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Youssef pediu doação de campanha, diz executivo da Odebrecht

Executivo disse que conheceu o doleiro em São Paulo, em ocasiões nas quais Youssef disse ser representante de empresas e pediu doações de campanha

Doleiro Alberto Youssef: Odebrecht nega taxativamente envolvimento no esquema de corrupção (REUTERS/Rodolfo Buhrer)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de junho de 2015 às 23h04.

São Paulo, Brasília e Curitiba - O executivo da Construtora Norberto Odebrecht Marcio Faria da Silva afirmou à Polícia Federal que conheceu Alberto Youssef - alvo central da Operação Lava Jato - em São Paulo, onde esteve pessoalmente com ele "duas ou três" vezes em um café de um shopping, entre os anos de 2011 e 2012, ocasiões em que o doleiro disse ser representante de empresas e pediu doações de campanha.

"Conheceu Alberto Youssef duas ou três vezes, a primeira em um Café do shopping Eldorado, em São Paulo, em 2011 ou 2012, ocasião em que se apresentou como representante de empresas brasileira e estrangeiras, oferecendo serviços ao Grupo Odebrecht", afirmou Mário Faria.

Diretor da Odebrecht Engenharia Industrial, ele e outro executivo do grupo, Rogério Santos de Araújo, foram ouvidos pela Polícia Federal no dia 8 de maio, como investigados no inquérito da Lava Jato que apura pagamento de R$ 30 milhões em propina para a campanha de reeleição do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que tinha como vice o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Ambos são alvo das apurações.

No primeiro encontro com o doleiro, segundo Márcio Faria afirmou à PF, "explicou como a empresa operava e solicitou que encaminhasse material das empresas que ele (Youssef) julgasse que tivessem potencial de negócio". "O material nunca foi enviado."

Os dois executivos da Odebrecht foram ouvidos pelo delegado federal Milton Fornazari Junior, no Rio. Márcio Faria estava acompanhado da advogada Dora Cavalcanti. Rogério Araújo estava acompanhado da advogada Flávia Rahal. Ambas são criminalistas.

O inquérito tramita sob a guarda do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por envolver o atual governador do Estado, Pezão - que tem direito a foro especial, por prerrogativa de função.

Mário Faria afirmou que na segunda e terceira vez, no mesmo local, "foi procurado para tratar de doações de campanha".

Youssef e Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras, eram braços do PP no esquema de indicações políticas na estatal - controlado ainda pelo PT e PMDB. Por meio dele, eram arrecadados de 1% a 3% de propina em contratos com as empreiteiras do cartel.

Perguntado pelo delegado para quem na empreiteira ele encaminhava os pedidos de doações, Márcio Faria apontou o nome do executivo Alexandrino de Alencar - que também já foi citado em delações.

Comperj e Repar

As investigações envolvendo suposta propina em forma de doações ocultas e legais para a campanha de reeleição do governo do Rio em 2010 vão esmiuçar o suposto esquema de corrupção nos contratos de construção do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).

Odebrecht e outras gigantes do setor como OAS e UTC Engenharia, além de três empresas menores Alusa, Techint e Skanska, teriam pago os valores a pedido do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e assessores de Cabral, por seus contratos na obra do Comperj.

O valor teria saído da cota do PP e do PMDB, no esquema de desvios alvo da Lava Jato. Oficialmente a Alusa doou R$ 500 mil, a Odebrecht R$ 200 mil e a UTC R$ 1 milhão ao comitê financeiro único do PMDB do Rio de Janeiro. Já a OAS doou R$ 400 mil reais ao comitê financeiro da Direção Estadual do PMDB e R$ 1 milhão ao Comitê Financeiro da chapa Cabral governador e Pezão vice.

Além das doações ocultas, a Lava Jato investiga se doações oficiais a partidos e campanhas foram usadas para ocultar recursos desviados da Petrobras, como forma de beneficiar políticos e partidos envolvidos.

O ex-diretor de Abastecimento - primeiro delator da Lava Jato - afirmou que em 2010 foi chamado para uma reunião com o governador Sergio Cabral, quando foi pedido contribuições de campanha à reeleição.

No encontro, Costa apontou estarem presentes além de Cabra, Pezão, e os secretários Regis Fichtner e Carlos Wilson Carvalho.

