Brasileiros já são 10% dos calouros estrangeiros em Colúmbia
Responsável por parte do processo de seleção da universidade americana diz que paixão de estudantes brasileiros pela instituição é correspondida
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2016 às 13h21.
As universidades americanas estão de olho nos bons estudantes brasileiros. Instituições como Harvard e Yale divulgam seus cursos por aqui e deixam claro que alunos com alto desempenho acadêmico e um projeto de vida ambicioso têm lugar garantido em suas salas de aula. A Universidade Colúmbia, de Nova York, também está nesse time. Recentemente, a instituição abriu um centro de intercâmbio no Rio de Janeiro, que vai promover trocas entre pesquisadores, professores e estudantes brasileiros e americanos. A abertura do escritório é reflexo do fluxo crescente de brasileiros rumo à instituição.
"Até 2008, entrevistávamos cerca de 20 brasileiros candidatos a uma vaga em Colúmbia, número que saltou para 60 naquele ano. Em 2011, foram cem candidatos brasileiros entrevistados. Desse total, 15 foram selecionados", diz Diana Moreinis Nasser, presidente do Alumni Representative Committee (ARC) no Brasil, escritório ligado a Colúmbia responsável por parte do processo seletivo de brasileiros que tentam uma vaga na universidade americana. "Se levarmos em conta que 150 estudantes estrangeiros ingressaram na graduação de Colúmbia em 2011, os brasileiros já representam 10% do total de calouros internacionais. Isso é maravilhoso."
Para o ano letivo que se inicia em agosto, mais 15 brasileiros acabam de ser aprovados e outros sete estão na lista de espera, podendo ampliar a participação brasileira no campus. Estudar em Colúmbia, de fato, não é para qualquer um. Décima segunda colocada no ranking de universidades Times Higher Education, o mais respeitado do planeta, a instituição literalmente garimpa talentos pelo mundo para manter a excelência. "O perfil do aluno que interessa a Colúmbia é bem claro: são aqueles que mais se destacam em suas escolas, e não me refiro apenas às notas", diz Diana, colombiana formada em ciências políticas e economia pela própria Colúmbia e que há 23 anos vive no Brasil.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu a VEJA.com.
Tem aumentado o número de brasileiros interessados em Colúmbia?
Sim. Curiosamente senti um crescimento expressivo quando o presidente Barack Obama venceu as eleições americanas, em 2008. Obama é formado em ciências políticas em Colúmbia, e acredito que isso tenha despertado o interesse de muitos brasileiros. Até 2008, entrevistávamos cerca de 20 brasileiros candidatos a uma vaga, número que saltou para 60 naquele ano. Em 2011, foram cem candidatos brasileiros entrevistados. Desse total, 15 foram selecionados. Se levarmos em conta que 150 estudantes estrangeiros ingressaram na graduação de Colúmbia em 2011, os brasileiros já representam 10% do total de calouros internacionais. Isso é maravilhoso. Colúmbia tem a maior população de estudantes internacionais entre as importantes universidade dos Estados Unidos. Temos alunos do mundo todo, e a quantidade de brasileiros admitidos é uma confirmação da qualidade dos estudantes do país e também do alcance global de Colúmbia.
Qual o papel da senhora do processo de admissão dos brasileiros?
Todos os documentos do candidato vão direto para Colúmbia. Eu e minha equipe não temos acesso a esses dados. Nosso papel é fazer a entrevista pessoalmente com os estudantes brasileiros e enviar um relatório com as nossas impressões. Geralmente, essas entrevistas só confirmam as impressões que o escritório de Nova York tem.
Em que consistem essas entrevistas?
Elas duram em média 45 minutos e, em grande parte, são feitas ao vivo. Se o jovem não pode se dirigir até uma de nossas sedes (São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília), fazemos uso do Skype. A entrevista é o espaço que o candidato tem para mostrar sua personalidade e suas conquistas. Geralmente perguntamos sobre seus interesses, seus hobbies e suas atividades extraclasse. Trata-se de uma conversa informal e descontraída. Em nenhum momento fazemos perguntas teóricas sobre filosofia ou matemática, nem mesmo sobre desempenho acadêmico. Esse não é nosso foco.
Em que tipo de aluno Colúmbia está interessada?
