Nada dura para sempre, diz Moro admitindo que a Lava Jato vai terminar
Para ele, o que está em jogo não é a operação em si, mas, sim, o combate à corrupção, que, na sua visão, tem de ser tratado como uma questão institucional
Clara Cerioni
Publicado em 11 de outubro de 2019 às 12h07.
Última atualização em 11 de outubro de 2019 às 12h09.
São Paulo — Recorrentemente cotado como potencial candidato à Presidência da República, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro , que ganhou notoriedade por ter sido o juiz de primeira instância da Operação Lava Jato , afirmou nesta sexta-feira (11) em São Paulo, que as "conquistas" da força-tarefa são "boas para aumentar a autoestima do brasileiro".
Moro deu a declaração em discurso para o Fórum de Investimentos Brasil 2019. Ele foi convidado para falar de seu trabalho no governo, voltado especialmente para o combate à criminalidade violenta e à corrupção.
O ministro, não entanto, não deixou de exaltar e defender a Operação Lava Jato, que o alçou à condição de potencial candidato e o fez ser convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
"A não ser que você tenha ido para outro planeta nos últimos cinco anos, a Lava Jato expôs as entranhas da corrupção, que já existia e estava espraiada", disse.
"A imprensa às vezes fala em derrotas da Lava Jato, mas na verdade as conquistas anticorrupção são da democracia. É o império do direito e isso é bom para todo mundo, para os negócios e para a autoestima dos brasileiros, que querem viver num país sem corrupção", afirmou.
Moro lembrou que foi convidado por Bolsonaro para assumir o cargo de ministro no dia 1º de novembro, dias depois da vitória do presidente no segundo turno.
"Ao assumir o cargo, o objetivo foi consolidar avanço no combate à corrupção e à insegurança", disse. "O diagnóstico foi de que havia demanda por melhorias nesses quadros", afirmou.
Fim da Lava Jato
Moro admitiu que a Lava Jato acabará em algum momento, porque tem "começo, meio e fim" e "nada dura para sempre". Para ele, o que está em jogo não é a operação em si, mas, sim, o combate à corrupção como um todo, que, na sua visão, tem de ser tratado como uma questão institucional, uma missão do país, e não de uma de uma força-tarefa. "Meu trabalho na Lava Jato acabou, mas permaneço firme nas minhas crenças", disse.
A declaração de Moro foi dada no fórum, após o tema ser levantado por um participante da plateia. Moro falava sobre iniciativa para o combate aos crimes cibernéticos, quando uma pessoa perguntou em voz alta: "e a Lava Jato?".
Moro acenou para que a pessoa aguardasse um pouco e, alguns minutos depois, o ministro começou a falar sobre a operação, embora já tivesse feito alguns comentários sobre o tema durante o seu discurso.
"Existem grandes desafios que são permanentes, tanto no avanço contra a corrupção como contra a criminalidade. (Podem achar) que não é tarefa do governo federal, que cabe à Lava Jato, mas temos de avançar de forma institucional, como País, contra a corrupção, contra a criminalidade, que ajuda no ambiente de negócios", afirmou o ministro.
Moro, então, começou a discorrer sobre direitos humanos, mas, de repente, voltou a falar sobre a Lava Jato, ao afirmar que "precisamos resgatar a autoestima dos brasileiros".
Ele já havia dito no seu discurso que as conquistas da Lava Jato foram boas para resgatar a autoestima do brasileiro. Dessa vez, ele contou de uma pessoa que o encontrou na rua e disse que estava desiludido, mas que a Lava Jato o fez recuperar sua autoestima.
"O que está em jogo não é a Lava Jato, é uma força-tarefa que tem começo, meio e fim, nada dura para sempre, mas não podemos retroceder nesses avanços, virar de costas e incorporar certos discursos, que não fazem sentido", afirmou.
"Há analistas que dizem que a Lava Jato é culpada por problemas econômicos. Ah, pelo amor de Deus. É a velha história de culpar o policial por descobrir o cadáver do assassinato", disse.
Apesar de ter exaltado a Lava Jato, Moro ressaltou em seguida que seu trabalho na operação "acabou", mas que ele permanece "firme nas crenças que tinha no passado".
"Precisamos avançar e não retroceder, é um grande desafio, que não pode ser encarado só quando o governo age sozinho, precisamos de apoio de outras instituições e igualmente da sociedade", disse. "Este é o meu compromisso, estaremos lá sempre, é meu lema no Ministério", disse o ministro, aplaudido pela plateia.