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Um ano depois, um "exército" de Marielles mantém vivo legado da vereadora

Talíria Petrone Dani Monteiro, Mônica Francisco e Renata Souza contam sobre a influência da vereadora assassinada há exatamente um ano

Talíria, Dani, Mônica e Renata: as herdeiras de Marielle Franco, no Rio de Janeiro (Facebook/Reprodução)

Talíria, Dani, Mônica e Renata: as herdeiras de Marielle Franco, no Rio de Janeiro (Facebook/Reprodução)

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Clara Cerioni

Publicado em 14 de março de 2019 às 06h00.

Última atualização em 14 de março de 2019 às 06h00.

São Paulo — Em outubro do ano passado, o assassinato da vereadora Marielle Franco estava prestes a completar sete meses sem respostas, quando o resultado das eleições confirmou que seu legado seria disseminado, no mínimo, pelos próximos quatro anos.

No primeiro turno, os eleitores do Rio de Janeiro escolheram quatro mulheres negras próximas à Marielle para assumir cargos eletivos.

Talíria Petrone conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados, com mais de 107 mil votos. Já Dani Monteiro, Mônica Francisco e Renata Souza, as três ex-assessoras de Marielle, assumiram o cargo de deputadas estaduais na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Todas são filiadas ao PSOL, assim como a vereadora morta, e atuam como ativistas de pautas identitárias de luta das mulheres, da população negra e dos LGBTs.

"Marielle foi — e permanece nesse posto — uma inspiração por similaridade", resume Dani Monteiro.

Nesta quinta-feira (13), quando o assassinato da vereadora completa um ano, as quatro deputadas comentam sobre as influências de Marielle em seus trabalhos legislativos e as expectativas para as pautas voltadas à defesa dos direitos humanos.

Talíria Petrone

Nona deputada federal mais votada do Rio de Janeiro, Talíria conheceu Marielle no Complexo Favela da Maré, onde a vereadora nasceu e cresceu.

Talíria dava aula num cursinho pré-vestibular e numa escola pública na região, enquanto Marielle se dedicava à luta dos direitos humanos, que pautou toda a sua trajetória política e, segundo as investigações do Ministério Público, foi uma das causas de seu assassinato. 

Para a deputada, as bandeiras defendidas por Marielle representavam a dor da maior parte da população, como as violências contra mulheres negras, a criminalização racial e a militarização da favela.

"Sigo honrando a memória de Marielle, combatendo genocídio dos jovens da favela, ampliando seus direitos, enfrentando o feminicídio e defendendo o direito de amar e ser quem você é", diz.

Em Brasília, Talíria defende a importância de ocupar o espaço e defender pautas dos direitos humanos. "Não há nenhuma ilusão sobre o que é esse espaço [do Congresso]. É a reprodução de um navio que ainda remete aos tempos coloniais, com fazendeiros, ruralistas e banqueiros. Mas é importante ocupar esse espaço, mesmo que seja um espaço estranho ao nosso corpo".

Dani Monteiro

"A origem e trajetória pessoal de Marielle, a militância e a execução covarde que ela sofrera guardam muitas semelhanças com as nossas vidas de pobres, negros e favelados", explica a deputada estadual que relembra a inspiração da vereadora em sua trajetória política.

As duas se conheceram no PSOL e construíram uma relação de "respeito e admiração", como define Dani. "Com a Marielle, eu enxerguei a mim mesma como corpo político, muito além da invisibilidade a que sempre estive exposta", completa.

Para manter viva a memória da vereadora, Dani, com o apoio de Renata e Mônica, levou para o âmbito estadual alguns projetos que Marielle havia trabalhado no município.

Um deles, apresentado em fevereiro, pede a regularização de imóveis de famílias de baixa renda. "Temos nossas pautas próprias, nossas trajetórias independentes, mas sabemos que estamos aqui porque Marielle provocou e instigou o surgimento de outras lideranças como ela", diz.

Para o futuro, a deputada estadual afirma que irá se dedicar a quatro eixos de atuação, ligados aos jovens: emprego, mobilidade, cultura e educação.

Mônica Francisco

A morte de Marielle continua sendo uma dor para amigos e militantes com bandeiras similares defendidas pela ex-vereadora. Houve, no entanto, um alento em meio à tragédia: as mulheres negras e ligadas aos direitos humanos receberam um holofote que jamais tinha sido visto antes.

Essa é a opinião da deputada estadual Mônica Francisco, eleita com mais de 40 mil votos nas eleições do ano passado na capital fluminense. “A morte de Marielle jogou luz nessas mulheres negras que queriam protagonismo, mas nunca tiveram essa possibilidade”, diz Mônica.

Ela mesma é um exemplo dessas mulheres. Vinda do Morro do Borel, localizado no bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Mônica é cientista social, pastora evangélica e defensora dos direitos humanos.

E a deputada quer manter o legado da vereadora, desta vez na Alerj. Mônica pretende levar para todo o Estado alguns dos projetos de Marielle, como as campanhas contra assédio no transporte público, os espaços noturnos de educação infantil e as políticas de assistência técnica para habitação de interesse social.

“Essas pautas são eixos norteadores para nós e para mim, enquanto mulher negra e oriunda das periferias”, diz.

Renata Souza

A deputada estadual Renata Souza pode ser considerada uma das parlamentares mais próximas de Marielle Franco. Amiga da ex-vereadora desde o ano 2000, Souza também atuou como chefe de gabinete de Marielle durante o seu mandato na Câmara Municipal.

A morte da Marielle, segundo ela, tirou do conformismo e da inércia mulheres que não atuavam de maneira tão assídua na política.

“Ela sempre nos disse que não queria estar sozinha na política e que precisaríamos ocupar espaços”, afirma Souza.

Foi esse o caminho que a ex-chefe de gabinete e militante dos direitos humanos nascida no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, decidiu trilhar. E foi a deputada estadual mais votada do PSOL e da própria esquerda nas eleições do ano passado: quase 64 mil votos.

Como presidente da comissão dos direitos humanos da Alerj, Souza coloca entre as suas prioridades políticas para evitar que mulheres sejam assassinadas e também para o fim dos homicídios dos homens negros.

“Não podemos deixar a barbárie e o ódio tomarem conta da sociedade, que está ficando doente”, afirma ela.

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