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O que você não aprende na faculdade mas usa no trabalho

Pesquisa com executivos da área financeira revela o que a formação acadêmica ainda deixa a desejar em relação ao mercado de trabalho

Trabalho: questões de comportamento são as mais desafiadoras (Rawpixel Ltd/Thinkstock)

Camila Pati

Publicado em 16 de julho de 2015 às 15h27.

São Paulo – Tecnicamente, a faculdade contribui na preparação do aluno para o mercado . Mas, basta vestir o crachá de uma empresa para perceber que a vida profissional não se resume à boa técnica.

Estudo conduzido pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) e pela Deloitte , com 172 executivos da área financeira, mostra que apenas 37% deles consideram que a faculdade ajudou muito nas competências técnicas exigidas na sua empresa; para 50%, a pós-graduação e/ou o MBA ajudaram muito em seu trabalho.

Confira algumas das deficiências profissionais ainda não são supridas pela academia, na visão dos participantes da pesquisa:

1. Competências ligadas ao relacionamento interpessoal

Se a formação acadêmica já não é unanimidade em relação ao preparo técnico, em relação às competências comportamentais deixa ainda mais a desejar na visão dos gestores financeiros.

Para 80% dos entrevistados, o ensino universitário não estimula habilidades de relacionamento interpessoal. “As grades acadêmicas são técnicas e pouco tratam do desenvolvimento do ser humano”, diz Roberto Fragoso, vice-presidente de Administração da Anefac e coordenador do estudo. A pesquisa corrobora uma máxima que é velha conhecida dos departamentos de recursos humanos das empresas: você é contratado pelo saber técnico e demitido em razão de seu (mau) comportamento.

“A questão comportamental é mais complexa no ensino superior e é algo que vem desde a família e o ensino básico. Não dá para achar que a faculdade vai dar conta disso”, diz Marcos Braga, diretor da Deloitte Empresarial. A boa notícia, de acordo com o especialista, é que estas habilidades podem ser desenvolvidas.

2. Visão multidisciplinar

O conhecimento mínimo de todas as áreas da empresa e que resulta em uma visão multidisciplinar do negócio é necessário, segundo 65% dos entrevistados.

“O estudo foi feito com um público ligado às áreas de finanças. Para este profissional é fundamental conhecer como opera a empresa toda para entender o que os números refletem”, diz Marcos Braga.

Por serem excessivamente técnicos, cursos universitários, em muitos casos, não apostam na formação humanista e, consequentemente, não estimulam esta abertura multidisciplinar, tão exigida no ambiente corporativo.

“Dentro do ambiente de negócios, os assuntos envolvem muitas áreas da empresa e ouvir a todos é uma forma de ver o processo decisório pela ótica multidisciplinar”, diz Roberto Fragoso, da Anefac.

3. Capacidade de síntese

Organizar o pensamento de forma sintética e objetiva também é um desafio para quem acaba de sair da faculdade. Basta lembrar que, nas provas acadêmicas, quanto mais informação fosse inserida no espaço de respostas a questões e trabalhos, melhor avaliado o aluno seria. “É um treinamento que vem com a prática profissional”, diz Marcos Braga, da Deloitte.

A pesquisa revela que 58% dos participantes estão muito preocupados em sintetizar a apresentação e a solução de problemas dentro da empresa em que atuam. “Sintetizar é transmitir a informação de maneira simples e, não simplória. Para isso é preciso definir o que é prioridade, o que é essencial”, diz Fragoso.

4. Liderança

Falar em liderança é falar também de questões de relacionamento. A formação de líderes tem 90% do seu foco em desenvolvimento de aspectos comportamentais”, diz o diretor da Deloitte Empresarial.

Profissionais mais experientes já, certamente, se depararam com ótimos técnicos promovidos a chefe, mas que fracassam por conta do parco preparo para gestão de suas equipes.

