Os 13 maiores barracos na Câmara dos Deputados em 2015
Casos de ontem no Conselho de Ética e do dia 8 no plenário não são isolados
Rita Azevedo
Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 05h00.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h24.
São Paulo – Foi uma semana para ser esquecida na Câmara dos Deputados . Com postura digna de programas de TV por parte dos parlamentares, o barraco comeu solto no Conselho de Ética e durante a votação de chapas para a comissão que analisará o parecer do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O protelamento de votações no processo de cassação do presidente da casa, Eduardo Cunha ( PMDB ), causou conflito a tapas entre os deputados Zé Geraldo ( PT ) e Wellington Roberto (PR). Ambos tiveram de ser contidos para não chegarem às vias de fato. Dois dias antes, durante a votação para a Comissão Especial do impeachment, parlamentares da base aliada tentaram impedir a entrada de deputados para as cabines de urnas eletrônicas, onde seria escolhida secretamente a chapa para analisar o processo aceito por Cunha. O resultado: empurra-empurra e discussão protagonizados por Paulinho da Força (SD), além de urnas quebradas pelo deputado governista Afonso Florence (PT), segundo flagra do portal G1. Mais deprimente, porém, é constatar que não são casos isolados. EXAME.com levantou 13 verdadeiros barracos que movimentaram a Câmara em 2015 — mais que um por mês. Nada de bastidores, todos em momentos públicos. Veja a lista nos slides e relembre caso a caso.
Mendonça Filho ( DEM ) começou o ano legislativo provocando polêmicas na Casa. Com um Pinóquio de madeira nas mãos, o parlamentar subiu a tribuna e disse que o boneco era o mascote da gestão de Dilma Rousseff. “Infelizmente, a marca do atual governo é a mentira”, disse. “O governo que aumentou os juros, a gasolina, o preço da energia e traiu a classe trabalhadora. Aqui está o mascote da mentira do Palácio do Planalto”.
Em primeira sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras , o presidente do grupo, Hugo Motta ( PMDB ), anunciou que criaria sub-relatorias para dividir os trabalhos de investigação sem consultar o plenário. A medida tiraria poder do então relator Luiz Sérgio ( PT ). Durante protestos de deputados do partido e do PSOL , o deputado Edmilson Rodrigues (PSOL) chegou a se levantar aos berros para chamar Motta, de 25 anos, de “moleque”. “Na minha terra, de onde eu venho, homem não me grita”, respondeu aos berros o presidente antes de seguir.
Em discurso na tribuna da Câmara, o deputado Bruno Araújo ( PSDB ) levou uma panela para criticar o governo de Dilma . “Sabe por que a população brasileira bate no seu ‘panelaço’? Uitliza esse utensílio porque vê Pedro Barusco vir aqui hoje dizer que roubava dinheiro na Petrobras, ficava com um terço e a outra parte era distribuída com diretor do PT e com o Partido dos Trabalhadores”, disse. No final da fala, o deputado bateu na panela como “uma homenagem ao povo brasileiro”.
Em março, o ex-ministro da educação Cid Gomes (então PROS, hoje PDT) foi convocado pela Câmara para dar explicações sobre uma declaração dada durante uma reunião em uma universidade. Na ocasião, Gomes afirmou que a Casa tinha de 300 a 400 parlamentares que “achacam”. No plenário, Gomes subiu o tom e fez um apelo aos deputados "oportunistas" — que detêm cargos na administração federal, mas não dão apoio ao governo no Congresso — para que "larguem o osso, saiam do governo". Logo após o depoimento, Cunha e o PMDB ameaçaram deixar o governo caso Gomes não fosse demitido. A saída do deputado — atribuída publicamente a ele mesmo — foi anunciada por Cunha antes mesmo de ter sido oficializada pelo governo.
Uma discussão sobre a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos rendeu confusão na Casa. Os deputados Laerte Bessa (PR) e Alessando Molon (então PT, hoje Rede) discutiram sobre a presença de manifestantes que gritavam “não à redução”. Em outro momento, o deputado Delegado Eder Moura (PSD) discutiu com estudantes contrários à proposta de redução. Com o dedo em riste, o parlamentar gritava: “Quero bandido na cadeia!”
Em abril, deputados da oposição armaram uma recepção nada agradável para o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto , que iria depor na CPI da Petrobras . Logo após sua entrada na sala onde o depoimento seria colhido, um homem abriu uma mochila de onde saíram cinco ratos. A cena provocou tumulto e discussão entre parlamentares. O servidor Márcio Martins de Oliveira foi identificado posteriormente como o responsável pela ação e exonerado do cargo.
