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Sem-terra ameaçam invadir fazendas de brasileiros no Paraguai

Paraguaios estão acampados nos arredores de fazendas de brasileiros em Alto Paraná; Tensão aumentou depois que Lugo anunciou demarcação na região da fronteira

Sem-terra paraguaios ameaçam invadir propriedade de brasileios na região da fronteira com o Brasil (Norberto Duarte/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2012 às 06h04.

Sobre uma terra vermelha e poeirenta, ao menos mil sem-teto paraguaios armados com porretes de madeira e facões escutam palavras de ordem gritadas ao microfone, em guarani. A cena acontece a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai , na cidade de Ñacunday, no Alto Paraná. Na caçamba de uma caminhonete branca, diante do grupo, está Victoriano Lopez Cardozo, líder do movimento. No discurso do campesino, ataques aos brasileiros que vivem no Paraguai, em 167 mil hectares de terras que o grupo reivindica para a reforma agrária. Se os brasileiros não saírem, ameaçam os sem-terra paraguaios, haverá invasão das lavouras.

Eles são os carperos. Em português, aqueles que moram em barracas. São barracas de teto baixo, montadas com tábuas de madeira e lona. No lugar de piso, apenas chão batido, da mesma terra vermelha e poeirenta. Os sem-teto – que dizem somar 10.000 pessoas – estão há mais de dez anos na região e, desde então, vivem em conflito com os chamados brasiguaios, gente nascida no Brasil que se mudou para o país vizinho para plantar e trabalhar, entre os anos 1960 e 1970. Eles formam um contingente de 350.000 pessoas.

O trabalho dos brasiguaios alavancou a produção agrícola do Paraguai. A soja foi o grande motor do crescimento da economia daquele país. No trajeto entre Ciudad del Este e Ñacunday, percorrem-se mais de 40 quilômetros de uma estrada ladeada por lavouras. Elas pertencem a Tranquilo Favero, brasileiro naturalizado paraguaio, o maior produtor individual de soja daquele país.

Favero comanda um conglomerado de sete empresas, que ocupam terras em 13 dos 17 departamentos do Paraguai, o equivalente a estados no Brasil. E é o alvo dos brados dos carperos. “Pedimos que Favero abandone a terra pública pacificamente”, diz Victoriano Lopez. O líder campesino acusa o sojicultor de não ter documentos de posse das terras e de ter se apropriado delas de forma ilegal. Favero nega.


O embate tomou contornos críticos nos últimos quinze dias, depois que o presidente do Paraguai, Fernando Lugo determinou a demarcação de terras paraguaias na fronteira com o Brasil. O argumento do governo paraguaio é checar se há brasileiros em terras que originalmente eram públicas. Foi a deixa para os sem-terra convocarem militantes a irem para os acampamentos do Alto Paraná pressionar pela expulsão dos brasiguaios.

Ao longo da semana, os carperos ameaçaram um “banho de sangue” caso os brasileiros não deixassem as terras. Neste sábado, quando a reportagem de VEJA visitou o acampamento do grupo, o discurso foi reforçado. “Os invasores são os brasileiros. Não podemos ser invasores nas nossas próprias terras”, disse Victoriano Lopez. “Não temos medo de guerra.”

No acampamento não há luz elétrica nem água encanada. Um homem pendurava a pele de um animal morto para secar nos galhos de uma árvore enquanto um menino de cerca de 3 anos corria nu entre as barracas. Enquanto os homens discutiam os rumos do movimento – a reportagem não foi autorizada a acompanhar a assembleia –, mulheres tomavam tereré, bebida gelada de erva mate, debaixo de lonas.

Governo – O presidente Lugo fez uma reunião neste sábado na capital Assunção para analisar a situação na região do Alto Paraná. “Qualquer saída para os conflitos passará pelo respeito ao marco normativo vigente no Paraguai”, informou em nota o chefe de gabinete da presidência, Miguel López Perito. “A legalidade é um princípio norteador do Executivo, do qual não abriremos mão.” Os detalhes da reunião só serão conhecidos na segunda-feira, quando a presidência emitirá um comunicado oficial com o resultado das discussões.