São Paulo – O processo seletivo dos programas de trainee é dos mais rigorosos. Mas engana-se quem pensa que a aprovação e o crachá da empresa na mão são a certeza de uma trajetória de sucesso dentro da organização. A oportunidade é dada, mas o resultado está na mão dos jovens profissionais. “A empresa contrata o trainee pelo potencial que ele tem, mas é a entrega que vai fazer a diferença”, diz Raquel Carneiro, diretora de gente e gestão da Arezzo&Co .  Pensando nisso, nos últimos dias EXAME.com conversou com 13 ex-trainees que trilharam (e estão trilhando) caminhos de sucesso após o término do programa. Todos estão hoje em cargos de gestão. Confira a que eles atribuem suas conquistas e suas dicas para quem está dando seus primeiros passos como trainee:
  • 2. 1. Diego Alvarez, coordenador de projetos da Schutz ( Arezzo&Co)

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    Desde o começo deste ano, Diego Alvarez atua como coordenador de projetos da Schutz, marca da Arezzo&Co. Entrou no primeiro programa de trainee da empresa, em 2011. “Passei por 3 meses de treinamento e depois fiquei um ano trabalhando na área de multimarcas da Schutz”, conta. Assumir o olhar de dono do negócio, sair da zona de conforto, encarar riscos e o “frio na barriga” são algumas das atitudes que, segundo ele, foram cruciais para assumir a vaga na coordenação. “Mas pra mim, ter o canal aberto com a liderança foi definitivo nesse processo”, diz ele que agarrou a oportunidade e aprendeu tudo o que podia com os gestores da Arezzo&Co. Aos novos trainees, Diego dá a dica: “não é porque entrou no programa que seu caminho já está traçado, aproveite a oportunidade e busque a sua posição. Construa a sua história na empresa", recomenda.
  • 3. 2. Alessandro Gomes, diretor da Chubb Seguros

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  • Trainee da turma de 1998 na Chubb Seguros, Alessandro Gomes acredita que ter os valores alinhados com a empresa foi um dos fatores determinantes para sua história de sucesso na empresa. No caso dele, isso significou esperar o tempo necessário de amadurecimento em cada uma das posições que foi assumindo na empresa ao longo destes anos. “Não dá para querer ter uma ascensão rápida se a empresa é mais tradicional”, diz. E foi passo a passo que ele trilhou seu caminho na Chubb Seguros. Quatro anos depois de ter concluído o programa de trainee, assumiu a operação da empresa em todo Estado de Minhas Gerais. Em 2007 conquistou a operação no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Nordeste e, em 2011 garantiu a posição na superintendência das filiais, cuidando de toda a operação da Chubb fora de São Paulo, último cargo antes de ser promovido a diretor. Para ele, o desafio dos novos trainees é lidar com o imediatismo. “Eles devem aproveitar o período de aprendizado do trainee e perceber que nem sempre as oportunidades aparecem tão rapidamente como eles esperam”, diz.
  • 4. 3. Maikon Alves, gerente de vendas da Ericsson

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    No final de 2010, ano em que participou do programa de trainee da Ericsson , Maikon garantiu a posição de analista de vendas. Dois anos depois foi promovido e hoje é gerente. Os contatos e conexões que conseguiu fazer durante o programa de trainee permitiram a ele desempenhar as atividades de vendas de maneira mais eficiente. “Passei a dedicar a maior parte do meu tempo ao contato com o cliente, o que para área comercial é extremamente importante. Conquistei um diferencial, pois capitalizei sobre a pouca experiência que tinha, de maneira a ouvir consultivamente o cliente ao invés de impor as soluções mais tradicionais de prateleira”, conta. Por isso, a dica que ele dá aos trainees é priorizar o networking interno. “Conhecer as pessoas que tocam a empresa no dia a dia será crucial para a velocidade das próximas etapas”, diz.
  • 5. 4. Rodrigo Junqueira dos Santos, diretor da ArcelorMittal Piracicaba

