Racionalização do voto derrubou Marina, diz especialista
Para Emmanuel Publio Dias, da ESPM, pouco tempo na TV e falta de propostas mais efetivas também podem ter contribuído para que efeito Marina perdesse o fôlego
Talita Abrantes
Publicado em 1 de outubro de 2014 às 16h23.
São Paulo – O escorregão agudo de Marina Silva (PSB) nas últimas pesquisas de intenção de voto pode ser um sinal de que seus adversários estavam certos: há chances de que a popularidade da candidata entre os eleitores tenha sido apenas uma “onda”.
É o que acredita Emmanuel Publio Dias, professor de marketing político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Segundo ele, faltando poucos dias para o pleito, os eleitores tendem a racionalizar o próprio voto e Marina pode ter sido vítima deste processo.
“Se a eleição tivesse acabado dez dias após a morte do Eduardo Campos, talvez ela tivesse vencido”, afirma o especialista.
A candidata que já chegou a pontuar 33 pontos das intenções de voto na pesquisa Ibope no início de setembro, agora, é opção de apenas 25% dos eleitores no primeiro turno, segundo os dados divulgados ontem. Na sondagem do Datafolha, Marina está 15 pontos atrás de Dilma.
Os ataques de Dilma Rousseff (PT) e dos outros oponentes não seriam a única explicação para o desempenho que assusta os partidários.
Falta de recursos financeiros para a campanha, pouco tempo na TV e as disputas internas dentro do próprio PSB – do qual a candidata é filiada há pouco tempo – também teriam contribuído para o enfraquecimento de Marina.
Veja trechos da entrevista que ele concedeu a EXAME.com:
EXAME.com - Os ataques contra Marina Silva são, realmente, os responsáveis pela queda nas intenções de voto?
Emmanuel Publio Dias - E m uma campanha eleitoral, não existe um fator que sozinho seja responsável por resultados expressivos nas pesquisas de intenção de voto.
Eles são resultado de uma série de pressões e fatores que podem ser construídos à medida que a própria opinião pública se forma a partir de seus agentes, que são os veículos de comunicação, as redes sociais, a propaganda eleitoral e até conversas com conhecidos.
Existem alguns fatores que são muito importantes. O acidente que vitimou o Eduardo Campos foi um deles.
EXAME.com - Que impactou a candidatura dela ...
Publio Dias – Foram dois resultados imediatos. O avião caiu no colo dos eleitores e colocou o assunto eleições na mesa dos brasileiros.
Com isso, revelou o Eduardo Campos, que era desconhecido total dos eleitores, e catapultou a candidatura de Marina que passou a ser depositória das esperanças de um candidato idealizado.
Ele passou de desconhecido a idealizado e se transformou em um legado, que foi transferido para ela. A grande dúvida é, até que ponto, estes votos são de Marina ou resultado deste processo.
EXAME.com - Qual é a sua opinião?
Publio Dias - Os votos eram muito mais deste momento, deste legado emocional. O eleitor que não gosta de política, mas tem que votar, começa a prestar mais atenção [ao processo eleitora] e racionaliza a intenção de voto. Nesta racionalização, Marina e outros candidatos que foram beneficiados com a tragédia de Eduardo Campos se esvaziam.
EXAME.com – O que ela deveria ter feito para ser a conclusão óbvia desta racionalização?
Publio Dias – Uma série de fatores colaborou para ela não conseguir transformar este legado em intenções consistentes de voto. A campanha não tinha tantos recursos, nem tempo na televisão, a estrutura partidária era fragilizada. Se a eleição tivesse acabado dez dias após a morte do Eduardo Campos, talvez ela tivesse vencido.
EXAME.com – Descontando os fatores estruturais, qual deveria ter sido a estratégia de comunicação da campanha?
Publio Dias – Demostrar claramente sua capacidade de ser presidente, de viabilizar o plano de governo em discursos mais efetivos. Tanto Aécio [Neves, PSDB] quanto Dilma têm determinações claras de como fazer e o que fazer. Ela tem intenções, propostas institucionais e algumas até intangíveis, que são frágeis.
Mas a eleição ainda não acabou para ela, que tem várias chances de ir para o segundo turno.