Renato Feder é autor de um livro em que defende a extinção do MEC e a privatização da rede de ensino no Brasil (Renato Feder/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de julho de 2020 às 12h21.
Última atualização em 4 de julho de 2020 às 13h04.
Em mais um dia de tensão política em torno do Ministério da Educação (MEC), o presidente Jair Bolsonaro convidou o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, para chefiar a pasta. O anúncio oficial, porém, não foi feito ontem após pressões contrárias de setores ligados ao governo. Feder confirmou o convite a amigos e acabou não sendo nomeado para o cargo. Olavistas, militares e evangélicos criticaram fortemente a indicação. Fontes ouvidas pelo Estadão afirmam que o presidente pretende analisar as repercussões antes da decisão final.
Nas primeiras horas da manhã, alguns dos principais auxiliares de Bolsonaro confirmaram o convite a Feder e que ele havia aceitado. Logo em seguida, começou a resistência de vários grupos, o que se tornou um dos temas mais comentados na rede bolsonarista, com também muita pressão sobre o Planalto. À tarde fontes já diziam que Bolsonaro poderia desistir de Feder. Segundo o Estadão apurou, o presidente teria dito que só anunciaria o indicado se ele passasse no "teste da fritura".
Olavistas têm um histórico de sucesso em frituras iniciadas nas redes sociais que terminaram em demissão, como a ex-secretária de Cultura, Regina Duarte, e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). Eles passaram chamar a atenção para uma eventual ligação de Feder com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Também acusavam o governo de ter feito uma escolha para agradar empresários e apaziguar a guerra ideológica.
Por outro lado, aliados do presidente, como a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), davam a boas vindas para o indicado. No twitter, ela disse que "Renato Feder defende a escola e o ensino sem ideologia política" e "é exatamente o q (sic) queremos". O ex-ministro Abraham Weintraub também desejou "sorte e sucesso" ao sucessor.
Evangélicos também pressionaram o Planalto contra Feder, que é judeu. O pastor Silas Malafaia chegou a mandar mensagem para o presidente criticando a decisão. Os militares se disseram surpreendidos com o convite e tentam ainda emplacar um nome ligado a eles, que acreditam ter mais força política. Passaram a divulgar também supostas incoerências no currículo de Feder, que no fim do dia não se comprovaram.
Feder é formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). Seu currículo na plataforma Lattes indicava um "mestrado em andamento", mas a reportagem confirmou com a USP que a pós-graduação foi concluída em 2005.
Bolsonaro se reuniu com Feder antes mesmo de escolha de Carlos Decotelli, que acabou se demitindo por problemas em seu currículo. Mas ele teria preferido alguém mais velho.
Decotelli tem 68 anos e Feder, 42. A doação de R$ 120 mil feita pelo empresário à campanha de Doria para prefeito também teria incomodado o presidente. Na época, Feder era proprietário da Multilaser, uma empresa de tecnologia.
Os opositores reclamam ainda da possível ligação com o Centrão, já que Feder teve o apoio do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), partido do ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. Feder é visto como um empresário que quer fazer carreira na política, mas sem experiência. Também reclamam da aproximação dele com fundações e ONGs e o chamam de "globalista".
Sonho
O paulistano Renato Feder era um empresário bem-sucedido na área de tecnologia quando resolveu mudar de área. Passou a dizer que tinha o sonho de ser secretário de Educação e começou a se preparar para isso. Em 2017, abordou em um evento o então secretário de Educação de São Paulo, José Renato Nalini, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), e pediu um emprego. Nalini se impressionou e deu a ele um cargo de assistente, com salário de R$ 8 mil. A intenção era de que Feder aproximasse a rede estadual de empresários e ONGs. Mas o trabalho não foi bem-sucedido e Feder acabou deixando a secretaria em poucos meses.
Em 2019, suas relações com empresários o levaram a ser indicado para ser secretário no Paraná. Durante a pandemia, o Estado é um dos que têm se destacado, por ter criado rapidamente um sistema de educação a distância bem estruturado com aulas online. Feder é autor de um livro em que defende a extinção do MEC e a privatização da rede de ensino no Brasil. Ao Estadão, ele disse que não acredita mais nessa visão. "Eu não entendia nada de educação e hoje conheço melhor."