10 milhões de empreendedores
Esse é o número de brasileiros que abrem empresas visando uma boa oportunidade de mercado e de impulsionar a carreira. Pela primeira vez o número ultrapassa aqueles que se aventuram por necessidade
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2009 às 13h06.
Ser dono do próprio negócio é o objetivo de um crescente número de profissionais brasileiros, seja para evitar eventuais cortes nas empresas ou para pôr em prática uma ideia considerada inovadora, como o empresário Gabriel Tosi, de 28 anos. Ele largou a carreira de redator publicitário para criar a agência de assessoria de imagem em mídias sociais Full Interactive (leia essa e outras histórias de empreendedores aqui) . Segundo consultorias de recursos humanos ouvidas pelo Portal EXAME, essa é uma boa alternativa para impulsionar a carreira. "Geralmente, quem pensa em abrir um negócio próprio quer fugir da insegurança que ronda o ambiente corporativo de hoje", afirma Priscila D´Addio, gerente de relacionamentos e novos negócios da Career Center. Dos clientes que procuram a consultoria para transição de carreira, 12% optam pelo negócio próprio.
Um levantamento recente realizado pela consultoria DBM mostra que o número de profissionais que optaram por abrir o próprio negócio no primeiro bimestre de 2009 superou em quatro vezes o total verificado no mesmo período do ano passado. Em comparação com o último bimestre de 2008, o salto foi de 80%, o que mostra uma tendência em aceleração.
Brasil empreendedor
O potencial empreendedor brasileiro foi medido em pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM). O estudo, no qual o Brasil figura na 13ª posição entre 43 países, constatou que pela primeira vez no país os chamados "empreendedores de oportunidade" - aqueles que enxergam um novo nicho de atuação e planejam minuciosamente a abertura do negócio - ultrapassaram os "empreendedores de necessidade" - os aventureiros que não têm planejamento prévio e acabam fechando o empreendimento pouco tempo após sua abertura. Segundo o GEM, a razão oportunidade/necessidade ficou em torno de 2,03, atrás apenas da França (8,35) e dos Estados Unidos (6,86).
O Brasil conta hoje com 14,6 milhões empreendedores, o equivalente a 12,6% da população adulta - ou um empreendedor para cada 13 habitantes. Do total, quase 10 milhões são considerados "empreendedores por oportunidade". O destaque fica para os jovens brasileiros os mais empreendedores do mundo. Tanto entusiasmo leva um número cada vez maior de pessoas a decidirem trabalhar por conta. Segundo o Sebrae, hoje o país conta com 5 milhões de pequenos e médios negócios - o equivalente a uma empresa para cada 37 habitantes. Para 2015, calcula-se que o Brasil terá uma empresa para cada 24 habitantes, atingindo um nível similar às economias desenvolvidas da Europa. "As pequenas e médias empresas já contribuem com 20% do PIB brasileiro", diz Ricardo Tortorella, diretor-superintendente do Sebrae-SP. Por isso as PMEs se tornam cada vez mais importantes não só para o trabalhador, mas também para a economia do país.
O empreendedor brasileiro |
A pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor ouviu 2 000 pessoas de cada um dos 43 países participantes. Entre os brasileiros: |
- 49% afirmam ter as habilidades e conhecimentos necessários para liderar o próprio negócio |
- 44% veem boas oportunidades de começar um negócio próprio em seis meses |
- 26% espera abrir nos próximos três anos |
- 12% estão em estágio inicial do negócio |
Além disso, outro fator pode incentivar ainda mais a abertura do negócio próprio: a lei complementar 128/08, que entra em vigor a partir de 1º de julho. A nova norma altera a legislação das pequenas e médias empresas, acrescentando o Microempresário Individual (MEI), que tem renda anual de até 36 000 reais - incluem-se aí cabeleireiros, doceiros e manicures, por exemplo. A lei pode - e vai - beneficiar os 10,3 milhões de trabalhadores informais que se encaixam nesse perfil. Para o governo isso é positivo. Com o aumento da base de trabalhadores legais, mais impostos serão arrecadados. Em contrapartida, eles terão benefícios como aposentadoria por idade ou por invalidez, seguro por acidente de trabalho e licença-maternidade.
O estudo do GEM aponta também alguns dos melhores mercados para investir nos próximos anos. No setor de serviços - o mais promissor - lideram as atividades de informática, mas há espaço para novos bares, lanchonetes e centros de estética, por exemplo. No comércio, os destaques são para os segmentos de materiais e equipamentos para escritórios, autopeças, quitandas, avícolas e sacolões. Na indústria, se destacam os ramos de fabricação de máquinas e equipamentos, edição e gráfica e confecção de artigos de vestuário - historicamente esse segmento vem puxando o bom desempenho da indústria nos pequenos negócios.
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Cuidados antes de abrir um negócio
Apesar de o país apresentar um vasto campo de oportunidades, é preciso ter cautela. Quem deseja iniciar um negócio próprio deve estar ciente dos riscos e planejar cuidadosamente o novo empreendimento. É aí que entram as consultorias especializadas para dar apoio aos empreendedores e traçar um detalhado plano de negócios. "Muita gente chega sem conhecimento do mercado que quer entrar. É preciso estudar a viabilidade do negócio, os concorrentes e ter uma visão global", diz João Marcos, consultor de empreendedorismo da DBM. "É preciso ter pé no chão, ter clareza de suas limitações e saber onde é preciso melhorar."
Para abrir um negócio, é preciso também estar disposto a enfrentar a burocracia. Em estudo recente elaborado pelo Banco Mundial, o Brasil ocupa a 125ª entre 181 países sobre a facilidade de começar um empreendimento. Em média, é preciso enfrentar 18 procedimentos burocráticos e esperar 152 dias até conseguir estruturar o negócio. Mas, de acordo com João Marcos, é preciso ter cuidado ao analisar esses dados. "Há dificuldades como a burocracia e restrições ao crédito apesar de termos melhorado. Mas em alguns casos, como o do comércio, isso é mais fácil e rápido. Depende do número de órgãos envolvidos para autorizações. É diferente abrir uma lanchonete e uma indústria química. O importante é não deixar a burocracia se tornar um desestímulo", diz ele. E pelo número de empreendedores no Brasil, essa aparente barreira não é um impedimento. Basta ter um planejamento completo, estar disposto a correr riscos e investir dinheiro do próprio bolso - algo que 70% dos empreendedores faz.