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Nove autores e intelectuais negros essenciais para seu desenvolvimento

Após o dia que marca a abolição da escravatura, confira escritores que podem ampliar sua perspectiva sobre o mundo atual

Angela Davis (Paras Griffin/Getty Images)

Luísa Granato

Publicado em 14 de maio de 2021 às 18h31.

Última atualização em 14 de maio de 2021 às 19h16.

A abolição da escravatura foi um dos mais importantes—se não o mais importante—acontecimentos da história do Brasil. Os quase 400 anos de escravidão deixaram heranças sociais que, ainda hoje, precisam ser combatidas. Nesse dia da abolição da escravatura, apresentamos nove autores e intelectuais negros que são essenciais na vida de qualquer estudante.

A falta de autores e referências negras em ambientes acadêmicos ainda é uma triste realidade. Uma pesquisa divulgada no ano passado pelo IBGE revelou que, pela primeira vez, o número de estudantes negros e pardos nas universidades públicas brasileiras ultrapassou o de brancos. Trata-se de uma conquista importante de igualdade e de formação de pensadores negros num país em que metade da população se encaixa nesse perfil étnico.

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No entanto, a entrada de autores negros nasbibliografiasdas disciplinas universitárias ainda está longe dessa meta. Uma olhada na lista de livros lidos por estudantes deStanfordeHarvard, por exemplo, revela a ausência de intelectuais negros entre os estudados nessas universidades.

Mas isso não significa que eles não existam, muito menos que suas contribuições não sejam essenciais para o nosso entendimento do mundo contemporâneo. Por isso, listamos a seguir autores e pensadores negros cujas contribuições para a ciência são vitais para o nosso momento. Confira:

Achille Mbembe

O filósofo e teórico político Achille Mbembe nasceu nos Camarões em 1957. Em 1989, obteve seu Ph.D. em história naUniversidade de Sorbonne, em Paris, e desde então ocupou cargos em universidades comoColúmbia,Duke,Yale,University of California, Berkeley eUPenn. É considerado um dos pensadores mais relevantes da atualidade e trabalha como professor do instituto W.E.B. Dubois em Harvard.

Os temas estudados por Mbembe são a história da África, o pós-colonialismo e seu impacto nas relações de poder contemporâneas. Ele é conhecido por estabelecer o conceito de “necropolítica”, que entende a morte como exercício final de dominação do poder estatal, e que expande as noções de biopoder estabelecidas por Foucault. É uma ideia que amplia o entendimento de questões como a “guerra às drogas” e a subjugação da Palestina, por exemplo. No Brasil, estão disponíveis suas obras mais recentes, Crítica da Razão Negra e Políticas da Inimizade.

Angela Davis

Angela Davis se tornou famosa por sua atuação junto aos Panteras Negras nos Estados Unidos entre as décadas de 1960 e 1970. Seu ativismo é embasado numa trajetória intelectual de excelência: ela foi uma das três alunas negras da Brandeis University, onde fez sua graduação, e depois tornou-se aluna do filósofo Herbert Marcuse nas universidades de Frankfurt e Califórnia, San Diego. Já publicou mais de dez livros sobre temas como feminismo e a luta de classes vista da perspectiva racial.

Se hoje conseguimos perceber as diversas maneiras como o racismo continua a agir na nossa sociedade, é em parte graças ao trabalho de Davis. Suas pesquisas históricas revelaram como os negros, e principalmente as mulheres negras, continuaram excluídos de muitas das oportunidades de ascensão econômica mesmo com o fim da escravidão. Ela também foi responsável por dar visibilidade a diversos pensadores negros que antes não eram reconhecidos, e a resgatar a história de luta do povo negro dos Estados Unidos por sua liberdade. Sua obra é importantíssima para entender o racismo institucional na formação das sociedades ocidentais contemporâneas.

bell hooks

bell hooks (em minúsculas mesmo) é o nome usado pela autora Gloria Jean Watkins em seus livros. Em uma palestra na Rollins College, ela contou que adotou o nome de sua bisavó, que era conhecida pela língua afiada, e que usa as minúsculas tanto para se diferenciar dela quanto para manter o foco “na substância dos livros, não em quem eu sou”. Filha de um zelador e de uma dona de casa, ela se graduou em Stanford em 1973, conquistou o mestrado na Universidade de Wisconsin-Madison em 1976, e o doutorado na University of California, Santa Cruz em 1983.

Com mais de 30 livros publicados, bell hooks já escreveu sobre temas como pedagogia engajada, gênero e comunidades. Em seu livro Feminismo é para todos, ela se consolidou como uma das principais defensoras da noção de feminismo como o fim da opressão e exploração baseada em gênero. Ela também é uma das principais responsáveis pelo nosso entendimento do papel que a representação distorcida de negros na mídia cumpre na perpetuação de pensamentos e atitudes racistas.

