Rigby, da Bain & Company: copiar modelos prontos, como o do Spotify, pode quebrar times que estavam funcionando bem do modo tradicional (Divulgação/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 16 de agosto de 2020 às 06h00.
A metodologias ágeis são práticas de gestão em que equipes montadas com funcionários de diversas áreas de uma empresa e com novos integrantes a cada projeto executado. Mesmo sendo pensadas para interações presenciais, as práticas estão ajudando empresas a atravessar a pandemia, como mostra reportagem da revista EXAME desta semana.
Só que fazer “só por fazer” ou copiar o que funciona em empresas bem-sucedidas nesse modelo de gestão, como é o caso do aplicativo de streaming Spotify, é um erro. O risco é desestruturar por completo equipes que funcionam muito bem trabalhando do jeito clássico, com estruturas e hierarquias bem definidas.
A opinião é do administrador americano Darrell Rigby, chefe global da unidade de inovação em metodologia ágil da Bain & Company e um dos autores do livro Ágil do Jeito Certo, recém-lançado no Brasil pela editora Benvirá.
Considerado uma autoridade mundial no assunto, Rigby explicou à EXAME porque a aplicação da metodologia deve ser feita com critério.
A metodologia ágil serve para lidar com uma crise como a da covid-19?
A metodologia é feita para prosperar num mundo inconstante e imprevisível. Se você consegue prever o que precisa desenvolver, quase tudo funciona. Mas, se não sabe ou se seu objetivo é vago, é aí que entra a metodologia. Você foca o que os clientes querem e usa testes contínuos para aprender a chegar ao produto. No método tradicional, você faz uma pesquisa e chega a uma previsão do que acha que os consumidores vão querer em um ano. Num mundo com inquietações sociais, pandemias, desastres naturais, é preciso se adaptar mais rápido.
O trabalho remoto muda em algo a adoção desses processos?
O time ágil também prefere interações presenciais, porém os profissionais de tecnologia estão mais habituados a equipes distribuídas e já usam há anos ferramentas como o Zoom e outros softwares. Além disso, o trabalho é organizado em rotinas, com revisões de projetos na semana. Mais importante: eles sabem mudar prioridades, delegar com autonomia, ouvir feedback e testar para aprender. A resistência ao modelo está diminuindo. Executivos de mais de 100 empresas me procuraram dizendo que leram meu livro e perceberam que muito do que precisaram fazer na pandemia era ágil.
Corre-se o risco de ser um modismo?
A popularidade está crescendo rapidamente, o que é bom e ruim. Tudo que cresce rápido corre o risco de ser mal utilizado. Vemos pessoas demitindo ou colocando a ferramenta onde ela não pertence. Ela é primeiramente para inovação. Nem tudo na empresa precisa disso. Por outro lado, existe a parte da mentalidade ágil, que é obcecada com o cliente, respeita os indivíduos e gera ideias. Até 20% da empresa pode estar em times ágeis, mas o sistema não é necessário em áreas como impostos e auditoria. Não precisamos de uma contabilidade mais criativa.
Quais erros as empresas cometem ao investir nesse método?
A solução ágil precisa ser caseira e gradual, sem transformações no estilo “big bang”. Quando um time de diretores define um grande plano de transformação dando ordens do tipo “faça o que eu quero mais rápido do que antes” ainda é o modelo de comando e controle prevalecendo. Mas isso acaba com a autonomia. Além disso, fazer “só por fazer” ou copiar modelos prontos, como o do Spotify, é um erro. O risco é quebrar times que estavam funcionando bem do modo tradicional.