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Força Aérea do Brasil prefere caças dos EUA

No entanto, a falta de compromisso do governo americano para a transferência de tecnologia ao Brasil deixou a Boeing para trás

O comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Juniti Saito: preferência pela Boeing (AGÊNCIA BRASIL)
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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2010 às 10h03.

Brasília - O comandante da Força Aérea Brasileira, brigadeiro Juniti Saito, afirmou a funcionários diplomáticos dos Estados Unidos que a Boeing apresentou uma aeronave "superior" na concorrência para venda de caças ao Brasil. No entanto, a aparente falta de compromisso do governo americano para a transferência de tecnologia ao Brasil deixou a Boeing atrás na concorrência para a venda dos aviões.

A afirmação de Saito foi feita em 2009, em um telegrama diplomático revelado ontem pelo site WikiLeaks, especializado em divulgar documentos confidenciais de vários países, principalmente dos EUA. Saito teria dito ao então embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel, que há dúvidas sobre o compromisso do governo americano em transferir tecnologia junto com a venda dos jatos F-18 Super Hornet, da Boeing, e que isso seria "uma barreira política importante".

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O valor do contrato para fornecer 36 jatos de combate é estimado numa faixa entre US$ 4 bilhões e US$ 10 bilhões, dependendo da escolha final, dos custos de manutenção e dos armamentos inclusos. Sobel escreveu um despacho datado de 31 de julho de 2009, detalhando sua conversa com Saito, segundo documentos vazados pelo WikiLeaks. No documento, o embaixador afirmou que Saito disse que "não havia dúvida do ponto de vista técnico que o F-18 era uma aeronave superior".

Garantias

Saito teria pedido ao embaixador dos EUA uma carta assegurando ao governo brasileiro que a transferência de tecnologia dos EUA seria feita posteriormente. Em um dos documentos, a encarregada de negócios, Lisa Kubiske, pede que o presidente dos EUA, Barack Obama, envie uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantindo o compromisso do governo americano com a proposta da Boeing. Lisa recomenda ainda que a Casa Branca tome "passos para erodir" o avanço político francês na região, que teria na venda das aeronaves um avanço.

A decisão do Brasil sobre o vencedor da concorrência tem sido atrasada há meses. O presidente Lula deve anunciar o resultado antes do fim de seu segundo mandato, em 1º de janeiro, mas os jornais já afirmaram que o preferido de Lula é o caça francês Rafale, da Dassault. O terceiro concorrente é o sueco Gripen, da Saab.

Segundo documentos revelados pelo WikiLeaks, Saito teria dito que "os franceses não podem reclamar" com o Brasil caso percam a concorrência das aeronaves, pois eles "acabaram de assinar um acordo de US$ 14 bilhões com o Brasil", referente à compra de submarinos e helicópteros.

Transferência 'irrestrita'

Outro documento da diplomacia americana revelado ontem afirma que a França está preparada a dar ao Brasil os códigos dos caças caso seja confirmada a compra do modelo Rafale. A revelação desse despacho foi feita pelo jornal francês Le Monde, em sua edição de domingo. Esses códigos computadorizados são descritos pelo jornal como "o coração digital da aeronave". O Le Monde nota ainda que os outros dois concorrentes relutam em transferir essa informação.

O Rafale ainda não encontrou nenhum comprador fora da França. O documento diplomático afirma que Lula reclamou ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, do "preço absurdo" do modelo Rafale, de US$ 80 milhões cada avião. Sarkozy teria respondido em carta, dizendo que a França estava preparada a oferecer uma "transferência sem restrições" de informação tecnológica.

O documento diplomático dos EUA afirma que, se o Rafale vencer, a Dassault terá de pedir aos Estados Unidos para exportar certificados de controle de partes da aeronave que são construídas com tecnologia norte-americana. Em novembro, porém, o chefe da Dassault no Brasil, Jean-Marc Merialdo, disse à agência France Presse que toda a tecnologia do Rafale pertence à França.

O documento vazado dos EUA cita fontes militares em Brasília, dizendo que o País "quer não apenas comprar o Rafale, mas construir o avião em seu próprio território e posteriormente vendê-lo pela América Latina até 2030". As informações são da Dow Jones.

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