Lucio Barbieri, supervisor de vendas e gerente de marketing do Komet Group: preterido num processo sucessório ao ter recebido uma definição formal tanto do gestor quanto da firma. (Raul Junior / VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2013 às 14h22.
São Paulo No mês passado, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou que uma indústria do ramo de energia terá de pagar 3.000 reais a um profissional por ter gerado expectativa de contratação.
O candidato à vaga de emprego foi entrevistado, teve a carteira de trabalho retida pela companhia de energia, fez os exames admissionais, mas depois de todo o processo foi informado pelo RH de que não seria mais admitido. Na decisão do TST, a culpa da empresa é presumida "porque o dano decorre da frustração injustificada da promessa de emprego".
"Casos de empresas que geram expectativas de contratação nos profissionais e depois os frustram são muito comuns", diz Carlos Eduardo Altona, sócio-diretor da Exec, empresa de recrutamento de executivos, de São Paulo. Entre as razões para isso estão o desespero para atrair pessoas, a desorganização da gestão e as medidas de contenção de custos.
A origem do problema, porém, está no despreparo de quem faz a promessa e na falta de alinhamento do recrutador, o RH, com o alto escalão. "Em vez dos gestores abrirem perspectivas futuras como possibilidades, alguns são mal preparados e acabam fazendo promessas vazias", diz Márcia Esteves, sócia da Ofycina RH, consultoria especializada em recrutamento e desenvolvimento de carreira. Confira a seguir alguns casos de promessas não cumpridas e as dicas de especialistas para não ser pego de surpresa.
1 A empresa oferece um salário na proposta de emprego e na hora de contratar declara que o valor é menor
Há duas situações possíveis: ou o gestor mentiu para atrair o profissional ou a estratégia da empresa mudou entre o dia da proposta e a data da contratação. Essas mudanças ocorrem principalmente em multinacionais que têm decisões tomadas longe do Brasil. Em ambos os casos, a decepção é grande.
A melhor saída é manter a calma e tentar entrar num acordo. "Uma alternativa é negociar o valor acertado no começo para alguns meses depois", diz Rafael Souto, sócio da Produtive, empresa de recolocação profissional. Quando a pessoa percebe que houve um problema de conduta do gestor, a coisa é mais séria.
"Se faltou ética da parte de quem está contratando, a saída é procurar outro lugar, porque a confiança ficará comprometida", diz Márcia, da Ofycina RH.
2 O profissional recebe um convite de emprego e ouve uma contraproposta, que consiste em aumento ou promoção, que só ocorrerá depois de alguns meses. Só que o dia nunca chega.
Use todos os argumentos possíveis para tentar entender o porquê do aumento prometido ainda não ter sido dado. Mas seja hábil para não encurralar o chefe. "Procure-o sem aquele espírito de cobrança e aproveite para ressaltar que você vem trazendo bons resultados para a companhia", diz Rafael, da Produtive.
Sempre jogue aberto. Ficar insatisfeito não vai apenas atrapalhar o desempenho no dia a dia, como deixará a sensação no gestor de que ele fez um julgamento errado a seu respeito. Antes de ter essa conversa com seu superior, descubra se algo não aconteceu no meio do caminho com a empresa.
"Às vezes, os motivos não são formalizados pela companhia", diz Ana Luiza Segall, da Assert Recrutamento, de São Paulo. O caminho é deixar muito bem claro que houve uma frustração e que a pessoa estava contando com aquilo.
3 Numa transferência de cidade ou de país, benefícios combinados, como aluguel da casa ou passagem para a família nas férias, deixam de existir
Muitos profissionais negociam transferências apenas verbalmente e esquecem de formalizar no papel a proposta. Erro crasso. Vem uma crise e os benefícios são cortados. Exigir reparação vale a pena?