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Sobre uma terra vermelha e poeirenta, ao menos mil sem-teto paraguaios armados com porretes de madeira e facões escutam palavras de ordem gritadas ao microfone, em guarani. A cena acontece a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai , na cidade de Ñacunday, no Alto Paraná. Na caçamba de uma caminhonete branca, diante do grupo, está Victoriano Lopez Cardozo, líder do movimento. No discurso do campesino, ataques aos brasileiros que vivem no Paraguai, em 167 mil hectares de terras que o grupo reivindica para a reforma agrária. Se os brasileiros não saírem, ameaçam os sem-terra paraguaios, haverá invasão das lavouras.

Eles são os carperos. Em português, aqueles que moram em barracas. São barracas de teto baixo, montadas com tábuas de madeira e lona. No lugar de piso, apenas chão batido, da mesma terra vermelha e poeirenta. Os sem-teto – que dizem somar 10.000 pessoas – estão há mais de dez anos na região e, desde então, vivem em conflito com os chamados brasiguaios, gente nascida no Brasil que se mudou para o país vizinho para plantar e trabalhar, entre os anos 1960 e 1970. Eles formam um contingente de 350.000 pessoas.

O trabalho dos brasiguaios alavancou a produção agrícola do Paraguai. A soja foi o grande motor do crescimento da economia daquele país. No trajeto entre Ciudad del Este e Ñacunday, percorrem-se mais de 40 quilômetros de uma estrada ladeada por lavouras. Elas pertencem a Tranquilo Favero, brasileiro naturalizado paraguaio, o maior produtor individual de soja daquele país.

Favero comanda um conglomerado de sete empresas, que ocupam terras em 13 dos 17 departamentos do Paraguai, o equivalente a estados no Brasil. E é o alvo dos brados dos carperos. “Pedimos que Favero abandone a terra pública pacificamente”, diz Victoriano Lopez. O líder campesino acusa o sojicultor de não ter documentos de posse das terras e de ter se apropriado delas de forma ilegal. Favero nega.


O embate tomou contornos críticos nos últimos quinze dias, depois que o presidente do Paraguai, Fernando Lugo determinou a demarcação de terras paraguaias na fronteira com o Brasil. O argumento do governo paraguaio é checar se há brasileiros em terras que originalmente eram públicas. Foi a deixa para os sem-terra convocarem militantes a irem para os acampamentos do Alto Paraná pressionar pela expulsão dos brasiguaios.

Ao longo da semana, os carperos ameaçaram um “banho de sangue” caso os brasileiros não deixassem as terras. Neste sábado, quando a reportagem de VEJA visitou o acampamento do grupo, o discurso foi reforçado. “Os invasores são os brasileiros. Não podemos ser invasores nas nossas próprias terras”, disse Victoriano Lopez. “Não temos medo de guerra.”

No acampamento não há luz elétrica nem água encanada. Um homem pendurava a pele de um animal morto para secar nos galhos de uma árvore enquanto um menino de cerca de 3 anos corria nu entre as barracas. Enquanto os homens discutiam os rumos do movimento – a reportagem não foi autorizada a acompanhar a assembleia –, mulheres tomavam tereré, bebida gelada de erva mate, debaixo de lonas.

Governo – O presidente Lugo fez uma reunião neste sábado na capital Assunção para analisar a situação na região do Alto Paraná. “Qualquer saída para os conflitos passará pelo respeito ao marco normativo vigente no Paraguai”, informou em nota o chefe de gabinete da presidência, Miguel López Perito. “A legalidade é um princípio norteador do Executivo, do qual não abriremos mão.” Os detalhes da reunião só serão conhecidos na segunda-feira, quando a presidência emitirá um comunicado oficial com o resultado das discussões.

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