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Especialista ou generalista, qual profissional ganha mais?

O mercado de trabalho valoriza mais o profundo conhecedor de uma área ou o "pau para toda obra"? Dois estudos recentes procuram responder à questão

Especialista versus generalista: estudos procuram determinar qual perfil profissional recebe ofertas mais promissoras (Tomwang112/Thinkstock)

Claudia Gasparini

Publicado em 27 de junho de 2016 às 09h35.

Última atualização em 14 de novembro de 2017 às 15h50.

São Paulo — Qual tipo de profissional tem mais chances de atrair um recrutador : um profundo conhecedor de uma área bastante específica ou um “pau para toda obra” com perfil generalista e versátil?

Um estudo conduzido por pesquisadores da Columbia Business School e da Tulane University dá uma resposta categórica à velha dúvida. “Os especialistas são definitivamente castigados pelo mercado ”, diz uma das responsáveis pela pesquisa ao Harvard Business Review. “Além de receberem menos ofertas de emprego , eles ganham bônus menores”.

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Para chegar ao resultado, os estudiosos acompanharam cerca de 400 estudantes que se formaram nos melhores MBAs dos Estados Unidos entre 2008 e 2009 e seguiram carreira em bancos de investimento.

A amostra foi dividida em dois. O grupo dos especialistas era formado por pessoas que já trabalhavam com investimentos antes do MBA, fizeram estágio na área e se aprofundaram em finanças.

Já a turma dos generalistas consistia naqueles que atuaram em outras áreas antes do curso, como publicidade, fizeram estágio em uma consultoria e só mais tarde foram para o mundo dos investimentos.

Resultado: os bônus recebidos pelos especialistas eram até 36% mais baixos do que os de seus colegas generalistas. Em alguns casos, o primeiro grupo ganhava até 48 mil dólares a menos por ano.

Mas por quê?
Segundo Jennifer Merluzzi, professora na Tulane University e coautora do estudo, o problema está na oferta excessiva de programas de especialização, em especial de MBAs.

“Os cursos dão uma forte ênfase à formação de uma pessoa de finanças ou uma pessoa de marketing, o que produz muitos profissionais parecidos no mercado”, diz ela ao HBR.

Ironicamente, o especialista vira “commodity”: como há muitas pessoas com foco exclusivo em uma área no mercado, aqueles que trazem um repertório mais amplo e eclético saltam aos olhos das empresas.

Merluzzi afirma que recrutadores ouvidos pelo estudo não esconderam sua preferência pelos generalistas. Profissionais com experiências e competências diversas são mais interessantes do que aqueles que só conhecem um ângulo do trabalho, disseram eles.

É claro que, em algumas áreas, ser especialista é uma enorme vantagem competitiva. “Se alguém precisa de um cirurgião para uma operação arriscada, por exemplo, é óbvio que vai querer um expert que já fez isso centenas de vezes”, diz a professora. “No mundo dos negócios, porém, a especialização não é tão benéfica”.

No futuro, diz Merluzzi, os generalistas continuarão a ter mais chances nas empresas porque têm habilidades diversas, podem ser transferidos para outras áreas e tendem a assumir posições de liderança mais rapidamente.

Generalista, não “superficialista”
Outro estudo, lançado recentemente pela firma de inteligência de mercado IDC em parceria com a Microsoft, vai na mesma direção.

Conduzida nos Estados Unidos, a pesquisa analisou mais de 76 milhões de vagas de emprego para selecionar aquelas que teriam maiores salários e melhores condições de ascensão profissional entre 2016 e 2024.

A conclusão é a de que as oportunidades mais promissoras exigem competências multifuncionais (“cross-functional”, no original em inglês), em detrimento de habilidades técnicas ou específicas — e isso em áreas tão diversas quanto TI, direito e saúde.

Segundo Pietro Delai, gerente de pesquisa da IDC Brasil, os requisitos dos melhores empregos incluem excelente comunicação oral e escrita, capacidade de filtrar e processar múltiplas fontes de informação e pensamento lógico aplicado à análise de probabilidades.

“As habilidades exigidas pelos melhores empregos trespassam diversas ocupações (...). Por outro lado, competências específicas são menos aplicáveis e deveriam receber menos ênfase no currículo das escolas”, aponta o estudo.

Isso não significa que a profundidade seja dispensável. “O tipo de generalista que se dá bem não é o ‘superficialista’”, diz Delai. “Ele precisa ter a capacidade de se debruçar sobre um problema, ir a fundo na investigação de hipóteses e buscar pessoas que ajudem a resolver aquela questão, inclusive especialistas”.

Profissionais com habilidades multifuncionais, aplicáveis a uma vasta gama de situações, também são candidatos naturais à liderança.

“O que vemos na crise é que muitas empresas demitem os especialistas, contratam terceiros para substituí-los e colocam um generalista para administrar os fornecedores”, afirma Delai. "Elas preferem entregar o comando a quem tem uma visão sistêmica e multidisciplinar".

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