você pode fixar reuniões de brainstorming toda quinta-feira pela manhã, por exemplo, mas jamais conseguirá fazer cálculos ou previsões sobre o que, de fato, sairá desses encontros.
Segundo Gisela Kassoy, especialista em inovação , as ideias realmente originais só aparecem se houver poucas amarras. “Só saímos do clichê quando nos permitimos falar besteiras”, diz ela.
Então deixar o pensamento livre sempre nos torna menos produtivos? Para Markman, é inevitável que sim.
“Você precisa de tempo para aprender coisas que são irrelevantes para o seu trabalho", afirma o professor. "Só assim terá um conhecimento amplo e profundo do qual extrair referências quando precisar ser criativo”.
Tome-se o exemplo do engenheiro suíço Georges de Mestral, que inventou o velcro nos anos 1940. Ele não desenvolveu a nova tecnologia num dia compenetrado de trabalho em seu laboratório: a ideia genial surgiu quando, num passeio descontraído com o cachorro pelas montanhas, Mestral notou que sementes de uma determinada planta aderiam ao pelo do animal.
Tempo mal gasto?
A inovação de que tanto precisam as empresas, argumenta Markman, dificilmente será possível por meio de um esforço constante e mensurável. Ela surgirá inesperadamente, assim como no relaxado passeio de Mestral com seu cão pelos Alpes suíços.
Além de não ser programável, a criatividade de um profissional é alimentada por investimentos que parecem fúteis e superficiais sob o olhar do empregador – de conversas aleatórias na hora do cafezinho a cursos sobre assuntos “inúteis” para o ramo da empresa.
Há ainda um agravante adicional: a maioria dos empregadores avalia seus funcionários com base em sua produtividade.
De acordo com Markman, as companhias querem pessoas que façam progressos claros e visíveis, e costumam investir mais naquelas que simplesmente conseguem terminar suas tarefas.
Está errado, diz o professor. Se o objetivo é fomentar a criatividade, as empresas deveriam oferecer mais tempo livre para atividades pouco produtivas.
“Os chefes precisam recompensar os funcionários que se engajam em projetos que levam a soluções criativas, como aprender coisas novas, desenvolver novas habilidades, ter conversas ecléticas e experimentar ideias que não funcionam”, escreve ele. “Isso exige que gestores obcecados por produtividade controlem menos o tempo de suas equipes”.
Se a iniciativa não partir do empregador – ainda mais em meio ao nervosismo e à paralisia decorrentes da crise – a saída é buscar "alívio" por sua própria conta.
Para Adriana Baraldi, integrante do Fórum de Inovação da FGV (Fundação Getúlio Vargas), uma ótima forma de fazer isso é “perder tempo” com assuntos que nada têm a ver com a sua área ou profissão.
Afinal, diz ela, a multidisciplinaridade sempre anda de mãos dadas com a inovação. Se você trabalha com automóveis, por exemplo, experimente discutir seus problemas com alguém que lida com cosméticos. A conversa pode ser pouco produtiva, é verdade – mas também pode ser o primeiro passo em direção a uma ideia surpreendentemente original.
- 1. O despertar da imaginação
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São Paulo - Problemas novos exigem soluções novas. Num mundo em constante transformação, a
criatividade se tornou uma das competências mais valorizadas pelo
mercado de trabalho . Até nas áreas mais “técnicas”. Nesta galeria, reunimos 14 palestras com menos de 20 minutos de duração a respeito dos mecanismos por trás da inventividade humana. As
apresentações desta lista propõem que a criatividade seja vista não como um talento excepcional reservado a alguns "gênios", mas como uma atitude a ser cultivada sistematicamente pela sociedade. As conversas foram extraídas do TED e do TEDx, duas séries de conferências sem fins lucrativos, e são ministradas por especialistas brasileiros e estrangeiros. Navegue pelos slides a seguir para assistir às palestras. Para habilitar legendas em português, clique no ícone retangular no canto inferior direito do vídeo.
2. "Como construir sua confiança criativa" 2 /16
O premiado designer David Kelley não acredita que ambientes de trabalho devam ser divididos entre profissionais “técnicos” e “criativos”. Para ele, qualquer pessoa tem aptidão para conceber ideias novas - basta desenvolver confiança para tal. Mas como fazer isso? É o que Kelley explica neste vídeo.
3. "Escolas acabam com a criatividade" 3 /16
Criatividade é tão importante quanto alfabetização, na visão do autor e consultor Ken Robinson. Neste vídeo, ele descreve os três princípios mais básicos por trás da inventividade humana, e explica por que é urgente fazer com que as escolas sejam capazes de formar gerações mais criativas do que as anteriores.