É preciso tentar entender a situação de maneira ponderada e negociar. "Com evidências do que foi acertado em mãos, nada mais justo do que tentar negociar e recusar o que for proposto", defende Francisco Ramirez, headhunter e professor do Insper, em São Paulo.
4 O chefe prometeu promoção e mudou de emprego
Com a economia aquecida, as mudanças também afetam o alto escalão. Muitos diretores e vice-presidentes vêm recebendo propostas tentadoras para sair. Às vezes, o que havia sido combinado verbalmente vai por água abaixo quando o chefe muda. "Procure formalizar esses planos com o chefe do chefe ou com o RH", diz Carlos Eduardo, sócio-diretor da Exec.
Se a conversa ficar restrita entre chefe e subordinado, as chances da promoção se concretizarem são quase ínfimas. “Peça ao gestor para repetir as avaliações de desempenho para reforçar o combinado, ou deixar mais alguém a par do assunto”, diz Carlos Eduardo. Assim, o plano de promoção fica claro e é de conhecimento púbico.
5 O chefe prometeu promoção e trocou de área
Nesse caso, existe ainda o fato positivo de que o chefe permanece na companhia e pode deixar a questão para o sucessor. E se isso não acontecer?
"Tente ter uma conversa transparente com o novo chefe, até para mostrar seu interesse em crescer", diz Ana Luiza, da Assert. "Mas é preciso lembrar que isso não é garantia de que a promoção virá, porque ele precisará avaliar o desempenho do profissional que ainda desconhece", diz a consultora.
6 A promoção demorou e a empresa mudou de opinião e escolheu outra pessoa
Esse é mais um caso envolvendo promoções programadas que demoram a ocorrer. O profissional fez tudo certo: conquistou a promoção, validou com o chefe e recebeu o aval da empresa. Está tudo registrado, mas o desempenho do profissional após o acordo mina seu crescimento.
O paulistano Lucio Barbieri, de 42 anos, supervisor de vendas e gerente de marketing do Komet Group, que atua no segmento de óleo e gás, foi preterido num processo sucessório ao ter recebido uma definição formal tanto do gestor quanto da firma.
"Disseram que meu colega estava mais bem preparado", diz Lucio. Ou seja, a promoção foi lenta e a empresa mudou de opinião no meio do caminho. Em casos assim é preciso não descuidar do desempenho sem relaxar e manter o assunto quente na cabeça do chefe. "Não deixe o assunto morrer", diz Ana Luiza, da Assert.
Moral da história
Deixe tudo, ao máximo, formalizado e fuja dos prazos indefinidos. Trate os acordos para contratação, aumento ou promoção como um produto perecível. No começo, eles precisam ser cuidados. Depois precisam ser consumidos rapidamente, antes que estraguem. Quanto mais a combinação demora a ser cumprida, maiores as chances de ela não passar de uma mera promessa.
Quando a promessa vira prejuízo moral
Empresas são menos organizadas do que parecem. As estratégias e as pessoas mudam. O que não está definido e aprovado pode se perder nos corredores. Em processos de contratação, promessas ilusórias começam a virar questão para a Justiça do Trabalho.
Quando o candidato se sente prejudicado por ter sido privado de sua fonte de sustento, ou porque parou de procurar emprego ou porque pediu demissão crente de ter conquistado uma nova vaga, a Justiça reconhece ações movidas pelos profissionais.
O advogado João Paulo Sérgio, professor da Escola de Direito da FGV, aconselha ao profissional que quiser exigir reparação da empresa se munir de provas.
O que vale é o que está registrado por escrito. Promessas verbais só têm valor se houver testemunhas da conversa, algo que quase nunca acontece.
Quem procura emprego deve ficar atento ao acordo pré-contratual, em que as empresas comunicam salários, benefícios e cargas horárias ao candidato escolhido. De acordo com João Paulo, ao formalizar o contrato, o empregador pode modificar o combinado, o que pode resultar numa diminuição no valor do salário ou na alocação em cargo diferente do anunciado.