"Na reunião, Sérgio Cabral lhe pediu R$ 30 milhões para a campanha de sua reeleição, juntamento com Pezão, para o governo do Estado do Rio de Janeiro", afirmou Costa. Segundo registrou a PF, "Cabral determinou à Régis (Fichtner) que se articulasse com o declarante (Costa) para que ambos, em reuniões a serem realizadas em um hotel, obtivessem os valores oriundos de empresas contratadas pela Petrobras".

Após o encontro, o ex-diretor da Petrobras e Fichtner teriam se reunido com representantes das empreiteiras no hotel Caesar Park, em Ipanema, para cobrar doações para a campanha. "Os R$ 30 milhões deixaram de ser repartidos entre PP e PMDB para atender o governador do Sérgio Cabral. Ele apontou os nomes de executivos da Techint, Skanska e da Alusa no encontro no hotel.

Nos valores pagos pela Odebrecht, OAS e UTC, como integrantes do consórcio Conpar - para obras de uma refinaria no Paraná -, R$ 15 milhões, não foi feito o detalhamento de como houve o pedido.

Suíça

Marcio Faria e Rogério Araújo estão sob suspeita desde setembro de 2014 quando foram citados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras como responsáveis pelo pagamento de US$ 23 milhões de propina da Odebrecht para uma conta aberta na Suíça.

Além dos contratos nas obras do Comperj, a Odebrecht e seus executivos são investigados por cartel e corrupção nas obras da Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), no Paraná, e Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco - origens das apurações da Lava Jato na Petrobras.

Até aqui, as investigações chegaram a um rombo de R$ 6,2 bilhões, reconhecidos em balanço da estatal.

Os dois executivos são investigados também pela força-tarefa da Lava Jato, nos inquéritos que correm em primeira instância, em Curitiba. Para investigadores da Lava Jato, a Odebrecht era uma das líderes do cartel que sistematicamente atuou de forma organizada e em conluio com agentes públicos e políticos para desviar recursos da Petrobras.

O esquema teria atuado de 2004 a 2012 nas construções de refinarias - com pagamentos até 2014 - e entrado, a partir de 2010, no setor exploração de petróleo e investimentos da área naval, impulsionados pelas descobertas do pré-sal.

Defesa

Nos termos de declarações, Márcio Faria e Rogério negaram qualquer encontro em hotel no Rio com o ex-diretor da Petrobras ou representantes do governo do Estado.

Araújo negou conhecer o doleiro Alberto Youssef.

A Odebrecht nega taxativamente envolvimento no esquema de corrupção que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, se instalou na Petrobras. A empreiteira afirma que não pagou propinas.

O ex-governador do Rio nega a reunião relatada pelo ex-diretor da Petrobras e o pedido de valores para campanha. O atual governador e os dois ex-secretários citados também negam que tenham participado de ilicitudes.

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"Conheceu Alberto Youssef duas ou três vezes, a primeira em um Café do shopping Eldorado, em São Paulo, em 2011 ou 2012, ocasião em que se apresentou como representante de empresas brasileira e estrangeiras, oferecendo serviços ao Grupo Odebrecht", afirmou Mário Faria.

Diretor da Odebrecht Engenharia Industrial, ele e outro executivo do grupo, Rogério Santos de Araújo, foram ouvidos pela Polícia Federal no dia 8 de maio, como investigados no inquérito da Lava Jato que apura pagamento de R$ 30 milhões em propina para a campanha de reeleição do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que tinha como vice o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB). Ambos são alvo das apurações.

No primeiro encontro com o doleiro, segundo Márcio Faria afirmou à PF, "explicou como a empresa operava e solicitou que encaminhasse material das empresas que ele (Youssef) julgasse que tivessem potencial de negócio". "O material nunca foi enviado."

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O inquérito tramita sob a guarda do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por envolver o atual governador do Estado, Pezão - que tem direito a foro especial, por prerrogativa de função.

Mário Faria afirmou que na segunda e terceira vez, no mesmo local, "foi procurado para tratar de doações de campanha".

Youssef e Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras, eram braços do PP no esquema de indicações políticas na estatal - controlado ainda pelo PT e PMDB. Por meio dele, eram arrecadados de 1% a 3% de propina em contratos com as empreiteiras do cartel.

Perguntado pelo delegado para quem na empreiteira ele encaminhava os pedidos de doações, Márcio Faria apontou o nome do executivo Alexandrino de Alencar - que também já foi citado em delações.

