Deputado argentino é suspenso após ato sexual pelo Zoom. Está certo?
Deputado Juan Emilio Ameri foi visto acariciando parceira. Especialistas dizem o que empresas devem fazer se situação íntima de empregado vazar pela webcam
Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2020 às 17h39.
Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 18h06.
Um ato de conotação sexual chamou a atenção dos eleitores argentinos nos últimos dias. Na quinta-feira, 24 de setembro, o deputado Juan Emilio Ameri, representante da província de Salta, foi suspenso do Congresso após ser flagrado fazendo carícias em áreas íntimas do corpo de sua parceira.
A cena ocorreu em meio a uma sessão parlamentar remota, em virtude das restrições sanitárias por causa do novo coronavírus, e capturada pela plataforma de videoconferência Zoom.
Ameri segurou um dos seios da mulher, que também sentou no colo do deputado, para espanto de outros deputados que acompanharam a cena num telão instalado no plenário do Congresso argentino.
O desconforto com a cena causou a interrupção da sessão e a suspensão do parlamentar. Em cinco dias o presidente da Câmara dos Deputados argentina, Sergio Massa, deve anunciar uma punição definitiva ao deputado.
O deputado da coalizão governista Frente de Todos disse estar "arrependido e muito envergonhado" pelo ato. Ameri havia entendido que o sinal de internet de sua casa havia caído. Por isso, achou que a imagem dele estaria "fora do ar" para os colegas parlamentares, o que explicaria, então, a naturalidade do ato com a parceira.
O descuido do deputado argentino trouxe à tona uma discussão relevante em tempos de trabalho remoto: o que fazer quando a webcam fica ligada na hora em que não deveria e cenas íntimas acabam vazando por engano para colegas do trabalho?
Em primeiro lugar, é preciso entender a gravidade do problema, Depois disso, assumir a responsabilidade de seus próprios atos. "E entender junto com a organização o que é possível fazer para evitar esse tipo de atitude", diz Alexandre Benedetti, diretor do Talenses Group, consultoria especializada em recrutamento e seleção para diferentes níveis hierárquicos. "Além, é claro, de pedir desculpas, um ato que sempre demonstra que a pessoa entendeu e assumiu o erro e não pretende cometê-lo novamente."
Aldo Martinez, advogado do escritório Santos Neto Advogados, lembra que o empregado pode solicitar que a gravação seja retirada da internet, a fim de manter sua privacidade. "É uma forma de buscar o direito ao esquecimento, tema que será julgado no Supremo Tribunal Federal nas próximas semanas", diz.
Pelo lado da empresa, a depender do contexto, o ato impróprio na webcam, de conotação sexual, durante o expediente de trabalho, pode ensejar a dispensa do empregado por justa causa, em razão de ato de incontinência de conduta. "Adicionalmente à justa causa, ainda pode caracterizar crime nos termos da legislação penal", diz Martinez.
"Uma vez demonstrado o ato grave de incontinência de conduta praticado pelo empregado, a empresa possui a prerrogativa de dispensá-lo por justa causa. Já a incontinência de conduta de menor gravidade pode ser punida com advertência ou suspensão."
É sempre importante antes de qualquer decisão saber exatamente o que realmente aconteceu para que este tipo de imagem fosse vazada e se tornasse pública. "Conversar com o colaborador e com as pessoas envolvidas é sempre a melhor maneira de ser justo e coerente diante de uma punição", diz Leonardo Freitas, presidente da Hayman-Woodward, consultoria especializada em carreira e mobilidade global. "De qualquer forma, atitudes como essas são passíveis de demissão."
Os especialistas recomendam às empresas terem comitês de compliance, ética e boa conduta para avaliar a atuação dos profissionais em casos de práticas impróprias. Além disso, é preciso oferecer treinamento aos funcionários especialmente os que estão trabalhando de casa.