Perfil "gastador" de favoritos ao Congresso preocupa parlamentares
Em troca de apoio ao seu candidato ao Senado, Eduardo Braga, MDB deve desembarcar do bloco de apoio ao indicado de Maia à Câmara, que deve ser decidido hoje
Fabiane Stefano
Publicado em 18 de dezembro de 2020 às 11h28.
Os candidatos mais fortes para o comando das duas casas do Congresso a partir de 2021 são da turma “gasto na veia” e podem dar trabalho para a equipe econômica, afirmam dois caciques políticos. O líder do Centrão, deputado Arthur Lira (PP-AL), favorito na Câmara, e o senador Eduardo Braga (MDB-AM), no páreo para o Senado, são parlamentares experientes e com coragem para bancar medidas de expansão fiscal, incluindo flexibilizações no teto de gastos, dizem as fontes.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem dito a interlocutores que Lira, já apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, seria um bom nome porque prometeu ao governo avançar na agenda de reformas no pós-pandemia. Mas as fontes lembram que Lira é da turma do toma lá dá cá e Guedes, como já admitiu várias vezes, entende de economia e não de política.
Lira fortalecido
O MDB quer o comando do Senado a partir de 2021. Para isso, o partido está disposto a deixar o bloco de apoio a um nome do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o comando da Câmara, o que fortaleceria Lira ainda mais. Se for preciso abandonar Maia em troca do apoio de outras legendas para ganhar o Senado, o MDB não vai pestanejar, afirma um cacique do partido.
Sem 3D
O plano 3D de Guedes -- desindexar, desvincular e desobrigar despesas do orçamento -- já era. A ideia da proposta era garantir a manutenção do teto de gastos, especialmente a partir de 2022 mas, sem apoio nenhum de Bolsonaro, o tema não será tratado, afirmou um líder no Congresso.
O máximo que pode acontecer, diz o líder, é aprovar a PEC emergencial, que traz gatilhos de controle de gastos caso a relação entre receitas e despesas esteja próxima de 100%. Vale lembrar que governo não conseguiu fechar acordo para votar a PEC em 2020 e fracassou também numa tentativa de incluir esses gatilhos em um projeto da Câmara no apagar das luzes do ano legislativo.
‘Morto Politicamente’
Outra proposta que não passa de jeito nenhum é o imposto digital que Guedes quer criar para desonerar a folha de pagamento das empresas. O assunto, segundo o líder no Congresso, está morto politicamente. Ainda assim, Guedes deve insistir na ideia -- como fez com o regime de capitalização na reforma da Previdência -- até o final.
Saldão
A Economia voltou a ser alvo de ataques para dar maior espaço ao centrão dentro do governo. Uma ideia que voltou à mesa é recriar o Ministério da Previdência e Trabalho. Guedes não topa, ao menos por enquanto. Em audiência pública na semana passada, o ministro disse que a ação coordenada da equipe econômica para combater a pandemia só foi possível graças a uma centralização de ministérios em suas mãos.