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Os ecos políticos da condenação de Lula por Moro

A estratégia de Lula, do PT e de seus adversários para tirar proveito da decisão de Moro de condenar o ex-presidente a 9 anos e meio de prisão

Lula: aliados e adversários estão convencidos que quem criar a melhor narrativa sobre os fatos sairá vencedor (Lula/Facebook/Divulgação)
GK

Gian Kojikovski

Publicado em 12 de julho de 2017 às 18h13.

Última atualização em 12 de julho de 2017 às 18h50.

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve intensificar o embate entre direita e esquerda com vistas à eleição de 2018. Mesmo envolvido em escândalos, Lula era, vale lembrar, 30% das intenções de voto para 2018. Se as denúncias não só não o tiraram do páreo, como podem até ter fortalecido seu discurso, como fica o candidato Lula condenado em primeira instância? Uma coisa é certa: seus aliados e seus adversários estão convencidos que quem criar a melhor narrativa sobre os fatos sairá vencedor.

De um lado, a esquerda deverá fortalecer a ideia de que Lula sofre uma perseguição política por parte da Justiça, especialmente do juiz Sergio Moro , responsável pela sua condenação a 9 anos e 6 meses de prisão nesta quarta-feira. Dessa forma, o discurso seria uma tentativa de criar simpatia com o eleitorado de forma que, mesmo que o ex-presidente seja condenado em segunda instância e não possa ser candidato, outro nome do mesmo campo político se capitalize politicamente para assumir seu lugar. Não seria o primeiro “poste” eleito com o capital eleitoral do ex-presidente.

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A tarefa, claro, é pra lá de complexa. No momento, para seus aliados, o mais importante é demarcar o território. A presidente do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Hoffmann (PR), disse que a condenação do ex-presidente por Moro é uma decisão "eminentemente política". O ex-senador Eduardo Suplicy escreveu em letras maiúsculas que Lula foi condenado sem provas.

Outro expoente petista, o senador Lindbergh Farias disse que o partido vai procurar órgãos internacionais para “denunciar” a perseguição. “Não vamos aceitar um processo eleitoral sem Lula. É fraude, é uma farsa, vamos denunciar internacionalmente [...] a Justiça brasileira sempre jogou do lado da elite, e sempre foi muito dura com os movimentos sociais”, afirmou. O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini, reforçou o discurso. "Moro foi quem condenou, quem investigou, quem denunciou e julgou", disse.

Até aqui, o discurso de perseguição vinha ajudando a fortalecer o ex-presidente – em pouco mais de um ano, ele subiu de 17% para 30% das intenções de voto. Para o professor de Ética e Filosofia na UNICAMP, Roberto Romano, a partir de hoje se intensifica a corrida pela persuasão do eleitor. Dessa forma, considerando que 17% seria o chão para Lula – já que atingiu esse patamar no pior momento para o PT, logo após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff –, esses 13% estão em jogo para esquerda e direita, Lula sendo candidato ou não.

“Essa parcela é um território a ser conquistado por um lado ou por outro. Dada a situação de descrédito de todos os políticos, é claro que quem for mais eficaz nesse convencimento vai ganhar mais gente para 2018”, diz Romano.

Os adversários do petista vão tentar bater o máximo possível na tecla da corrupção para que essa imagem cole ao ex-presidente – é o primeiro ex-presidente a ser condenado na Justiça pelo crime. “Claro que essa condenação vai prejudicar a esquerda [nas próximas eleições]. Hoje o Lula reconhecidamente culpado por corrupção e pelo espaço de tempo que temos, já é possível avaliar que dificilmente poderá concorrer às eleições de 2018 porque será condenado em segunda instância”, diz o líder do Democratas na Câmara, deputado Efraim Filho.

Do mesmo partido, o senador Ronaldo Caiado (GO) exaltou a condenação. “Justiça sendo feita contra um criminoso que tantos prejuízos trouxe ao Brasil com seu projeto de poder”, disse. O risco deste discurso é trazer a corrupção para o centro da arena política, com expoentes importantes de outros partidos, como o senador tucano Aécio Neves, também envolvidos em escândalos. “Se o eleitor mantiver a imagem de que é todo mundo igual, o Lula continua no páreo”, diz um analista político.

E Temer?

Para o presidente Michel Temer, a condenação veio em boa hora porque tira um pouco dos holofotes de cima de seus problemas. Isso não quer dizer que a folga será duradoura, muito menos eficiente para impedir seu afastamento do cargo nas próximas semanas. “A condenação é boa para o PMDB, pois promove um desvio de foco do presidente Temer no momento”, afirma Renato Meirelles, fundador da empresa de pesquisas Locomotiva.

Caso Temer seja absolvido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e mais tarde no plenário da Câmara, a população pode interpretar o momento como uma situação onde o sistema foi seletivo – mesmo que se tratem de decisões tomadas por órgãos diferentes, o Judiciário e o Legislativo. Para Eloísa Machado, professora da faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, trata-se da concretização do áudio em que Romero Jucá definia o impeachment como uma operação para “estancar a sangria”. Nesse cenário, a esquerda sai fortalecida, porque na atual crise de perspectiva política da população, Lula é a última memória da população de um presidente efetivamente melhorou a vida do povo.

“Se, por um milagre, o presidente Temer sair incólume, qual vai ser o discurso geral da população? ‘Todos os políticos são corruptos e se safam, então por que o Lula foi condenado?’”. Isso pode ser bom para a esquerda porque refletiria esse discurso de perseguição. E o ex-presidente sabe se movimentar e tem essa capacidade de se apresentar como vítima”, diz Romano.

Em condições normais, um ex-presidente condenado por corrupção perderia força política a ponto de ser carta fora do baralho para as próximas eleições. Mas o Brasil de 2017, definitivamente, é um caso à parte.

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