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Mais pressão, mais bônus

Numa fase de baixo crescimento econômico, o comportamento das 150 melhores indica que mudar de emprego vai exigir planejamento

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Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2014 às 11h33.

Em janeiro deste ano, a farmacêutica Pfizer demitiu 104 pessoas de sua divisão brasileira. O número é pequeno diante do tamanho da unidade — 2 800 empregados —, mas reflete a postura das empresas em operação no país de ajustar seu quadro em busca de reduzir custos. Nesta edição do Guia VOCÊ S/A — As Melhores Empresas para Você Trabalhar, o saldo entre admissões e demissões ficou negativo em 4 956 postos — os empregadores fecharam mais vagas do que abriram. É pouco diante da população pesquisada — 684 583 trabalhadores. Porém, o número acende um sinal de alerta. “Esse resultado negativo é reflexo do que temos visto no noticiário, de que o mercado está bem menos aquecido”, diz Anita Kon, economista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. 

Para 2015, os especialistas anteveem um ano possivelmente mais difícil do que 2014 e 2013, já que o governo precisará fazer ajustes que foram postergados no ano eleitoral, como o fim dos subsídios a alguns setores da economia e do controle artificial da inflação, possibilitado por decisões políticas para conter os preços da energia e dos combustíveis. Essas novas circunstâncias podem dificultar ainda mais o resultado de alguns segmentos econômicos. “Em setores mais tradicionais, como a indústria, que já vivem momentos bastante complexos, os resultados da economia podem causar um impacto ainda mais forte. Em setores mais dinâmicos, como serviços, os efeitos da economia em baixa devem ser mais suaves ou até passar despercebidos”, diz Anderson Sant’Anna, coordenador do Núcleo de Desenvolvimento de Lideranças e Pessoas da Fundação Dom Cabral. 

De modo geral, esse cenário também deve significar uma postura mais austera das empresas no que diz respeito a contratações. “Em 2015, teremos o acumulado de dois anos difíceis e isso gera muita pressão para as empresas otimizarem seus quadros, reduzindo contratações e cortando sempre que possível”, diz Leonardo de Souza, diretor regional da empresa de recrutamento Michael Page do Rio de Janeiro. 

A boa notícia é que tampouco devem acontecer demissões em massa nos próximos meses. Sinal disso é que só 5,3% das 150 melhores empresas para você trabalhar relataram demissões atípicas em 2013. “A leitura é que as empresas não estão expandindo o negócio, mas querem manter os motores aquecidos porque apostam numa retomada do crescimento no médio prazo”, diz Joel Dutra, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA). Por isso mesmo, a decisão de demitir tem de ser cuidadosa, por causa do quadro de pleno emprego ainda vigente no país. “O RH sabe que, se demitir agora, pode não conseguir recontratar quando a economia se recuperar”, diz André Fischer, professor da Universidade de São Paulo e consultor da FIA. 

Equipes hipercapacitadas

O aumento do investimento das empresas do guia em desenvolvimento também reflete essa postura. De 2010 a 2013, a quantidade média de dias de treinamento por funcionário saltou de 6,63 para 8,73. “As empresas já estão com um quadro muito justo e todos os esforços visam ao aumento da produtividade. Daí o investimento em educação: é preciso trabalhar com equipes enxutas e hipercapacitadas”, diz André. “Cortar alguém em quem se fez um investimento tão grande é contraproducente. Quando precisar contratar novamente, será preciso repetir esse investimento”, afirma André.

Mas isso não significa que o cenário seja de estagnação para quem deseja mudar de emprego. Como é preciso aumentar a produtividade a qualquer custo, as companhias vão continuar fazendo mudanças nos times a fim de melhorar seus resultados, o que pode gerar oportunidades para quem busca uma transição profissional. “Os profissionais mais qualificados continuam com opções no mercado, mesmo quando a economia vai mal”, diz Anderson Sant’anna, da Fundação Dom Cabral. As possibilidades tendem a ser melhores nas posições de gestão. “Há uma percepção de que a liderança pode fazer a diferença nos resultados nesses momentos difíceis”, diz o professor Joel, da FIA. O momento, entretanto, é de cautela. Se desde 2006 o número de pedidos de demissão vem crescendo continuamente, segundo o Ministério do Trabalho, chegando a representar 35% dos desligamentos em 2013, a orientação é que essa atitude seja bem mais estudada daqui para a frente. “Sair do emprego será uma decisão de risco. As movimentações devem ser muito planejadas”, diz Joel. “Se a transição for só por estar há muito tempo na mesma empresa, por exemplo, deve ser adiada”, alerta. 

Tanto para quem planeja mudar de trabalho quanto para quem pretende permanecer nele, o que todos os profissionais podem esperar é um aumento da pressão por resultados. “Se as metas não forem alcançadas, as empresas terão de reagir rápido e fazer trocas”, diz Joel, da FIA. “Qualquer melhoria de salário ou promoção terá de ser muito mais batalhada. As empresas vão cobrar muito mais”, diz. 

Os profissionais vão acumular mais responsabilidades. Um dos indícios de que isso já está acontecendo é o crescimento dos bônus pagos aos gerentes das 150 melhores. Mesmo num momento de administração rigorosa dos custos, essa remuneração variável subiu de 2,7 para 3,4 salários entre 2010 e 2014. “Os executivos têm acumulado funções, atuando de forma mais horizontalizada, o que faz do bônus uma forma de recompensa a esse aumento do trabalho, sem pesar tanto no orçamento da companhia”, diz Rodrigo Soares, diretor da Hays, empresa de recrutamento. Para quem aguarda um momento mais favorável para fazer mudanças na carreira, a dica é pensar no longo prazo. A expectativa é que até 2016 haja uma melhoria do cenário. “É nítido que as empresas estão segurando investimentos e isso se reflete nos empregos. A grande questão é por quanto tempo elas vão continuar segurando”, diz Anita Kon, da PUC-SP. 

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