O perfil do aluno que interessa a Colúmbia é bem claro: são aqueles que mais se destacam em suas escolas, e não me refiro apenas às notas – que são importantes, mas não são tudo no processo seletivo. Esses candidatos geralmente participam de agremiações estudantis, se engajam em trabalhos voluntários, participam de competições como olimpíadas de física e matemática ou ainda fazem parte de equipes esportivas de futebol ou basquete. Muitos dos jovens que entrevistamos participam de simulações organizadas pelas Nações Unidas (em que grupos de jovens simulam assumir responsabilidades de diplomatas). Costumo chamar essas pessoas de superestrelas. Elas levam tudo o que fazem a um patamar bem acima do que fazem os demais. Fico realmente surpresa com a participação dos candidatos na sociedade.
O que a senhora, durante o processo de admissão, espera ouvir dos candidatos brasileiros?
Os candidatos precisam mostrar paixão. Não interessa saber se fizeram um trabalho voluntário por obrigação ou se mantêm determinadas atividades apenas para cumprir exigências escolares. Eles precisam mostrar que fazem aquilo porque acreditam que seu trabalho renderá frutos. Precisam ter brilho nos olhos e sentir que podem fazer a diferença. Outro ponto importante é mostrar que conhecem a universidade e que têm um propósito claro para seus estudos. Funciona mais ou menos como uma entrevista de emprego: se alguém diz que quer trabalhar em uma determinada empresa simplesmente porque acha que pode ser bacana, jamais conseguirá a vaga. Da mesma forma, espero que os nossos entrevistados mostrem conhecimento sobre Colúmbia e deixem bem claro quais são seus objetivos lá dentro. Se alguém pretende ir a Colúmbia apenas porque é bacana, não me parece uma boa ideia. É preciso foco e muita paixão.
Estudar em uma escola internacional faz a diferença na hora do processo seletivo?
Se você me fizesse essa pergunta alguns anos atrás, eu diria que sim. Hoje, minha resposta é não. Vejo escolas regulares, sem nenhum vínculo com instituições americanas, realizarem um ótimo trabalho com seus alunos. É o caso do Colégio Etapa, Santa Cruz ou Bandeirantes – só para citar algumas instituições de São Paulo. É claro que também vejo muitos candidatos de escolas americanas ou britânicas, como a Chapel e a Graded (ambas escolas americanas de São Paulo). Mas o fato é que estamos em busca de superestrelas, e elas existem em qualquer escola.
Que dificuldades a senhora enfrenta no processo de entrevista?
Acho que a maior dificuldade aparece quando encontramos um candidato tímido, com dificuldade de se expor. Nessas situações, temos que descobrir maneiras de fazê-lo falar. Para evitar esse tipo de situação, deixo claro que sou um representante desse aluno, que estou aqui para defendê-lo. É muito importante quebrar essa barreira da timidez, porque atrás dela pode haver um jovem incrível. E eu não estaria fazendo um bom trabalho se não descobrisse esse talento.
O processo seletivo americano é holístico e leva em conta uma série de fatores que o sistema educacional brasileiro não tem por hábito valorizar, como atividades extracurriculares, trabalhos voluntários e espírito de liderança. A senhora sente que essa é uma dificuldade para os estudantes do Brasil?
Não acredito que isso interfira muito. O que buscamos nos candidatos não depende necessariamente do preparo da escola. O espírito de liderança e a vontade de contribuir para um mundo melhor são características pessoais. Mesmo que não haja incentivo por parte da escola, essas pessoas buscam por si mesmas uma saída para fazer a diferença. Tenho uma história que ilustra essa situação: certa vez entrevistei uma candidata que havia criado com algumas amigas um clube de dever de casa. Elas chegavam uma hora antes das aulas e recebiam os colegas que tinham dificuldades para resolver a lição de casa. Fizeram isso sem interferência da escola, foi uma iniciativa pessoal. É isso que queremos: jovens que contribuam para a sociedade sem esperar nada em troca.
Que conselho a senhora daria a um estudante brasileiro que deseja ingressar em Colúmbia?
Eu o aconselharia a se deixar guiar pela paixão, porque quando fazemos algo com desejo vamos além. Outro conselho é que ele seja constante em suas atividades. Isso significa perseverança, o que é muito valorizado. Se escolher tocar um instrumento, vá até o fim. Se estiver envolvido em alguma atividade dentro ou fora da escola, dedique-se com fervor. Mostre que você tem muito orgulho do que faz e faz com o coração. Claro, tudo isso sem deixar de lado o rendimento acadêmico, que é uma etapa importante do processo de seleção.
