Brasil

Rio mira Miami e se promove como Vale do Silício tropical

Desde que voltou ao cargo em 2021, o prefeito Eduardo Paes (PSD) tenta convencer incorporadoras, traders de criptomoedas

Rio de Janeiro. (Christian Adams/Getty Images)

Rio de Janeiro. (Christian Adams/Getty Images)

Bloomberg
Bloomberg

Agência de notícias

Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 12h41.

Milhões de visitantes visitam o Rio de Janeiro todos os anos por suas praias, música e carnaval. Agora, quando a cidade enfrenta uma perda populacional, o governo busca aproveitar essas atrações para estabelecer o Rio como um hub tecnológico regional.

Desde que voltou ao cargo em 2021, o prefeito Eduardo Paes (PSD) tenta convencer incorporadoras, traders de criptomoedas e nômades digitais com os encantos da cidade maravilhosa.

Na opinião de Paes, com profissionais cada vez mais distantes dos escritórios, o Rio tem tudo para se tornar um centro do que ele chama de “finanças de amanhã”.

“Quando falo sobre cripto, quando falo sobre mercados de carbono, vejo um ambiente onde as pessoas não precisarão necessariamente se reunir para trabalhar”, disse em entrevista no início deste ano. “Então, o que vão procurar? Qualidade de vida.”

A cidade persegue um novo modelo econômico há décadas, depois de o centro do poder do país ter se mudado para Brasília e a bolsa de valores para São Paulo. Isso privou o Rio de talentos e capital enquanto tenta se redefinir.

Mas a cidade enfrenta obstáculos para atrair residentes devido aos antigos problemas, como a desigualdade econômica, serviços precários e falta de moradia – que só foram agravados pela Covid-19. E a segurança preocupa ainda mais, com uma série de assassinatos de grande repercussão nos últimos meses, chamando a atenção para a elevada taxa de homicídios no país.

Abordar questões de segurança é “fundamental para ter sucesso em qualquer política de investimento, seja de alta tecnologia, de baixa tecnologia, para produzir empregos e para produzir condições econômicas satisfatórias”, disse Sérgio Magalhães, ex-secretário de Habitação do Rio e autor do livro “Reinvenção da Cidade - Interação, Equidade, Planeta”. E Magalhães disse que isso requer ajuda de autoridades estaduais e federais.

Paes quer atrair novas indústrias – cripto, mercados de carbono, jogos eletrônicos – em uma tentativa de transformar o Rio no hub de inovação da região. Para esse fim, o governo municipal corta impostos, cria leis e renova bairros para criar uma economia do século 21 na praia.

“O meio ambiente no Rio, a paisagem ou a natureza são um ativo econômico”, disse Paes. “Então, trabalhe de casa, tenha sua casa no Rio. Vai ser muito, muito melhor.”

Rio De Janeiro Mayor Eduardo Paes Interview On The Sidelines Of Carnival
Eduardo Paes, mayor of Rio de Janeiro, right, presents the city’s key to King Momo, a symbolic Carnival leader on Feb. 17, 2023. Photographer: Dado Galdieri/Bloomberg
A atenção global no Rio vai certamente aumentar com os preparativos para a cúpula do G20 no ano que vem.

Mas críticos questionam o esforço para imitar outras cidades e se promover como uma alternativa tropical a Wall Street ou ao Vale do Silício para os trabalhadores.

“A questão é: eles estão vindo? E número dois: isso é realmente uma coisa boa?”, disse Ned Murray, diretor associado do Centro Metropolitano da Universidade Internacional da Flórida, que estuda a economia de Miami e o recente “boom” imobiliário. Ele alerta que as mudanças em Miami têm elevado os preços e deslocado residentes que são essenciais para as indústrias dominantes da cidade, como o turismo e a hospitalidade.

Mais de dois anos depois de o Rio começar a se autodenominar um destino para nômades digitais, apenas cerca de 700 pessoas haviam recebido um visto de trabalho remoto para entrar no Brasil até 23 de outubro. Autoridades dizem que esse número não consegue capturar a imagem completa de profissionais remotos no Rio, muitos dos quais podem estar visitando com vistos de turista ou outras permissões: em outubro, a cidade estimou cerca de 4 mil trabalhadores remotos, com base em sua análise de redes sociais e serviços de mensagens. Em fevereiro, a estimativa ultrapassou 8 mil pessoas “trabalhando” durante o Carnaval.

O número se compara aos 109 mil residentes permanentes perdidos pela cidade desde 2010, de acordo com o último censo.

Rodrigo Stallone, que até setembro comandou a agência Invest.Rio, diz que a iniciativa se baseia, em parte, na tentativa de mudar a narrativa, reduzindo a burocracia e promovendo a cidade como um centro de tecnologia e que respeita o meio ambiente.

“Poderíamos fazer algo parecido com o que Miami fez e começar a roubar as empresas do Vale do Silício”, afirmou.

Paes também parece ter adaptado uma abordagem do vale tudo em relação a todas as coisas tecnológicas. Após o colapso da FTX, antes uma das maiores bolsas de criptomoedas do mundo, o prefeito decidiu apostar nos videogames competitivos – anunciando que o Rio se tornaria uma “capital dos esportes eletrônicos” em janeiro – e, mais recentemente, voltou sua atenção para os mercados de crédito de carbono.

“Não vamos nos tornar uma Houston, então por que não novas tecnologias?” disse Chicão Bulhões, secretário de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio.

Acompanhe tudo sobre:Rio de Janeiro

Mais de Brasil

Secretário de Turismo diz que 53% das atrações públicas do RS foram danificadas

Prefeito de Canoas diz que reconstrução de prédios públicos demanda mais de R$ 200 milhões

OPINIÃO: Nunca esqueceremos

Enchentes no RS: sobe para 155 o número de mortos; 94 pessoas seguem desaparecidas

Mais na Exame