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Instabilidade no emprego

As demissões recordes de presidentes em 2004 apontam uma tendência: começou a era dos CEOs descartáveis

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.

Um recente levantamento mundial conduzido pela consultoria americana Booz Allen materializou em números o que já se prenunciava no noticiário. As demissões de presidentes de empresas atingiram índices recordistas no ano passado. Acima de 14% das 2 500 companhias abertas pesquisadas substituíram seus chefes -- movimento quatro vezes superior ao de 1995. A surpresa da última rodada é a constatação de que, entre as empresas européias e asiáticas, a rotatividade foi ainda mais acelerada do que nas congêneres americanas. Um executivo europeu corria duas vezes mais risco de ser afastado do comando que seu colega americano no período. Em ambos os casos, o que motivou as demissões não foram severas leis de governança, disputas de poder ou mesmo transgressões éticas. Um terço dos CEOs foi removido porque não entregou resultados satisfatórios aos acionistas ou porque colidiu com seus conselhos de administração. O cargo tornou-se tão vulnerável a ponto de não ser mais exagero falar numa era de CEOs descartáveis -- não sem conseqüências para as empresas. Os executivos europeus fulminados no ano passado, por exemplo, ocupavam o cargo há dois anos e meio, em média, metade do tempo mínimo tido como necessário para que um novo presidente comece a produzir resultados. Mas os efeitos dessa volatilidade não param aí. O principal impacto, segundo prevêem os especialistas, é na maneira de conduzir os negócios. Presidentes na linha de tiro tendem a focar o curto prazo e se retrair ante a possibilidade de promover fusões e aquisições -- o que pode corroer o valor de mercado das empresas e inibir programas de crescimento. A principal razão da queda de Carly Fiorina na HP foi uma fusão malsucedida com a Compaq.

A transferência de poder dos CEOs para os conselhos de administração, um movimento crescente nos Estados Unidos, é outro aspecto do fenômeno. Para atender aos rigores da nova legislação de governança, as empresas passaram a lotar seus conselhos com gente de fora, o que vem merecendo críticas de executivos do porte de Jack Welch, ex-presidente mundial da GE. "A idéia de que conselheiros independentes são melhores para a empresa está gerando como conseqüência a exclusão da capacidade de julgamento e da grande experiência do pessoal interno exatamente onde essas qualidades são mais necessárias", registrou Welch em seu livro Paixão por Vencer. Ele ficou particularmente contrariado com a tentativa de acionistas expulsarem o megainvestidor Warren Buffett do comitê da auditoria da Coca-Cola devido ao fato de possuir grande participação acionária na companhia. "Quem representaria melhor os acionistas? O presidente de uma fundação filantrópica?", ironizou. O ativismo das principais organizações de acionistas também se reflete numa proposta que acendeu uma polêmica. Trata-se da recomendação de confiar a executivos distintos os cargos de CEO e de chairman ou presidente do conselho de administração. Ao contrário do que ocorre na Europa, onde 85% dos presidentes não acumulam a função de chairman, nos Estados Unidos apenas 34 das 500 maiores companhias abertas dividem as funções. Empresas como Boeing, Dell e Oracle aderiram à novidade em tempos recentes. O pressuposto dos ativistas é que desconcentrar o poder facilita a fiscalização do conselho e melhora o desempenho da empresa. Sucede que os indícios apontam para o oposto. As maioria das empresas que dividiram as responsabilidades teve os piores resultados em 2004, de acordo com o levantamento da Booz Allen.

O tamanho do facão
A consultoria Booz Allen investigou 2 500 empresas abertas no ano passado
e verificou que:
350 CEOs foram demitidos
111 demissões foram motivadas por mau desempenho ou atrito com
os conselhos de administração
Conclusão
O número de demissões de CEOs no ano passado quadruplicou em relação a 1995
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