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África do Sul admite erro por intérprete "esquizofrênico"

Intérprete, identificado como Thamsanqa Jantjie, disse a jornal que começou a ouvir vozes quando estava sobre a tribuna

interprete (Reuters)
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Da Redação

Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 14h48.

O intérprete de sinais sul-africano acusado de gesticular aleatoriamente ao traduzir para os surdos os discursos no funeral de Nelson Mandela defendeu-se, nesta quinta-feira, dizendo ser um "campeão" da língua de sinais, mas disse ter sofrido uma crise esquizofrênica durante o evento desta semana.

O intérprete, identificado como Thamsanqa Jantjie, de 34 anos, disse ao jornal Star, de Johanesburgo, que começou a ouvir vozes e sofrer alucinações quando estava sobre a tribuna, e que isso tornou seus gestos incompreensíveis para deficientes auditivos no mundo todo.

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"Não havia nada que eu pudesse fazer. Eu estava sozinho, numa situação muito perigosa. Tentei me controlar e não mostrar ao mundo o que estava acontecendo. Lamento muito. É a situação na qual me vi", disse ele ao jornal.

Ele acrescentou que estava medicado contra a esquizofrenia e que não sabe o que motivou o surto.

O governo admitiu que Jantjie não é um intérprete profissional, mas minimizou preocupações de segurança pela presença dele no palco junto a líderes mundiais durante o memorial, na última terça-feira.

"Ele foi procurado. Ele não simplesmente apareceu", disse a vice-ministra para Deficientes, Hendrietta Bogopane-Zulu, em coletiva de imprensa. "Ocorreu um erro? Sim. Ele se sentiu sobrecarregado, não usou os sinais normais. Aceitamos tudo isso."

Milhões de telespectadores viram na terça-feira Jantjie atuar como intérprete para presidentes como Barack Obama, dos EUA, e Jacob Zuma, da África do Sul, durante uma cerimônia em homenagem a Mandela realizada no estádio Soccer City, em Johanesburgo.

Depois do evento, a principal entidade para surdos-mudos da África do Sul denunciou que Jantjie seria um impostor que estaria inventando sinais.

Mas, em entrevista a uma rádio, Jantjie se disse satisfeito com seu desempenho na cerimônia. "Absolutamente, absolutamente. Acho que sou um campeão da linguagem de sinais", afirmou ele à emissora Talk Radio 702.

Procurado pela Reuters, ele disse não entender por que as pessoas estão se queixando só agora, e não em outros trabalhos seus. "Não sou um fracasso. Eu cumpro", disse ele, antes de desligar.

A polêmica está ofuscando os dez dias de despedida para Mandela, cujo corpo está sendo velado pelo segundo dia no Union Buildings, em Pretória, onde ele tomou posse em 1994 como o primeiro presidente negro da África do Sul.

As revelações sobre os gestos bizarros de Jantjie --especialistas dizem que ele não conhecia gestos básicos, como "obrigado" e "Mandela"-- motivaram na quarta-feira uma caçada pela identidade do mímico misterioso.

Jantjie disse trabalhar para uma empresa chamada SA Interpreters, contratada pelo partido governista CNA para a cerimônia de terça-feira.

Filmagens de dois grandes eventos no ano passado do Congresso Nacional Africano mostram Jantjie fazendo sinais no palco ao lado de Zuma, embora o partido do presidente diga não ter ideia de quem ele seja.

O CNA prometeu uma investigação. "Estou muitíssimo surpreso", disse o porta-voz do partido, Jackson Mthembu. "Vamos acompanhar isso. Não temos certeza se há algo de verdade no que ele disse."

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