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Vestuário fica mais caro neste Natal e no próximo

Tendência de elevação de preço dos artigos de vestuário deve continuar graças à combinação de custos e demanda em alta

Para 2011, a expectativa dos analistas é que os preços subam ainda mais (Masão Goto Filho/EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2010 às 16h05.

Aqueles que já começaram sua peregrinação pelas lojas em busca de presentes de Natal devem ter notado que não são apenas os alimentos que estão mais caros. Também os produtos do segmento de vestuário – roupas, calçados, e itens de cama, mesa e banho – tiveram aumento de preço ao longo deste ano.

A alta, inclusive, foi tão expressiva que ajudou pressionar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação no Brasil. Em novembro, enquanto o IPCA teve acréscimo de 0,83%, o item vestuário subiu 1,25%. No ano, a elevação destes produtos é de 6,09%.

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Se fosse apenas um movimento temporário causado pela demanda mais forte de final de ano, o aumento não seria tão preocupante. O problema é que, para 2011, a expectativa dos analistas é que os preços subam ainda mais, mesmo após o desestímulo ao crédito anunciado pelo governo na última semana. A inflação total do setor entre o segundo semestre de 2010 e o primeiro semestre de 2011 deverá chegar a 18%.

“As redes de varejo e a indústria talvez absorvam parte desse aumento, mas o consumidor certamente será penalizado com preços mais altos, sobretudo nos três primeiros meses do ano”, afirma Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex), em Santa Catarina.

Commodities em alta

Uma elevação de preço desta magnitude é inédita na indústria têxtil brasileira. Desde o início do Plano Real, os itens do vestuário têm, ao contrário, ajudado a amenizar a curva do IPCA. A situação começou a mudar em 2006. De lá para cá, os estoques mundiais de algodão entraram em queda graças à desaceleração da produção em países exportadores, como Índia, Rússia e Estados Unidos. Neste período, salvo nos meses de crise mundial mais severa, viu-se um crescimento da demanda internacional, com destaque para os emergentes. Como resultado, as cotações das commodities passaram a mostrar alta expressiva.

Em quatro anos, o preço do algodão (em libra-peso) deu um salto de 144% no mercado à vista. Apenas em 2010, o incremento foi de 107%.


Apesar de ser a principal matéria-prima do setor têxtil, o algodão não é a única. Os preços dos tecidos sintéticos – feitos a partir de fibras derivadas do petróleo e com boa parte da produção na Ásia – também subiram. A pujante demanda interna ajudou, inclusive, a encarecer as peças de vestuário para os próprios chineses.

Redes varejistas que trazem roupas, tecidos e calçados da Ásia já estão sofrendo as conseqüências. “Estamos nas mãos da China. O que estamos comprando hoje tem um preço bem superior ao do início deste ano e não há nada que se possa fazer para mudar isso”, afirma um executivo de uma grande empresa de varejo que importa vestuário da China.

Um 2011 incerto

Especialistas concordam que as redes têm poucas saídas ante este cenário: ou repassam todo ou parte do aumento de custos ao consumidor, ou absorvem a alta para manter ou ganhar participação de mercado. Essa segunda opção, apesar de boa para o consumidor, seria prejudicial aos resultados operacionais das empresas. Markus Stricker, sócio da consultoria AT Kearney, aponta uma terceira opção: usar a criatividade para criar novos ‘mix’ de produtos. “As empresas podem trabalhar a composição da coleção para manter os preços no mesmo patamar e não perder mercado”, afirma.

Dentre estas opções, infelizmente a alternativa mais provável é que a elevação de preço chegará ao bolso do consumidor. A razão é que, com renda e emprego em expansão, o consumo tende a seguir aquecido e a absorver esses aumentos.

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