Em maio, a votação de um dos pontos do ajuste fiscal de Dilma — que endurecia as regras de concessão de auxílio doença e pensão por morte — foi marcada por protestos da oposição. Teve de tudo: de bate-boca dos deputados à cantoria de uma adaptação de versos de Vou Festejar, de Beth Carvalho. “PT pagou com traição / A quem sempre lhe deu a mão”, cantavam parlamentares. Para fechar com chave de ouro, em meio à confusão, manifestantes da Força Sindical abaixaram as calças e fizeram um “bundalelê”.
Vários “Pixulecos” — nome dado ao boneco inflável do ex-presidente Lula vestido de presidiário — foram distribuídos entre os parlamentares em setembro. Ao ver o boneco nas mãos de Eduardo Bolsonaro (PP), Ságuas Moraes (PT) tentou bater no Pixuleco. Os seguranças da Câmara precisaram interferir na confusão.
A primeira vez que o impedimento da presidente Dilma Rousseff entrou oficialmente na pauta da Câmara foi com o questionamento de deputados da oposição sobre o rito a ser seguido após a definição do presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB), sobre o pedido protocolado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr, e Janaína Paschoal. A atitude enfureceu os governistas, resultando em intenso bate-boca no plenário. A discussão é a conhecida: enquanto oposicionistas procuravam motivo para convencer a abertura do processo, governistas argumentavam que não havia base jurídica para tal. Foram três horas de discussão acalorada. "A oposição quer de qualquer jeito cassar o mandato de uma mulher limpa", disse o líder do governo José Guimarães. "Não cutuquem a onça com vara curta. Pensem duas vezes. Não é como ameaça, mas temos capacidade de mobilização." Foi durante seu discurso, na parte baixa da Câmara, que Jair Bolsonaro (PP) e Orlando Silva (PcdoB) trocaram ofensas e tiveram que ser contidos por colegas.
Em outubro, durante uma discussão sobre desarmamento no Plenário da Câmara, João Rodrigues (PSD) e Jean Wyllys (PSOL) protagonizaram um bate-boca daqueles. A cena começou quando Rodrigues chamou Wyllys de “escória da política do país", ironizou a trajetória do parlamentar do PSOL e o acusou de ter chamado de bandidos os deputados favoráveis à revogação do Estatuto do Desarmamento. Depois disso, Wyllys pediu a palavra e rebateu as acusações, chamando Rodrigues de “fascista” e de “ladrão do dinheiro público”. O parlamentar aproveitou o momento e lembrou que o deputado do PSD foi flagrado em maio deste ano assistindo um vídeo pornô durante votação na Casa. “Qualquer programa de televisão é mais decente que deputado em vez de honrar o voto e o dinheiro público fica usando a sessão plenária para assistir filme pornô”, disse Wyllys. Duas semanas depois, o PSD protocolou uma representação com o pedido de cassação do mandato do deputado Jean Wyllys (PSOL).
Em novembro, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB), tomou um “banho” de dólares falsos. Cunha foi surpreendido por um manifestante no momento em que concedia uma entrevista coletiva à imprensa. Nas notas, a imagem de Benjamin Franklin foi substituída pela do parlamentar. "Receba sua encomenda da Suíça, Cunha", disse Tiago Ferreira, ligado ao movimento Levante Popular da Juventude.
O clima de tensão se instaurou logo cedo na votação para a Comissão Especial do impeachment. Em manobra de Eduardo Cunha (PMDB), ficou definido que a votação entre as duas chapas concorrentes seria secreta. Temendo traições e criticando a abordagem do presidente da Câmara, parlamentares da base aliada tentaram impedir a entrada de deputados para as cabines de urnas eletrônicas. Oposicionistas tentaram forçar a entrada, houve empurra-empurra e berreiro, com destaque para Paulinho da Força (SD) que se desentendeu com Maria do Rosário (PT). O deputado governista Afonso Florence (PT) foi flagrado pelo portal G1 quebrando urna eletrônica durante a confusão. Duas ficaram inutilizáveis, mas a votação seguiu.
No episódio da última quinta-feira, a sessão já começou tensa depois do sexto protelamento da votação do processo de cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB). Logo de início houve troca de acusações entre parlamentares favoráveis e contrários ao presidente da Câmara. Foi ao dizerem que a "turma do Cunha" gostava de tumultuar, que Zé Geraldo e Wellington Roberto partiram para o tap a e chegaram a ser contidos por colegas e separados pelos seguranças. A situação foi criticada pelo presidente da Comissão, o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA). "Aqui jamais poderá ser transformado num ringue. Deve ser um local de conversa e diálogo."
Mais lidas
Mais de Brasil
Após jovem baleada, Lewandowski quer acelerar regulamentação sobre uso da força por policiaisGovernadores avaliam ir ao STF contra decreto de uso de força policialQueda de ponte: dois corpos são encontrados no Rio Tocantins após início de buscas subaquáticasChuvas intensas atingem Sudeste e Centro-Norte do país nesta quinta; veja previsão do tempo