Por que 'Cometa do Diabo'? Entenda apelido dado ao fenômeno espacial visto no Brasil neste domingo
Moradores do Nordeste já conseguem ver fenômeno; cometa 12P/Pons-Brooks poderá ser visto de todo Hemisfério Sul a partir de hoje
Agência de notícias
Publicado em 21 de abril de 2024 às 11h58.
Visível em todo o Hemisfério Sul a partir deste domingo, 21, quando atinge sua maior aproximação do Sol, o cometa 12P/Pons-Brooks, apelidado de Cometa do Diabo , antes era observável apenas em países do norte do globo terrestre.
De acordo com o Observatório Nacional, este é classificado como um cometa do tipo Halley, conhecidos pelo curto de período de tempo que precisam para dar uma volta em torno do Sol. Trata-se de um intervalo de tempo que vai de 20 a 200 anos. O Cometa do Diabo demora cerca de 71,3 anos para fazer o trajeto.
Descoberto em 1812, o astro tem cerca de 29 quilômetros de diâmetro (o triplo do tamanho do Monte Everest) e é descrito como um “vulcão frio” por ejetar violentamente gelo e gás — que formam uma cauda em formato de chifre, origem do apelido do cometa.
Qual é o melhor horário para observar o 'Cometa do Diabo'?
Segundo o Observatório Nacional, o ideal é tentar ver o cometa sempre por volta das 17h40 e 18h30. A maior dificuldade, porém, é encontrar um lugar com vista do horizonte oeste livre, já que, segundo o astrônomo Filipe Monteiro, o cometa está muito baixo no céu, em uma altura de aproximadamente 15 graus.
Segundo o Observatório Nacional, moradores do Nordeste, por estarem mais ao Norte, já tem conseguido realizar desde o dia 7 de abril registros do cometa em sua passagem pelos céus brasileiros. A intensidade e o brilho do astro é imprevisível e, por isso, não é possível afirmar se ele será visível a olho nu. Binóculos e telescópios são recomendados, portanto.
— Os observadores deverão olhar para o horizonte oeste, na mesma direção do pôr do sol, para ver o cometa. O cometa está visível logo após o pôr do Sol, primeiramente abaixo da constelação de Touro, e a partir de maio, abaixo da constelação de Órion — explica o astrônomo.
Monteiro destaca ainda que dias de Lua cheia, como a que acontece na próxima terça-feira (23), são piores para a observação. Isso porque o brilho do satélite dificulta a visualização da maior parte dos objetos astronômicos. No dia 2 de junho, de acordo com o órgão, o cometa fará sua máxima aproximação do planeta Terra. No entanto, justamente nessa data, ele estará menos visível, com a visibilidade mais fraca.
Cometas são feitos basicamente de gases congelados, rochas e poeira. Quando se aproximam do Sol, o calor emitido pela estrela faz com que o gelo se transforme em gás. Com isso, forma-se a nuvem que dá ao astro sua cauda.
No início de junho, a rocha espacial ficará mais próxima à Terra, cerca de 232 milhões de quilômetros — longe o suficiente para não representar risco aos humanos. Nesse momento, ele ainda será observável, mas binóculos serão necessários, dada a distância do objeto do Sol.
O pesquisador Theodore Kareta conta à ABC News que as explosões dessa rocha espacial permitem que ele se torne claro o suficiente para, em alguns casos, serem vistos sem a necessidade de telescópios profissionais.
— Não há muitos cometas que tenham esses aumentos repentinos de brilho, que sejam tão fortes, e menos ainda que os tenham algumas vezes durante uma órbita. Parece que Pons-Brooks está realmente ativo — comenta.
Esses corpos celestes são núcleos composto por gelo, poeira e pequenas partículas rochosas, rodeados por uma nuvem nebulosa de gases. Quando um cometa criovulcânico, como o 12P/Pons-Brooks, chega próximo ao Sol, ele aquece. A pressão aumenta até que o nitrogênio e o monóxido de carbono explodam e detritos gelados sejam expelidos através de grandes rachaduras.
O astrônomo amador e professor aposentado da Universidade do Arizona, Eliot Herman, tem monitorado o cometa. Segundo ele, o corpo celeste brilhou abruptamente quase 100 vezes em 31 de outubro e continuou a ficar mais brilhante nos dias seguintes, o que indica que há uma nova explosão de atividade criovulcânica.
— Esse cometa foi amplamente divulgado nas notícias devido a duas explosões anteriores, que produziram a aparência de um "demônio com chifres". No Halloween, o diabo irrompeu novamente com uma grande explosão que continuou no dia seguinte — disse Herman.
O 12P/Pons-Brooks se desloca, atualmente, em direção ao Sol a cerca de 20 km por segundo, atraído pela força gravitacional do astro. À medida que se aproxima, a rocha pode chegar a 160 mil km/h. A aproximação com a Terra será posterior, quando a rocha espacial atingir cerca de 232 milhões de km/h, em meados de junho. Depois, o "cometa do diabo" será lançado gravitacionalmente de volta ao sistema solar exterior e não vai retornar até 2095.