Orçamento secreto: Congresso aprova projeto que limita emendas de relator
Texto define regras para execução das emendas de relator e cria um limite de valor para esse tipo de repasse
Alessandra Azevedo
Publicado em 29 de novembro de 2021 às 19h43.
Última atualização em 29 de novembro de 2021 às 21h35.
Em sessão conjunta do Congresso , deputados e senadores aprovaram nesta segunda-feira, 29, o projeto de resolução que busca dar mais transparência às emendas de relator, chamadas também de “orçamento secreto”, ao criar um limite para esses repasses. O texto não obriga a divulgação dos nomes dos parlamentares que já foram beneficiados pelos recursos, como pediu o Supremo Tribunal Federal (STF).
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Na Câmara, o placar foi de 268 votos a favor, 31 contrários e uma abstenção. No Senado, 34 foram a favor e 32 contra. As sessões conjuntas do Congresso têm sido feitas de forma dividida desde o início da pandemia de covid-19: primeiro, votam os deputados; em seguida, os senadores. A matéria vai à promulgação.
Relatada pelo senador Marcelo Castro (MDB-PI), a proposta limita o valor das emendas de relator, que não poderão ultrapassar a soma das emendas individuais e de bancada. Os recursos poderão ser usados apenas em políticas públicas previstas em parecer preliminar da lei orçamentária.
Em 2021, foram destinados 9,6 bilhões de reais em emendas individuais e 7,3 bilhões de reais em emendas de bancada. Ou seja, se o limite valesse já neste ano, as emendas de relator não poderiam ultrapassar 16,9 bilhões de reais, valor que corresponde ao que foi designado a essas verbas.
O texto também diz que as emendas terão ampla divulgação. O parecer diz que as solicitações podem ser feitas por "parlamentares, agentes públicos ou da sociedade civil". Os pedidos serão publicados "individualmente" e disponibilizados em relatório no site da Comissão Mista de Orçamento (CMO).
As novas regras valerão apenas depois da publicação do projeto -- ou seja, para as emendas que ainda não foram pagas. As que já foram executadas não serão rastreadas e os nomes de quem as indicou continuarão ocultos. A cúpula do Legislativo afirmou na semana passada que não tornaria públicos os nomes de parlamentares que já direcionaram emendas a estados e municípios.
O texto também não trata da distribuição igualitária das emendas, como acontece com emendas individuais. Técnicos do Congresso apontam que o parecer, ao não tratar da isonomia na distribuição das emendas, pode manter o uso político das emendas de relator.
O projeto vem em resposta a manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF), que, no último dia 10, votou por manter a suspensão da execução das emendas de relator, decidida por liminar da ministra Rosa Weber. A Corte cobrou mais transparência e acesso público do destino dos recursos.
Atualmente, as emendas de relator são liberadas informalmente, sem que os parlamentares que indicaram o gasto sejam identificados, o que gera críticas e acusações de que o dinheiro tem sido usado como moeda de troca pelo governo em votações. Não há limite para o valor dessas emendas.
Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), propuseram o projeto na última quinta-feira, 25. Emato conjunto, eles garantiram dar mais transparência às emendas de relator, por medidas como limitação dos valores e definição das políticas públicas que podem receber as verbas. A expectativa é que,com a aprovação do projeto, o STF libere a execução das emendas.