Chimamanda Ngozi Adichie

A autora Chimamanda Ngozi Adichie é mais conhecida por seus romances Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e Americanah. No entanto, além de sua carreira literária, ela também tem uma obra bastante robusta de ensaios e uma trajetória acadêmica muito respeitável. Natural da Nigéria, ela se mudou para os Estados Unidos com 19 anos para estudar na Universidade de Drexel, e fez mestrados em escrita ciriativa (pela Universidade Johns Hopkins) e estudos africanos (por Yale).

Tanto em seus romances quanto em seus ensaios, os principais temas que Chimamanda aborda são feminismo e a identidade do continente africano. Ela é a responsável por um dos “TED Talks” mais vistos da história, intitulado "O perigo de uma história única", no qual ela fala sobre a ausência de referências positivas sobre a África no Ocidente. Outra palestra sua de muito sucesso é intitulada “Sejamos Todos Feministas”, na qual ela expõe suas experiências sobre ser uma feminista africana.

Frantz Fanon

Nascido em 1925 na Martinica, ilha caribenha colônia francesa, Frantz Fanon estudou medicina e psiquiatria na Universidade de Lyon, na França. Isso, no entanto, só depois de que ele tivesse participado da Segunda Guerra Mundial como parte das Forças Livres Francesas e lutado na Algéria e na Alsácia. Sua experiência com o racismo durante a guerra — não só dos nazistas mas também dos soldados brancos que lutavam ao seu lado — marcaria sua trajetória acadêmica.

Em livros como Pele Negra, Máscaras Brancas, Fanon descreveu os efeitos psicológicos negativos da dominação colonial sobre os povos negros. Foi um dos primeiros pensadores negros a descrever o racismo como um procedimento por meio do qual se nega a humanidade das vítimas, e a falar sobre seus efeitos sobre a psiquê tanto de quem sofre quanto de quem comete racismo. Seu trabalho foi fundamental na luta pela libertação da Algéria, que também era colônia da França na época.

Milton Santos

O geógrafo brasileiro Milton Santos nasceu em 1926, formou-se em direito na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1948 e fez doutorado na Universidade de Estrasburgo, na França, entre 1956 e 1958. Ao longo de sua trajetória intelectual, ele se tornaria professor livre docente da UFBA e receberia o título de doutor honoris causa de mais de 20 universidades do mundo. Foi professor convidado de instituições como a Universidade de Toronto e trabalhou junto com Noam Chomsky no MIT.

Milton Santos é reconhecido como um dos principais pensadores negros do mundo. Entre as contribuições de Milton Santos para a geografia contemporânea, destacam-se suas pesquisas sobre as economias de “terceiro mundo” e sobre o subdesenvolvimento. Ele também é reconhecido como um dos grandes críticos do conceito de “globalização”, que ele enxerga como um processo produtor de novos totalitarismos, um eliminador de culturas e um transformador de “cidadãos” em “consumidores”.

Lélia Gonzalez

A antropóloga e socióloga brasileira Lélia Gonzalez se formou em história e filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ), fez mestrado em comunicação social e doutorado em antropologia política. Também chefiou o departamento de sociologia e política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, pesquisando sobre gênero e etnia.

Lélia teve grande importância na estruturação do movimento negro brasileiro ao longo da segunda metáde do século 20. Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, oficializado nacionalmente em 1978, e militou por organizações como o Instituto de Pesquisa de Culturas Negras e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga. Também atuou no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher de 1985 a 1989. Com sua pesquisa e militância, ajudou a melhorar nossa compreensão sobre a condição das mulheres negras no Brasil e a lutar pelos direitos delas.

Neil deGrasse Tyson

O astrofísico Neil deGrasse Tyson se formou em física em Harvard em 1980, fez mestrado em astronomia na University of Texas at Austin concluindo em 1983, e conquistou o Ph.D. em astrofísica na Columbia University em 1991. Em toda a sua trajetória acadêmica, pesquisou sobre cosmologia, a formação dos corpos celestes e a evolução das estrelas.

Apesar de ser um dos pensadores negros com trabalho mais expressivo nessa área, Tyson é mais conhecido hoje como educador e divulgador científico. Ele frequentemente participa de palestras e programas de TV para falar de maneira clara e simples sobre questões científicas complexas, e em 2014 apresentou a série de TV Cosmos, uma continuação da série de mesmo nome criada por Carl Sagan na década de 1980.

Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra. Começou sua trajetória acadêmica estudando filosofia na Universidade de São Paulo em 1971, e hoje é doutora em educação com título obtido pela mesma instituição. Autora de mais de 150 artigos e 17 livros, ela teve seu trabalho reconhecido com o Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa em 1998.

Sua área de pesquisa é a estruturação do racismo no Brasil e o feminismo negro. Em seus textos, ela analisa os processos sociais por meio dos quais negros e negras são, com frequência, relegados a posições menos privilegiadas. Em seu doutorado, fala também sobre o racismo como dispositivo social de biopoder.

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" Dia da abolição: nove autores e intelectuais negros essenciais para entender o presente"
foi originalmente publicado pelo portal Na Prática da Fundação Estudar.

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