As universidades americanas estão de olho nos bons estudantes brasileiros. Instituições como Harvard e Yale divulgam seus cursos por aqui e deixam claro que alunos com alto desempenho acadêmico e um projeto de vida ambicioso têm lugar garantido em suas salas de aula. A Universidade Colúmbia, de Nova York, também está nesse time. Recentemente, a instituição abriu um centro de intercâmbio no Rio de Janeiro, que vai promover trocas entre pesquisadores, professores e estudantes brasileiros e americanos. A abertura do escritório é reflexo do fluxo crescente de brasileiros rumo à instituição.
"Até 2008, entrevistávamos cerca de 20 brasileiros candidatos a uma vaga em Colúmbia, número que saltou para 60 naquele ano. Em 2011, foram cem candidatos brasileiros entrevistados. Desse total, 15 foram selecionados", diz Diana Moreinis Nasser, presidente do Alumni Representative Committee (ARC) no Brasil, escritório ligado a Colúmbia responsável por parte do processo seletivo de brasileiros que tentam uma vaga na universidade americana. "Se levarmos em conta que 150 estudantes estrangeiros ingressaram na graduação de Colúmbia em 2011, os brasileiros já representam 10% do total de calouros internacionais. Isso é maravilhoso."
Para o ano letivo que se inicia em agosto, mais 15 brasileiros acabam de ser aprovados e outros sete estão na lista de espera, podendo ampliar a participação brasileira no campus. Estudar em Colúmbia, de fato, não é para qualquer um. Décima segunda colocada no ranking de universidades Times Higher Education, o mais respeitado do planeta, a instituição literalmente garimpa talentos pelo mundo para manter a excelência. "O perfil do aluno que interessa a Colúmbia é bem claro: são aqueles que mais se destacam em suas escolas, e não me refiro apenas às notas", diz Diana, colombiana formada em ciências políticas e economia pela própria Colúmbia e que há 23 anos vive no Brasil.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista que ela concedeu a VEJA.com.
Tem aumentado o número de brasileiros interessados em Colúmbia?
Sim. Curiosamente senti um crescimento expressivo quando o presidente Barack Obama venceu as eleições americanas, em 2008. Obama é formado em ciências políticas em Colúmbia, e acredito que isso tenha despertado o interesse de muitos brasileiros. Até 2008, entrevistávamos cerca de 20 brasileiros candidatos a uma vaga, número que saltou para 60 naquele ano. Em 2011, foram cem candidatos brasileiros entrevistados. Desse total, 15 foram selecionados. Se levarmos em conta que 150 estudantes estrangeiros ingressaram na graduação de Colúmbia em 2011, os brasileiros já representam 10% do total de calouros internacionais. Isso é maravilhoso. Colúmbia tem a maior população de estudantes internacionais entre as importantes universidade dos Estados Unidos. Temos alunos do mundo todo, e a quantidade de brasileiros admitidos é uma confirmação da qualidade dos estudantes do país e também do alcance global de Colúmbia.
Qual o papel da senhora do processo de admissão dos brasileiros?
Todos os documentos do candidato vão direto para Colúmbia. Eu e minha equipe não temos acesso a esses dados. Nosso papel é fazer a entrevista pessoalmente com os estudantes brasileiros e enviar um relatório com as nossas impressões. Geralmente, essas entrevistas só confirmam as impressões que o escritório de Nova York tem.
Em que consistem essas entrevistas?
Elas duram em média 45 minutos e, em grande parte, são feitas ao vivo. Se o jovem não pode se dirigir até uma de nossas sedes (São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília), fazemos uso do Skype. A entrevista é o espaço que o candidato tem para mostrar sua personalidade e suas conquistas. Geralmente perguntamos sobre seus interesses, seus hobbies e suas atividades extraclasse. Trata-se de uma conversa informal e descontraída. Em nenhum momento fazemos perguntas teóricas sobre filosofia ou matemática, nem mesmo sobre desempenho acadêmico. Esse não é nosso foco.
Em que tipo de aluno Colúmbia está interessada?
