Wada diz que não há tempo para vigiar doping nas Olimpíadas
O escândalo sobre o caso de doping russo pode tirar da competição no Brasil uma das maiores potências esportivas
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2015 às 10h27.
Genebra - Os Jogos Olímpicos do Rio , em 2016, vão ocorrer sob a sombra do doping e marcado pela volta de um discurso da Guerra Fria. O escândalo sobre o caso de doping russo pode tirar da competição no Brasil uma das maiores potências esportivas.
Mas Dick Pound, investigador que assumiu a tarefa da Agência Mundial de Antidoping (Wada, na sigla em inglês) para apurar o caso em Moscou, alerta: "não há porque imaginar que o problema se limite apenas a Rússia e apenas ao atletismo".
Na última segunda-feira, ele publicou um informe de 350 páginas descrevendo uma verdadeira indústria montada em Moscou para garantir medalhas, com a ajuda do doping e o envolvimento direto do governo russo.
Questionado pela reportagem, ele deixou claro que estava recomendando o afastamento dos atletas russos do Rio, o que seria por si só um golpe duro contra o evento. Em 2012, em Londres, os russos ficaram em segundo lugar no atletismo, superados apenas pelos norte-americanos.
Mas fontes que participaram da investigação confirmaram que as descobertas sobre os russos apenas "abriram uma caixa de Pandora". "A partir de agora, sabemos que tudo estará sob a sombra do doping", disse um membro do comitê de investigação, na condição de anonimato.
Para os investigadores, se os russos forem autorizados a competir no Rio, cada uma de suas medalhas será questionada. Caso os russos de fato não estejam no Rio, a dúvida que vai permear todos é se as demais equipes também teriam recorrido aos mesmos métodos. "Todos estão sob suspeita", admitiu Pound à reportagem.
Mas o problema é que, faltando nove meses para o evento no Rio, não há nem como modificar o sistema de controle de doping nem de iniciar uma varredura generalizada nos principais países. Pound, por exemplo, não esconde que tem sérias dúvidas também sobre o Quênia, uma das potências no atletismo.
"O Quênia tem problemas reais", disse o advogado canadense que, nos anos 90, liderou a investigação sobre a compra de votos nos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City, nos Estados Unidos. "Eles têm sido lentos em reconhecer o problema. Se não houver uma investigação, alguém fará o trabalho por eles", ameaçou.
Sobre o Brasil, ele deixou claro que as suspeitas também existiram de que haveria um esforço para se construir uma equipe que pudesse trazer mais medalhas em 2016. "Sabemos que todos os anfitriões tentam obter melhores resultados", disse.
Por isso, segundo ele, o laboratório no Rio foi descredenciado pela Wada. Para ele, a descoberta sobre a Rússia é apenas "a ponta de um iceberg". "Essa é apenas o começo da história e há muito mais", afirmou.
Para Pound, mesmo sem a Rússia no Rio, chegou o momento de a Wada e do COI questionarem se o trabalho feito está sendo suficiente.
"Em algum momento, o movimento olímpico e governos precisam se questionar se estão fazendo as coisas de forma adequada ou se devem simplesmente desistir".
Genebra - Os Jogos Olímpicos do Rio , em 2016, vão ocorrer sob a sombra do doping e marcado pela volta de um discurso da Guerra Fria. O escândalo sobre o caso de doping russo pode tirar da competição no Brasil uma das maiores potências esportivas.
Mas Dick Pound, investigador que assumiu a tarefa da Agência Mundial de Antidoping (Wada, na sigla em inglês) para apurar o caso em Moscou, alerta: "não há porque imaginar que o problema se limite apenas a Rússia e apenas ao atletismo".
Na última segunda-feira, ele publicou um informe de 350 páginas descrevendo uma verdadeira indústria montada em Moscou para garantir medalhas, com a ajuda do doping e o envolvimento direto do governo russo.
Questionado pela reportagem, ele deixou claro que estava recomendando o afastamento dos atletas russos do Rio, o que seria por si só um golpe duro contra o evento. Em 2012, em Londres, os russos ficaram em segundo lugar no atletismo, superados apenas pelos norte-americanos.
Mas fontes que participaram da investigação confirmaram que as descobertas sobre os russos apenas "abriram uma caixa de Pandora". "A partir de agora, sabemos que tudo estará sob a sombra do doping", disse um membro do comitê de investigação, na condição de anonimato.
Para os investigadores, se os russos forem autorizados a competir no Rio, cada uma de suas medalhas será questionada. Caso os russos de fato não estejam no Rio, a dúvida que vai permear todos é se as demais equipes também teriam recorrido aos mesmos métodos. "Todos estão sob suspeita", admitiu Pound à reportagem.
Mas o problema é que, faltando nove meses para o evento no Rio, não há nem como modificar o sistema de controle de doping nem de iniciar uma varredura generalizada nos principais países. Pound, por exemplo, não esconde que tem sérias dúvidas também sobre o Quênia, uma das potências no atletismo.
"O Quênia tem problemas reais", disse o advogado canadense que, nos anos 90, liderou a investigação sobre a compra de votos nos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City, nos Estados Unidos. "Eles têm sido lentos em reconhecer o problema. Se não houver uma investigação, alguém fará o trabalho por eles", ameaçou.
Sobre o Brasil, ele deixou claro que as suspeitas também existiram de que haveria um esforço para se construir uma equipe que pudesse trazer mais medalhas em 2016. "Sabemos que todos os anfitriões tentam obter melhores resultados", disse.
Por isso, segundo ele, o laboratório no Rio foi descredenciado pela Wada. Para ele, a descoberta sobre a Rússia é apenas "a ponta de um iceberg". "Essa é apenas o começo da história e há muito mais", afirmou.
Para Pound, mesmo sem a Rússia no Rio, chegou o momento de a Wada e do COI questionarem se o trabalho feito está sendo suficiente.
"Em algum momento, o movimento olímpico e governos precisam se questionar se estão fazendo as coisas de forma adequada ou se devem simplesmente desistir".