A importância Dia da Visibilidade na visão de uma pessoa trans masculina
Ser trans no Brasil, um país marcado pela violência, é ter uma vivência sujeita a diversos obstáculos e adversidades
Bússola
Publicado em 30 de janeiro de 2023 às 15h50.
Pensar no Dia da Visibilidade Trans, em 29 de janeiro, é perceber que ainda somos invisíveis para muitos setores. Infelizmente ainda existem muitos obstáculos e inseguranças quando se é uma pessoa trans no Brasil. Nosso país é o que mais mata pessoas trans do mundo. Um lugar onde a expectativa de vida de uma pessoa trans é de apenas 35 anos, segundo o Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).
Assim, falar sobre essa data é falar de pertencimento, é falar que mesmo com todas as situações que vivemos, nós estamos aqui! O que pedimos é respeito, direitos igualitários e oportunidades de existir. E, além disso, que nesse dia seja possível levantar debates e discussões que normalmente não entram na roda.
A vivência transgênera, como toda vivência, é única e individual, mas é possível fazer alguns paralelos e elencar situações que demonstram a necessidade de dar mais espaço e luz para essa discussão. Trago o primeiro grande marco para mim: me entender como homem transgênero. Isso aconteceu enquanto estava cursando minha graduação de biologia.
Dessa forma, esse momento de “descoberta” veio relativamente tarde para mim pois, até então, eu era alheio ao próprio conceito de homens trans. A própria possibilidade dessa identidade não era real para mim por simples ignorância e falta de conhecimento de outras identidades para “além da norma”. Então, seis anos após esse marco, busco ser uma pessoa visível e que possa levar essa sensibilização para aqueles que, como eu, anos atrás, não têm acesso a ela.
Outro grande marco de minha vivência trans é a questão da transição social, a mudança de nome e de pronomes, que são momentos de grandes impactos em como nos relacionamos. É gasto muita energia com necessidade de termos que - a todo o momento - estar ‘saindo do armário' para as pessoas, de precisarmos pedir repetidamente para que nos tratem de acordo com os nossos pronomes e nomes corretos. Pessoas cis pedem muito que tenhamos paciência quando eles erram, pois é uma mudança grande para quem nos conhecia anos antes. Porém, nós também temos o direito e a possibilidade de pedir que haja a sensibilidade das pessoas cis no entendimento de como esses erros compõem as microagressões diárias que as pessoas trans passam. Por todo lugar que vamos, nós precisamos estar em alerta e nos posicionando em busca do mínimo respeito.
Por ter feito uma faculdade pública, a inserção no mercado de trabalho foi algo que consegui concretizar assim que formado. Mas não é a realidade da grande maioria. Esse passo é um grande obstáculo para pessoas trans em geral e são diversas razões: o não uso do nome social, preconceito, barreiras ao uso de banheiros, entre outras. Hoje, no meu atual emprego, pude ver o outro lado da moeda.
Desde o início, ao descobrir a vaga por meio da divulgação da TRANSempregos (projeto de empregabilidade para pessoas transgêneras), me senti mais confortável e isso foi um fator importante na minha decisão de me candidatar, já que estar na TRANSempregos mostrava que a empresa busca ser, de fato, um ambiente de trabalho inclusivo e que leva a sério a questão da inclusão de todos seus profissionais.Também foi possível ver que pequenas ações, como ter grupos de afinidade, ter uma gestão inclusiva, vagas afirmativas e programas de desenvolvimento impulsionam a nossa sensação de pertencimento e possibilitam um ambiente de trabalho melhor.
Assim, ser trans no Brasil, um país marcado pela violência para e com essa parcela da população, é ter uma vivência sujeita a diversos obstáculos e adversidades, que vão desde o desrespeito com algo básico como o respeito ao nome, a barreira da inserção no mercado de trabalho formal até situações graves em que ficamos sujeitos a riscos de vida. Esses percalços reforçam como é essencial que as empresas, e a sociedade como um todo, busquem promover ativamente a inclusão e diversidade. De fato!
*Alan Marini é consultor de sustentabilidade e mudança climática da EY Brasil
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Elas na Escola: as experiências de meninas negras para a política brasileira
A inclusão na sua empresa pode começar com você; se não há espaço, mude
Combater a intolerância religiosa começa no meio ambiente do trabalho