O perfil do aluno que interessa a Colúmbia é bem claro: são aqueles que mais se destacam em suas escolas, e não me refiro apenas às notas – que são importantes, mas não são tudo no processo seletivo. Esses candidatos geralmente participam de agremiações estudantis, se engajam em trabalhos voluntários, participam de competições como olimpíadas de física e matemática ou ainda fazem parte de equipes esportivas de futebol ou basquete. Muitos dos jovens que entrevistamos participam de simulações organizadas pelas Nações Unidas (em que grupos de jovens simulam assumir responsabilidades de diplomatas). Costumo chamar essas pessoas de superestrelas. Elas levam tudo o que fazem a um patamar bem acima do que fazem os demais. Fico realmente surpresa com a participação dos candidatos na sociedade.
O que a senhora, durante o processo de admissão, espera ouvir dos candidatos brasileiros?
Os candidatos precisam mostrar paixão. Não interessa saber se fizeram um trabalho voluntário por obrigação ou se mantêm determinadas atividades apenas para cumprir exigências escolares. Eles precisam mostrar que fazem aquilo porque acreditam que seu trabalho renderá frutos. Precisam ter brilho nos olhos e sentir que podem fazer a diferença. Outro ponto importante é mostrar que conhecem a universidade e que têm um propósito claro para seus estudos. Funciona mais ou menos como uma entrevista de emprego: se alguém diz que quer trabalhar em uma determinada empresa simplesmente porque acha que pode ser bacana, jamais conseguirá a vaga. Da mesma forma, espero que os nossos entrevistados mostrem conhecimento sobre Colúmbia e deixem bem claro quais são seus objetivos lá dentro. Se alguém pretende ir a Colúmbia apenas porque é bacana, não me parece uma boa ideia. É preciso foco e muita paixão.
Estudar em uma escola internacional faz a diferença na hora do processo seletivo?
Se você me fizesse essa pergunta alguns anos atrás, eu diria que sim. Hoje, minha resposta é não. Vejo escolas regulares, sem nenhum vínculo com instituições americanas, realizarem um ótimo trabalho com seus alunos. É o caso do Colégio Etapa, Santa Cruz ou Bandeirantes – só para citar algumas instituições de São Paulo. É claro que também vejo muitos candidatos de escolas americanas ou britânicas, como a Chapel e a Graded (ambas escolas americanas de São Paulo). Mas o fato é que estamos em busca de superestrelas, e elas existem em qualquer escola.
Que dificuldades a senhora enfrenta no processo de entrevista?
Acho que a maior dificuldade aparece quando encontramos um candidato tímido, com dificuldade de se expor. Nessas situações, temos que descobrir maneiras de fazê-lo falar. Para evitar esse tipo de situação, deixo claro que sou um representante desse aluno, que estou aqui para defendê-lo. É muito importante quebrar essa barreira da timidez, porque atrás dela pode haver um jovem incrível. E eu não estaria fazendo um bom trabalho se não descobrisse esse talento.
O processo seletivo americano é holístico e leva em conta uma série de fatores que o sistema educacional brasileiro não tem por hábito valorizar, como atividades extracurriculares, trabalhos voluntários e espírito de liderança. A senhora sente que essa é uma dificuldade para os estudantes do Brasil?
Não acredito que isso interfira muito. O que buscamos nos candidatos não depende necessariamente do preparo da escola. O espírito de liderança e a vontade de contribuir para um mundo melhor são características pessoais. Mesmo que não haja incentivo por parte da escola, essas pessoas buscam por si mesmas uma saída para fazer a diferença. Tenho uma história que ilustra essa situação: certa vez entrevistei uma candidata que havia criado com algumas amigas um clube de dever de casa. Elas chegavam uma hora antes das aulas e recebiam os colegas que tinham dificuldades para resolver a lição de casa. Fizeram isso sem interferência da escola, foi uma iniciativa pessoal. É isso que queremos: jovens que contribuam para a sociedade sem esperar nada em troca.
Que conselho a senhora daria a um estudante brasileiro que deseja ingressar em Colúmbia?
Eu o aconselharia a se deixar guiar pela paixão, porque quando fazemos algo com desejo vamos além. Outro conselho é que ele seja constante em suas atividades. Isso significa perseverança, o que é muito valorizado. Se escolher tocar um instrumento, vá até o fim. Se estiver envolvido em alguma atividade dentro ou fora da escola, dedique-se com fervor. Mostre que você tem muito orgulho do que faz e faz com o coração. Claro, tudo isso sem deixar de lado o rendimento acadêmico, que é uma etapa importante do processo de seleção.