Comperj e Repar

As investigações envolvendo suposta propina em forma de doações ocultas e legais para a campanha de reeleição do governo do Rio em 2010 vão esmiuçar o suposto esquema de corrupção nos contratos de construção do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).

Odebrecht e outras gigantes do setor como OAS e UTC Engenharia, além de três empresas menores Alusa, Techint e Skanska, teriam pago os valores a pedido do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e assessores de Cabral, por seus contratos na obra do Comperj.

O valor teria saído da cota do PP e do PMDB, no esquema de desvios alvo da Lava Jato. Oficialmente a Alusa doou R$ 500 mil, a Odebrecht R$ 200 mil e a UTC R$ 1 milhão ao comitê financeiro único do PMDB do Rio de Janeiro. Já a OAS doou R$ 400 mil reais ao comitê financeiro da Direção Estadual do PMDB e R$ 1 milhão ao Comitê Financeiro da chapa Cabral governador e Pezão vice.

Além das doações ocultas, a Lava Jato investiga se doações oficiais a partidos e campanhas foram usadas para ocultar recursos desviados da Petrobras, como forma de beneficiar políticos e partidos envolvidos.

O ex-diretor de Abastecimento - primeiro delator da Lava Jato - afirmou que em 2010 foi chamado para uma reunião com o governador Sergio Cabral, quando foi pedido contribuições de campanha à reeleição.

No encontro, Costa apontou estarem presentes além de Cabra, Pezão, e os secretários Regis Fichtner e Carlos Wilson Carvalho.

"Na reunião, Sérgio Cabral lhe pediu R$ 30 milhões para a campanha de sua reeleição, juntamento com Pezão, para o governo do Estado do Rio de Janeiro", afirmou Costa. Segundo registrou a PF, "Cabral determinou à Régis (Fichtner) que se articulasse com o declarante (Costa) para que ambos, em reuniões a serem realizadas em um hotel, obtivessem os valores oriundos de empresas contratadas pela Petrobras".

Após o encontro, o ex-diretor da Petrobras e Fichtner teriam se reunido com representantes das empreiteiras no hotel Caesar Park, em Ipanema, para cobrar doações para a campanha. "Os R$ 30 milhões deixaram de ser repartidos entre PP e PMDB para atender o governador do Sérgio Cabral. Ele apontou os nomes de executivos da Techint, Skanska e da Alusa no encontro no hotel.

Nos valores pagos pela Odebrecht, OAS e UTC, como integrantes do consórcio Conpar - para obras de uma refinaria no Paraná -, R$ 15 milhões, não foi feito o detalhamento de como houve o pedido.

Suíça

Marcio Faria e Rogério Araújo estão sob suspeita desde setembro de 2014 quando foram citados pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras como responsáveis pelo pagamento de US$ 23 milhões de propina da Odebrecht para uma conta aberta na Suíça.

Além dos contratos nas obras do Comperj, a Odebrecht e seus executivos são investigados por cartel e corrupção nas obras da Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), no Paraná, e Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco - origens das apurações da Lava Jato na Petrobras.

Até aqui, as investigações chegaram a um rombo de R$ 6,2 bilhões, reconhecidos em balanço da estatal.

Os dois executivos são investigados também pela força-tarefa da Lava Jato, nos inquéritos que correm em primeira instância, em Curitiba. Para investigadores da Lava Jato, a Odebrecht era uma das líderes do cartel que sistematicamente atuou de forma organizada e em conluio com agentes públicos e políticos para desviar recursos da Petrobras.

O esquema teria atuado de 2004 a 2012 nas construções de refinarias - com pagamentos até 2014 - e entrado, a partir de 2010, no setor exploração de petróleo e investimentos da área naval, impulsionados pelas descobertas do pré-sal.

Defesa

Nos termos de declarações, Márcio Faria e Rogério negaram qualquer encontro em hotel no Rio com o ex-diretor da Petrobras ou representantes do governo do Estado.

Araújo negou conhecer o doleiro Alberto Youssef.

A Odebrecht nega taxativamente envolvimento no esquema de corrupção que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, se instalou na Petrobras. A empreiteira afirma que não pagou propinas.

O ex-governador do Rio nega a reunião relatada pelo ex-diretor da Petrobras e o pedido de valores para campanha. O atual governador e os dois ex-secretários citados também negam que tenham participado de ilicitudes.

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