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    Hoje com 15 anos de casa, Rodrigo Junqueira dos Santos, diretor da ArcelorMittal Piracicaba, deu seus primeiros passos na empresa no na turma de 1997 do Programa de Trainee. Após o programa iniciou sua carreira na ArcelorMittal como engenheiro de processo. “De trainee a gestor de equipe foram cinco anos, depois mais cinco para ser promovido a ‘gestor de gestores’, posição ocupada atualmente”, conta. Manter o foco na execução das tarefas, a descrença em paradigmas (com a opção por testá-los) e investir no desafio dos conceitos estabelecidos foram atitudes importantes para que ele tivesse sucesso na empresa, diz. “A chave é saber usar os conhecimentos passados pelos mais experientes, mas não acreditar que os limites colocados são para sempre”, diz Santos. Para abrir portas, diz Santos, é preciso ter uma postura proativa, ser cordial e respeitar as pessoas de forma genuína. “Mas, ao final, os resultados é que vão garantir o sucesso”, diz.
  • 6. 6. Diego Colicchio, gerente da categoria de limpadores da Unilever

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    Trainee da turma de 2005, Diego Colicchio começou na Unilever atuando na área de trade marketing. O fez a diferença no seu caso , diz, foi o seu nível elevado de energia e a disposição para o trabalho em equipe. O resultado disso é que, em menos de 3 anos - duração máxima do Programa de Trainee da Unilever - já era gerente. “Você precisa agir, ser proativo e provar porque merece ter a carreira mais acelerada”, diz. Sabendo que a empresa espera que os trainees entreguem mais resultados do que os funcionários comuns, ele recomenda, para aqueles que estão começando, a coragem de expor com nível maior de risco. “Se não buscar isso, você não consegue se formar a tempo no programa”, diz.
  • 7. 10. Renato Firmiano, gerente de marketing da Whirlpool

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    Trainee da turma de 2005 da Whirlpool , Renato Firmiano - que hoje é gerente de marketing - sempre pensava no próximo passo dentro da companhia e no que era necessário para desenvolver competências necessárias para atingir seu objetivo. Seu projeto durante o trainee foi na área de trade marketing. “Mas queria trabalhar na área de marketing”. Conseguiu. E, depois de passar pelas categorias de micro-ondas e lavanderia, foi selecionado para construir a área de marketing para o Caribe. Em 2009, mudou-se para Miami, nos Estados Unidos. Em 2010 a promoção para gerente chegou.  “Conhecer o modelo de liderança e saber o que é esperado dos líderes foi muito importante para mim”, conta. Com movimentações feitas de dois em dois anos, ele recomenda aos trainees mais paciência e resiliência. “O trainee tem perfil bastante ansioso e ambicioso e é preciso tomar cuidado”, diz. Ele também recomenda que os jovens saiam da zona de conforto e busquem áreas que vão trazer mais visão de negócio. A Whirlpool está com inscrições abertas para o programa de trainee até o dia 20 de junho.
  • 8. 12. Mariana Rydlewski Domingos, coordenadora de marketing do Grupo Fleury

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    Após dois anos participando do programa de trainee do Grupo Fleury , Mariana Rydlewski Domingos, conseguiu - no início deste ano - assumir como coordenadora de marketing. Para ela, ter tido contato com a liderança foi fundamental. “Essa proximidade traz não só a questão do networking, como também possibilita que o trainee tenha uma visão mais ampla do negócio e desenvolva um olhar estratégico”, diz. Além de aproveitar todas as vantagens oferecidas por um programa de trainee, Mariana também lembra a importância de ter a consciência de que a gestão de carreira é de responsabilidade do profissional. “O trainee deve saber aonde quer chegar e como vai fazer para chegar lá, e não delegar a gestão de carreira ao programa de trainee”, diz. O Grupo Fleury está com inscrições abertas para trainee até o dia 27 de junho.
  • 9. Agora confira as dicas para aumentar suas chances de aprovação no programa de trainee

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