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Motoristas de aplicativo estão trabalhando mais horas e ganhando menos, conclui estudo do Ipea

Pesquisa realizada a partir de dados do IBGE, analisou ainda queda na contribuição previdenciária dos profissionais que atuam via plataformas digitais

Motoristas de aplicativos: o número de motoristas atuando de forma autônoma no transporte de passageiros passou de 400 mil em 2012 para 1 milhão em 2022 (Germano Lüders/Exame)

Motoristas de aplicativos: o número de motoristas atuando de forma autônoma no transporte de passageiros passou de 400 mil em 2012 para 1 milhão em 2022 (Germano Lüders/Exame)

Agência o Globo
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Publicado em 21 de maio de 2024 às 21h36.

Enquanto o número de brasileiros que têm plataformas digitais como principal fonte de renda cresce a cada ano, motoristas e entregadores de aplicativos estão ganhando menos e enfrentando jornadas de trabalho mais longas que os demais trabalhadores, aponta um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

Para se ter uma ideia, o número de motoristas atuando de forma autônoma no transporte de passageiros passou de 400 mil em 2012 para 1 milhão em 2022. Nos mesmos dez anos, o rendimento médio destes profissionais caiu de R$ 3.100 para R$ 2.400, ainda que estejam hoje trabalhando mais horas.

A análise consta do estudo "Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil", parte da 77ª edição do Boletim de Mercado de Trabalho, apresentado nesta terça-feira, 21, pelo Ipea.

A partir de dados da Pnad Contínua, do IBGE – que no ano passado traçou de forma inédita um retrato dos trabalhadores prestam serviço por aplicativo –, os pesquisadores Sandro Sacchet de Carvalho e Mauro Oddo Nogueira analisaram em que medida o crescimento da chamada "plataformização" do trabalho levou a um precarização da rotina de motoristas de transporte de passageiros e entregadores.

Renda média dos motoristas de aplicativo

A análise apontou que, no pico da série histórica, a renda dos motoristas de aplicativo alcançou cerca de R$ 3.100, mas caiu a R$ 2.600 em 2017 e depois a pouco menos de R$ 2.200 em 2021. Houve melhora em 2022, dado mais recente da pesquisa, chegando a R$ 2.400.

O mesmo aconteceu entre os entregadores. É maior o número de entregadores "plataformizáveis" e isso está associado a uma redução da renda média, segundo o pesquisadores.

Em 2015, quando havia apenas 56 mil entregadores na atividade de malote e entregas, a renda média era de R$ 2.250,00. Seis anos depois, em 2021, quando o país contabilizava 366 mil entregadores, a renda média recuou para R$ 1.650,00. Em 2022, houve uma melhora, para cerca de R$ 1.800.

Enquanto a renda encolhe, a jornada destes profissionais aumenta ano a ano. Em 2012 21,8% dos motoristas de passageiros autônomos diziam trabalhar de 49 a 60 horas semanais, em 2022 a fatia aumentou para 27,3%.

Já no caso dos entregadores, somente 2,6% diziam trabalhar mais de 60 horas por semana em 2012. Dez anos depois, eram 8,6%.

— Essa elevação de jornadas acima de 45 horas a partir de 2015 vai contra toda a tendência do mercado de trabalho brasileiro que está de fato diminuindo as horas excessivas e se encontrando entre 40 e 44 horas semanais — observou Sacchet de Carvalho. — A expansão dos trabalhadores por meio de plataformas representa claramente um processo de precarização do trabalho representando uma menor renda, menor contribuição previdenciária e maiores jornadas.

Contribuição previdenciária

A contribuição previdenciária de motoristas também vai contra a tendência dos demais trabalhadores, tanto os sem carteira quanto os que trabalham por conta própria: enquanto estes passaram a contribuir mais ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), entre os motoristas autônomos o patamar caiu de 47,8% em 2015 para 24,8% em 2023.

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