4. "4 lições de criatividade" 4 /16
Ao longo de sua carreira, a radialista Julie Burnstein colecionou histórias sobre a criatividade transmitidas por figuras do mundo da cultura, como a escritora Isabel Allende e a cantora Patti LuPone. Nesta palestra, a autora divide com a plateia quatro lições sobre como inovar frente às adversidades e à desesperança.
5. "A criatividade é um remix" 5 /16
Quem nunca ouviu a máxima “Nada se cria, tudo se copia”? Na visão de Kirby Ferguson, criador da websérie “Everything is a remix”, ideias 100% originais não existem. De Steve Jobs a Bob Dylan, diz o palestrante neste vídeo, os gênios criativos tomam ideias antigas emprestadas. O que fazem é “remixagem” delas - de forma brilhante, claro.
6. "De onde vêm as boas ideias" 6 /16
Como nascem os insights? Nesta conversa, o escritor Steven Johnson desmistifica a ideia de que as grandes descobertas da história foram feitas em momentos de epifania, aos gritos de “eureca”. Dos estudos de Charles Darwin à criação da internet, o palestrante mostra quais são os verdadeiros e surpreendentes caminhos trilhados pela criatividade humana.
7. "Sucesso, fracasso e a motivação para continuar criando" 7 /16
Antes de conquistar o mercado editorial com a publicação do livro “Comer, rezar e amar”, Elizabeth Gilbert era uma garçonete com aspirações literárias frustradas. Aqui, ela compartilha com o público alguns princípios para preservar a criatividade mesmo quando tudo à sua volta parece estar - ou está, efetivamente - desmoronando.
8. "Assuma o tremor" 8 /16
Phil Hansen era um jovem estudante de artes quando um tremor intenso nas mãos, decorrente de um problema neurológico, destruiu seu sonho de trabalhar com desenhos pontilhistas. Tudo mudou quando ele decidiu assumir o problema e transformá-lo em um recurso criativo. Nesta conversa, o artista descreve a importância de aceitar limitações individuais e coletivas para alcançar a originalidade.
9. "O processo criativo de um coreógrafo em tempo real" 9 /16
O mundo da dança pode parecer bastante misterioso para os leigos. Neste vídeo, o coreógrafo Wayne McGregor conta com dois dançarinos para demonstrar no palco, em tempo real, como se inventam movimentos corporais para uma apresentação. Para profissionais de qualquer área, até da mais distante do universo das artes, assistir à exibição da criatividade de McGregor não deixa de ser uma experiência curiosa e inspiradora.
10. "Alimentando a criatividade" 10 /16
A escritora Elizabeth Gilbert analisa o conceito de gênio criativo ao longo da história, para chegar a uma conclusão definitiva: a genialidade não é um “dom” de algumas pessoas especiais, mas sim uma qualidade inerente a todo ser humano - e que precisa ser instigada constantemente.
11. "As rimas entre criatividade e sociedade" 11 /16
O publicitário e professor universitário José Predebon tem 81 anos e coleciona prêmios, inclusive um Leão no Festival de Cannes. Nesta conversa, o publicitário dá lições sobre como usar a criatividade de forma competente e ética. O segredo, diz ele, está no fino equilíbrio entre fantasia e lógica, ambição e responsabilidade.
12. "A lagarta e a borboleta: da criatividade à inovação" 12 /16
Nesta palestra, a autora e consultora Martha Gabriel explica a diferença entre inovação e criatividade, e explica por que é preciso investir cada vez mais em experimentação, conexão e pensamento crítico para sobreviver a um mundo em constante transformação.
13. "Onde a criatividade se esconde?" 13 /16
A mãe de Amy Tan queria que a filha fosse médica ou pianista clássica. Em vez disso, ela resolveu ser escritora - e hoje ostenta a publicação de best-sellers traduzidos para 35 idiomas e até uma aparição no seriado “Os Simpsons”. Neste vídeo, a romancista usa exemplos de sua própria história de vida para mostrar como é possível trazer para a superfície a criatividade oculta em cada um de nós.
14. "O despertar da criatividade" 14 /16
Aqui, o designer João Belmont procura destruir o mito de que criatividade é uma espécie de talento. Em vez disso, afirma o palestrante, é preciso entendê-la como um estado de espírito que, nas condições ideais, pode ser atingido naturalmente por qualquer ser humano.
15. "O processo criativo em três palavras" 15 /16
Quais são os mecanismos por trás da criatividade? Para o publicitário e professor universitário Chico Neto, o processo se apoia em três pilares básicos: observação, concentração e superação. A palestra analisa esses elementos à luz de referências oriundas de mundos tão diversos quanto as ciências, as artes e os negócios.
16. Diversão que alimenta o cérebro 16 /16(Thinkstock/8213erika)