Pressão do PDT pela vice de Paes amplia indefinição sobre chapas na corrida municipal do Rio
Presidente do partido, Carlos Lupi defende Martha Rocha para o posto e ameaça lançá-la contra o prefeito; adversários também não fecharam nomes
Agência de notícias
Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 09h54.
Última atualização em 29 de fevereiro de 2024 às 14h07.
A oito meses das eleições, o prefeito Eduardo Paes (PSD) passa por mais um impasse com sua base. Desta vez, o conflito é com o PDT que, atualmente, tem o comando da Secretaria de Trabalho e Renda.
Segundo o presidente licenciado do partido, Carlos Lupi, a sigla quer a deputada estadual Martha Rocha como vice na chapa à reeleição do chefe do Executivo municipal. Os outros dois principais pré-candidatos, Alexandre Ramagem (PL) e Tarcísio Motta (PSOL), também ainda não definiram o nome que irá compor as suas chapas.
Caso Paes não aceite a pedetista como sua vice, Lupi diz que a parlamentar irá concorrer contra ele no pleito. Em 2020, Martha Rocha ficou em terceiro lugar na capital fluminense, com 11% dos votos válidos. A articulação do PDT para pressionar Paes foi publicada pelo portal “Agenda do Poder” e confirmada pelo GLOBO.
— É um pleito já comunicado (a Paes) — disse Lupi, que é ministro do Trabalho do governo Lula.
O entorno do presidente licenciado do PDT, contudo, admite que se trata de um acordo difícil. O PT pleiteia a posição na chapa de Paes e também tem enfrentado reveses.
Embora os petistas já tenham sinalizado que apoiarão a reeleição de Paes, a presidente do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), condiciona a aliança à indicação do candidato a vice. A declaração contraria alternativas apresentadas por outros integrantes da sigla, como o vice-presidente nacional e deputado federal Washington Quaquá (RJ), que já admitiu trabalhar pela reeleição do chefe do Executivo municipal mesmo sem estar presente na chapa.
Hoje, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa três secretarias na Prefeitura. Gleisi aponta dois nomes cogitados pelo PT para a vice de Paes: a ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, que deve se filiar ao partido no próximo mês, e o secretário de Assuntos Federativos do governo Lula, André Ceciliano.
Gleisi reconhece, contudo, que a eleição no Rio será estratégica para o partido e que a vitória de um aliado na capital fluminense tem papel importante na construção das bases de 2026.
Projeto de longo prazo
A vice é ainda mais cobiçada neste ano porque Paes deve deixar o Executivo municipal para concorrer ao governo do estado em 2026. Nesse caso, o vice assume a prefeitura. Com isso, Paes tem deixado claro que não abrirá mão de ter alguém de extrema confiança ao seu lado na corrida à reeleição.
O PT avalia filiar em suas fileiras o advogado Felipe Santa Cruz (PSD), secretário municipal de Governo, cotado para vice. O convite já foi feito por Quaquá. Outras lideranças petistas, embora priorizem alternativas caseiras, estão abertas ao diálogo com Santa Cruz, que é amigo de Paes, e avaliam que o próprio prefeito tem feito gestos por uma composição mais palatável à esquerda.
Tanto o PT quanto Paes se esforçam para agrupar partidos da base de Lula diante da concorrência do PSOL, que lançou o deputado federal Tarcísio Motta como pré-candidato à prefeitura do Rio. Tarcísio tem mantido conversas desde setembro com caciques do PDT, PSB, PCdoB e do próprio PT, todos com integrantes no secretariado de Paes, de olho em cultivar dissidências na base do atual prefeito.
Paes deseja indicar um vice de seu grupo político mais próximo. Aliados do prefeito consideram que o plano A é o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ). Porém, consideram que, ciente das dificuldades para emplacar o parlamentar, Paes trabalha com outras possibilidades.
Em outubro, ele recriou a secretaria municipal de Governo para dar protagonismo a Santa Cruz em seu primeiro escalão. A estratégia lembra a adotada por Paes em 2015, quando nomeou Pedro Paulo em função similar antes de apontá-lo como candidato à sucessão no ano seguinte.
Diferentemente de Pedro Paulo, que sempre fez parte do grupo político de Paes, Santa Cruz já concorreu a vereador pelo PT e vem de uma família petista. Fora da vida partidária, presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de 2019 a 2022. Após deixar o posto, se filiou ao PSD a convite de Paes e concorreu como vice de Rodrigo Neves (PDT) ao governo do estado.
Na gestão de Paes também são cotados Eduardo Cavaliere (Casa Civil), Guilherme Schleder (Esportes) e Daniel Soranz (Saúde), todos do PSD.
Já na oposição a Paes, Alexandre Ramagem, principal aposta do PL para a disputa, possivelmente terá uma chapa “puro sangue”, o que é um desejo de Jair Bolsonaro. Ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência no governo anterior, o deputado foi alvo de uma operação da Polícia Federal na semana passada em investigação sobre monitoramento ilegal de desafetos do ex-presidente. Assim, dirigentes do partido aguardam desdobramentos do inquérito para avaliar eventuais impactos nos planos eleitorais.
O nome da deputada federal Chris Tonietto desponta entre os preferidos. Presidente estadual do PL Mulher, Chris tem a simpatia da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Aliados, contudo, ainda vislumbram uma composição com MDB e PP que, a princípio, têm pré-candidatos. No caso do MDB, o nome é o do deputado federal Otoni de Paula, o que não é consenso na ala da sigla próxima ao governador Cláudio Castro.
— A minha tendência é estar ao lado do governador. Se ele resolver apoiar Ramagem, vou com ele. Minha opinião é que a família Otoni naturalmente vai acompanhar — diz o secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB).
Já no PP, o deputado federal Marcelo Queiroz se colocou no jogo. Com um eleitorado diferente do bolsonarismo, Queiroz tem pautas voltadas ao meio ambiente, transplantes e causa animal, podendo angariar votos de Paes. Neste contexto, há o interesse do PSDB em recrutá-lo, o que poderia favorecer uma composição de chapa com Ramagem.